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Bauer e o acidente

Por volta de 1953, o São Paulo Futebol Clube contribuía vigoro­samente para a formação da defesa da Seleção Brasileira. Era consti­tuída quase sempre pelos seguintes jogadores: Poy, Savério e Mauro, Bauer Rui e Noronha. O Bauer era o esteio de toda a equipe.

Alguns anos antes, o Botafogo havia perdido a sua mais impor­tante oportunidade para ingressar na Primeira Divisão, tudo porque havia perdido o pênalti chutado pelo Américo, que acabou se con­vertendo em música.

Mesmo assim o Botafogo, mantendo uma equipe invejável, o continuou disputando a segunda divisão e nos intervalos do campe­onato contratava a realização de um jogo amistoso com alguns dos timaços de São Paulo ou do Rio de Janeiro.

Na região, a grande adversária era a Francana que era formada por dois insuperáveis craques, Tonho e Luís Rosa, como também tinha um ponta esquerda magrinho e veloz como se movimentado por uma carga de bateria elétrica. Chamava-se Baltazar, apelido emprestado pelo grande ídolo do Corinthians, até então o melhor cabeceador do universo.

Num dia histórico, o Baltazar da Francana veio jogar para o Botafogo, num amistoso com o glorioso São Paulo Futebol Clube, a ser disputado no “Luís Pereira”.

Registre-se que, naquela época, o Botafogo e o Comercial faziam ótima figura no campeonato porque ainda delirantemente não tinham, cada um deles, construído dois majestosos estádios, maiores do que os campos mantidos pelo principais clube do Brasil, afundando-se em dívida. Os nossos dois estádios levaram os novos valorosos times a descer as escadas das suas categorias.

Vamos ao famoso jogo. Vamos, não. Fomos ao jogo, o meu amigo Francisco de Luca e eu.
Sentamos atrás do gol do fundo do campo. O “Luís Pereira” estava lotado. Não sei em que momento o magricela do Baltazar recebeu a bola e saiu em disparada na direção da defesa do São Paulo.

O Bauer, um atleta enorme, saiu em sua direção e os dois acaba­ram rolando pelo gramado. O Baltazar imediatamente se levantou. O Bauer ficou no chão, dando sinais de muita dor, sob as vaias da torcida, liderada pelo torcedor símbolo, Mário Ferramenta. Todos acreditavam tratar-se de fingimento. Como um gigante do tamanho do Bauer possa ser ferido pelo magriça do Baltazar? Engano, tratava­-se de fratura exposta.

O Noronha aproximou-se do alambrado e nos avisou que não se tratava de fingimento, o ferimento era muito grave. Gravíssimo. E era mesmo. O Bauer foi levado às pressas para a Santa Casa, onde foi imediatamente atendido pelos extraordinários médicos Luís Tarquí­nio e Penteado Mendonça.

A imprensa nacional veiculou a notícia com letras pessimistas que iam do afastamento do Bauer da Seleção Brasileira, como até mesmo profetizando que ele acabaria por perder a perna. Nem uma coisa e nem outra ocorreram. A medicina ganhou a partida disputada fora do campo, melhor dizendo, na esfera da Santa Casa. O Bauer foi atendido e bem atendido em Ribeirão Preto, voltando a desenvolver sua arte. O São Paulo Futebol Clube voltou a ser o São Paulo Futebol Clube. E o Botafogo permaneceu mantendo o grande cenário de sua história.

É desnecessário dizer que os doutores Luís Tarquínio e Penteado Mendonça rechaçaram as profecias pessimistas, abrindo espaço para que Bauer voltasse a jogar demonstrando que a ciência médica, com certeza, poderia driblar os insucessos, marcando mais de um gol, num campeo­nato, ausente de torcida, travado entre a vida contra a dor e a morte.

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