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Neuropsicometria Cognitiva (19): Covid-19 e Ansiedade à Saúde

Ansiedade à Saúde refere-se à tendência de tornar-se alarmado com estímulos relacio­nados à saúde, incluindo, mas não limitando a, doenças infecciosas, variando num contí­nuo de leve a severo e podendo ser tanto um estado quanto um traço. Quando traço, é uma tendência relativamente duradoura. Algumas pessoas têm níveis muito baixos de ansiedade à saúde. E sua falta de preocupação sobre os riscos à saúde pode levar a comportamentos mal adaptativos, como, por exemplo, negli­genciando tomar as preocupações necessárias com sua própria saúde. Preocupação excessivamente baixa com a saúde pode ser associada com um viés de otimismo não realista. Pessoas que não se preocupam com infecções tendem a negligenciar as diretri­zes recomendadas para se ter bons comportamentos higiênicos, como lavar as mãos após uso de toaletes, tendendo a ser não aderentes ao distanciamento social.

Por outro lado, Ansiedade à Saúde em nível elevado é caracterizada por uma ansiedade, ou preo­cupação, exageradas sobre a própria saúde. Pessoas com níveis excessivamente elevados de ansiedade à saúde, comparado às pessoas menos ansiosas, tendem a se tornarem excessivamente alarmadas em relação a todos os tipos de ameaças percebidas em relação à mesma, superestimando a probabilidade e a severidade de se tornarem doentes. A percepção de vulnerabilidade podendo, então, contribuir para o desenvolvimento de uma excessiva ansiedade à saúde. Vários fatores cognitivos e comportamentais desempenham papel importante na severidade da ansiedade à saúde. Alguns deles são: más interpreta­ções dos estímulos relacionados à saúde, crenças distorcidas ou mal adaptadas, processos de atenção e de memória, e comportamentos mal adaptativos. Tratemos dos mesmos.

Em relação às más interpretações dos estímulos relacionados à saúde, supõe-se que uma ansiedade excessiva acerca da própria saúde é disparada pelas más interpretações sobre os estímulos relacionados à saúde. Tais estímulos incluem: (1) mudanças corporais ou sensações que podem ou não serem indica­doras de doença como, por exemplo, fadiga ou dores musculares; (2) observações diretas relacionadas à saúde de outras pessoas, como observar terceiros tossindo, ou espirrando, bem como, observando outros tornarem-se preocupados em estarem doentes; e (3) formas mais abstratas de informação relacionadas à saúde, como advertências de um dado médico, conselhos de amigos ou membros da família e informa­ção da mídia social ou massiva, do tipo relatos em jornais sobre doenças específicas.

Em relação às crenças distorcidas ou mal adaptadas, as interpretações dos estímulos relacionados à saúde são influenciadas por processos mnemônicos como relembranças de experiências passadas (minhas dores musculares, no passado, sempre significaram que eu estava ficando doente) e por crenças duradouras (minha rigidez no pescoço é sempre sinal de doença grave). Também experiências aprendidas, como estar hospitalizado quando criança, podem levar algumas pessoas a acreditarem erroneamente que sua saúde é frágil. Assim considerando, pessoas com excessiva Ansiedade à Saúde tendem a acreditar que todas as sen­sações corporais, ou mesmo mudanças corporais, são sinais potenciais de doenças. Em relação aos proces­sos atentivos, estes são fatores cognitivos importantes em modelar a intensidade da ansiedade à saúde. Pes­soas com excessiva Ansiedade à Saúde tendem a ser hipervigilantes às mudanças e sensações corporais, isto é, prestam muita atenção ao próprio corpo, sendo prováveis de perceber benignas preocupações corporais.

Em relação ao enfrentamento mal adaptativo e adaptativo, considera que as interpretações das pes­soas influenciam ou não se elas buscam apenas tratamento, ou tratamento apropriado. Pessoas podem ter crenças errôneas sobre o que vem a ser um tratamento efetivo. Algumas acreditando que elas apenas necessitam de alívio sintomático como, por exemplo, medicações supressoras de tosse, que podem ser ineficientes se a doença subjacente necessitar ser tratada. Em adição, pessoas com alto nível de ansiedade à saúde consideram, algumas vezes, os consultórios médicos mais como fontes de doenças do que como recursos auxiliares para alivio de doenças. Pessoas com excessiva Ansiedade à Saúde, particularmente sobre infecções, tendem a se engajar em comportamentos de segurança mal adaptativos, tais como lavar as mãos excessivamente e buscar, repetidas vezes, a confirmação de seu bom estado de saúde. Pessoas com excessiva Ansiedade à Saúde também tendem a se engajar a “doctor shoppings”, isto é, a busca de consultas com variados médicos, de modo a garantir a si próprias que não estão infectadas durante uma pandemia. Obviamente, tais comportamentos sobrecarregam o sistema de saúde, aumentando a proba­bilidade de que o paciente possa receber orientações médicas conflitantes ou confusas.

Finalmente, tratar Ansiedade à Saúde envolve manejar as crenças disfuncionais e os comportamentos mal adaptati­vos. Nestes casos, qualquer manejo envolve um processo de redução de sofrimentos das pessoas com Ansiedade à Saúde, pois algumas delas, com baixo nível desse transtorno, podem fracassar em se engajarem em medidas básicas de higiene, ou de simplesmente lavar as mãos, por não perceberem que sua saúde se encontra em risco, enquanto outras, ao contrário, engajam-se em comportamentos mal adaptativos, como evitação excessiva, sendo mais prováveis de se engajarem em busca de atendimento médico persistente, repetitivo e desnecessário.

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