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UPA

A história brasileira documenta o convívio diário com contrastes e antíteses, o que arrasta o brasileiro a verdadeiros espantos. A imprensa registrou nesta semana que, no pri­meiro trimestre de 2020, 40.000 brasileiros foram internados para atendimento hospitalar por falta de tratamento de água e esgoto. A cidade de Ribeirão Preto, no passado, instalou o seu sistema de tratamento de água e esgoto, em contradição com a maioria da população brasileira. Um médico da USP, também no passado, revelou-me que a política aqui aplicada salvou mais vidas do que a vacinação obrigatória.

É relevante registrar que tal ambiente, já faz muito tempo, surgiu com as pesquisas desenvolvidas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Após 1964, aquele ambiente universitário converteu-se num centro de debates transformadores da realidade brasilei­ra. Alguns professores e vários alunos foram presos, mas, com certeza, salvaram muitas vidas.

Tive o privilégio de conviver com os médicos Antônio Sérgio da Silva Arouca, Frederico Graef, Isac Jorge e Luiz Carlos Raia que decisivamente revelaram a genética da história na raiz do seu conhecimento científico. Honra saber que a cientista Ester Sabino, de uma família de Ribeirão Preto, foi a primeira cientista a atacar objetivamente o vírus que hoje ataca o mundo.

Com eles ouvi pela primeira vez a necessidade de ser instalado no Brasil um sistema de atendimento popular. Os críticos comba­tiam argumentando com a existência do Pronto Socorro.

Aquela geração sustentava a necessidade de ser adotada uma regra pétrea assim fundada: “onde houver serviço médi­co com aplicação de verba pública, o atendimento tem de ser universal”. Assim surgiu o SUS o maior ou um dos maiores serviços de saúde do mundo. Eu ainda me recordo do então Deputado Arouca, na Câmara dos Deputados, lançando a ideia do SUS.

Enfrentamos agora uma pandemia. A primeira da nossa geração. É possível estancá-la com o serviço médico particu­lar? Claro que sim! No entanto, somente poderá ser elimi­nada com a aplicação de uma enorme verba pública sempre com destinação universal. Assim surgiu a UPA, a Unidade de Pronto Atendimento.

Tive a oportunidade de acompanhar o atendimento minis­trado pelas Unidades de Pronto Atendimento. O atendimento tem sido extraordinariamente bom. Não se circunscreve ape­nas ao pronto atendimento. Vai muito mais longe. As UPAs não apenas dispensam o pronto atendimento, estendendo ainda a sua missão para o “pronto tratamento”.

É possível indagar se a atuação do atendimento médico quanto à epidemia, pronto e eficaz, ocorre apenas na tão bra­va e leal cidade de Ribeirão Preto?

Durante a Segunda Grande Guerra Mundial (1938-1945) o Brasil perdeu cerca de 500 soldados na nossa heroica luta contra o fascismo. Ao revés, na batalha contra a pandemia, até hoje já per­demos quase 40.000 vidas. Ganhamos a guerra, perdemos a paz.

Há antítese? Qual a sua causa? Os conflitos disparados contra o serviço médico atingem brutalmente a cidadania. É o que afirma sem refutação o plano aritmético.

Com toda certeza, as UPAs, entre outras entidades, demons­tram que a ciência médica tem condições de vencer a guerra em favor da humanidade. Há uma política lançada contra ela inexpli­cavelmente. Os médicos insistem em salvar mais vidas.

Os brasileiros que venceram a Guerra Mundial e estão perdendo a batalha em favor da humanidade: se um homem morre, a humanidade inteira é lançada no inferno.

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