No Suprematismo, o estilo da pintura raísta preocupava-se com formas espaciais obtidas pelo cruzamento de raios refletidos de vários objetos, e com formas individuadas pelo artista. O raio era representado convencionalmente na superfície por uma linha de cor. Nisto se indica a essência da pintura: combinação de cor, sua saturação, as relações entre as massas de cor, a intensidade do trabalho na superfície. Também, a pintura revela-se como uma impressão fugaz, percebida fora do tempo e no espaço – dando origem a uma sensação que se pode designar como a “quarta dimensão”, a saber, o comprimento, largura e espessura das camadas de cor, consideravam esses como sendo os únicos símbolos de percepção que emergem desta pintura, que é de outra ordem.
Malevich, em seus primeiros trabalhos independentes, que datam de 1908, trazia grandes pinturas em guache sobre temas rurais de camponeses. O Lenhador (Pranchas 86, 90), é um exemplo disso. Já nos Guaches de 1909-10, figuras volumosas, desenhadas em linhas pretas ou azuis difusas, com mãos e pés enormes, são tratadas como elementos de um padrão dinâmico, que enfatiza as características de solidez e monumentalidade dessas figuras. Por adição, o encurtamento de perspectiva, neste contexto, sinalizam-o em direção ao Cubo-Futurismo, que trata da geometrização da figura e a relaciona com o fundo. O trabalho figurativo de Malevich, como, por exemplo, em O Lenhador, lida o tempo todo com figuras humanas, mas só como símbolos da humanidade. Já em trabalhos como a Composição Suprematista, a ordem futura será a de uma cidade onde objetos e sujeitos se exprimem numa única forma.
Por sua vez, o termo Neoplasticismo refere-se ao movimento artístico de vanguarda encabeçado por Piet Mondrian, relacionado à arte abstrata. Defendia total limpeza espacial na pintura, reduzindo-a a seus elementos mais puros e buscando suas características mais próprias. Os artistas deste movimento usavam apenas as cores primárias (vermelho, amarelo, azul) em seu estado máximo de saturação (artificial), assim como o branco e o preto (inexistentes na natureza, o primeiro sendo presença total e o segundo ausência total de luz). Era, claramente, um movimento de arte de pesquisa racionalista, com experimentos essenciais para a arquitetura moderna, assim como para a formulação do que hoje se conhece por design.
Embora visto por muitos como produto da revolta moral contra a violência irracional que assolava a Europa, o Neoplasticismo desfigurou os modos tradicionais de representação, bem como, o idealismo e a austeridade do protestantismo holandês e o viés místico da teosofia, movimento do qual Piet Mondrian era membro. Este movimento, de influência Teosófica, foi fundado por Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) que, crente na concepção do mesmo, alegava ter resolvido o conflito entre espiritualidade e ciência (conflito evidenciado, principalmente, pela teoria da evolução de Darwin) ao aplicar o conceito de evolução a uma escala cósmica — todo o universo estaria evoluindo, não só as espécies, e nós estaríamos vivendo sucessivas encarnações rumo à perfeição. O Neoplasticismo, em sua fase inicial, influenciou fortemente a concepção artística de Piet Mondrian, sendo visto por seus integrantes como mais do que um estilo artístico, possuindo um caráter quase messiânico, sendo uma forma de filosofia e religião. Seus ideais primários eram promover uma síntese místico-racional, uma busca pela ordem, pela harmonia perfeita existente que poderia ser acessível ao homem (e à sociedade) desde que este se subordinasse a ela. Trata-se, portanto, de uma missão de caráter ético-espiritual, a tentativa de alcançar a “beleza universal” citada por Mondrian. Apple Tree in Flower e Broadway Boogie-Woogie podendo ser citadas como exemplos de seu trabalho.
No Brasil, o abstracionismo teve suas primeiras expressões no século XIX. Entre os artistas mais importantes destacam-se Abraham Palatnik, Ivan Serpa, Loio-Pérsio, Luiz Sacilotto, Antônio Bandeira, Manabu Mabe ,Tomie Ohtake (com aniversário de 100 anos em 2013), Lygia Clark e Valdemar Cordeiro. Recentemente, o Jornal da USP, em texto intitulado Novos sentidos para a arte (Especial.1-7 julho de 2013, p.11) apresenta a discussão contemporânea do que faz o artista- autor e o artista-produtor como tentativa de buscar compreender melhor o direcionamento ambicionado pela arte no novo século.