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A verdade nua e crua

A galhofa da semana vai para a videoconferência com o presi­dente, onde um empresário foi flagrado tomando banho. Não, ele não deve ser condenado! Com o grande número de profissionais trabalhando em home office ficou comum a visualização de crianças fazendo estripulias, familiares de pijama e pets roubando a cena durante as intermináveis reuniões e aulas virtuais.

Priorizar seu banho matinal em relação à fala do presidente da república não foi um pecado. Mais ruborescidos ficaram seus colegas ao confessarem que, apesar da relevância do tema, mais uma vez o governo não apresentou medidas objetivas para superação da crise e novamente saíram sem saber como minimizar os impactos econô­micos produzidos pela pandemia.

Depois de instigar os empresários contra o Supremo, o governo federal opta por acirrar a batalha de narrativas contra governadores e prefeitos em relação ao isolamento social e demais medidas apon­tadas como eficazes por especialistas de todo mundo. Novamente renuncia ao protagonismo na coordenação das ações de controle da pandemia e confunde a cadeira da presidência e o palanque.

Talvez alertado sobre eventuais consequências advindas de sua omissão, o presidente da República editou uma contestadíssima Me­dida Provisória interpretada como um salvo conduto para todos os agentes públicos, inclusive seus ministros, ficarem livres de respon­sabilização por atos que podem trazer danos à vida dos brasileiros.

A MP nasceu justamente quando a Controladoria-Geral da União analisa 400 denúncias de supostos desvios de verba pública no combate ao coronavírus e a Polícia Federal faz diversas ações em todo país, o número de mortos e contaminados continua aumentan­do. Nesta semana, depois de passar a França e a Alemanha, já somos o sexto na classificação de mais afetados pela doença.

Com todo esse cenário caótico, ainda existe espaço para o pro­cesso que apura as denúncias de Sérgio Moro ao sair do ministério da justiça. É imensa a expectativa em relação à divulgação integral do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, que poderá esclarecer as contradições entre as declarações do presidente Jair Bolsonaro e os depoimentos dos ministros militares à Polícia Federal.

O tal vídeo pode trazer, ainda, outras revelações importantes, pois dizem que a reunião do primeiro escalão da república foi tensa, mas também com momentos de descontração onde autoridades expressaram seus mais íntimos sentimentos em relação ao legislativo e ao judiciário. A exposição pode deixar muitas pessoas desnudadas.

Voltando ao empresário peladão, em tempos de covid-19 é bom cuidar da higiene pessoal e tomar um bom banho traz inúmeros be­nefícios. Mas, falando sério, o momento político, econômico e social é grave e exige altivez e preparo.

Quanto ao povo? Continua preocupado com o desemprego, os boletos chegando, a perda de familiares e a falta de confiança nos que foram eleitos com o discurso da renovação e das novas práticas e que até agora apresentam mais do mesmo. Espera uma geração de políticos, empresários, gestores e profissionais de todos os setores, que deixem o compadrio, a retórica improdutiva e o populismo barato e assumam a postura de verdadeiros líderes, engajados na resolução dos problemas mais agudos. Quem sabe assim ficaremos livres dos vírus e de almas lavadas?

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