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Covid-19 muda rota, mas não tira judoca do rumo ao ouro em Tóquio

© Cleber Mendes/MPIX/CPB/Direitos reservados

A judoca Alana Maldonado é um dos maiores nomes do esporte paralímpico brasileiro. A atleta é medalhista de prata na Olimpíada Rio-2016 e campeã mundial em 2018 (veja mais detalhes abaixo). A paulista participou de uma live no perfil oficial do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) no Instagram. A judoca paulista falou sobre as mudanças na sua preparação depois que soube do reagendamento dos Jogos de Tóquio (Japão) para o ano que vem, devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19).

“Me pegou, fiquei bem chateada quando recebi a notícia do adiamento dos Jogos Paralímpicos, foram três dias bem tensos”, recordou  Alana. Mas não demorou para a judoca se dar conta da proporção do  problema que a humanidade passa. “É hora de pensar na saúde do próximo e de se cuidar. Torço para que as coisas voltem logo”.

Desde março, a jovem está em Tupã (SP), sua cidade natal, a 500 quilômetros da capital paulista. E não teve outra escolha: precisou adaptar os treinos. “É um momento difícil dada a proporção de tudo. Decidi vir para cá para ter mais espaço dentro de casa. É uma grande adaptação porque não tem o companheiro, a pegada no quimono, a movimentação é diferente. Mas procuro fazer o trabalho técnico com elásticos presos nas janelas e em pilares da casa. Faço algumas entradas de golpes, tudo no elástico. Não posso parar”, contou.

E foi lá no interior que a atleta pôde praticar algo que dificilmente fazia na capital paulista. “Aqui consigo correr, exercício que nunca gostei muito de fazer. Senti a necessidade de fazer algo para suar mesmo. A corrida foi algo que a quarentena me trouxe. Saio bem cedinho, às 6h. Não tem quase ninguém na rua. A intenção é seguir intercalando essas corridas com os treinos, aos fins de semana, quando tudo voltar ao normal”, planeja.

Trajetória

A judoca, de 24 anos descobriu aos 14 anos que tem uma doença degenerativa, chamada Stargardt, uma enfermidade pouco conhecida, adquirida geneticamente, que afeta a retina e causa a perda progressiva da visão. “Tinha perdido 80% da visão. E, aos 20 anos, quando fiz os testes para entrar na seleção brasileira, tinha 13% da visão”, lembra a atleta, que começou no esporte aos 4 anos, influenciada pela avó.

Após o diagnóstico, Alana Maldonado foi enquadrada no judô paralímpico na classe B2. Existem ao todo três classes para deficiência visutal: B1 (cegos totais), B2 (com percepção de vultos) e B3 (com capacidade de definir imagens). A judoca entrou na seleção brasileira em 2015 para começar a colecionar conquistas e escrever seu nome na história no esporte. Os triunfos não demoraram a vir:  bronze no Mundial IBSA, em 2015, na Coreia do Sul;  prata nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto (2015) e de Lima (2019).

Judoca Alana Maldonado/Judo - feminino ate 70 kilos - Brasil x Hungria - Semifinais - Alana / Rio 2016
Alana Maldonado, conquistou a medalha de prata nos Jogos Paralímpicos Rio 2016 – Cleber Mendes/CPB/Direitos Reservados

Para a atleta, as conquistas obtidas em 2016 e 2018 são as mais especiais. No Brasil, na Rio 2016, veio a prata na final contra a mexicana Lenia Alvarez. “Entre outros hobbies, eu estou revendo muitas lutas nessa quarentena. E essa final foi uma das que eu demorei mais para ter coragem de rever. É importante avançar para seguir buscando os nossos sonhos. Sempre temos algo para aprender”, afirma a lutadora da categoria até 70 quilos.

A outra medalha predileta da judoca, em 2018,  trouxe junto a consagração no tatame: o título mundial do judô paralímpico, em Portugal. Foia a  primeira medalha de ouro mundial do Brasil na história da modalidade. “Eu tive uma lesão muito séria a pouco mais de seis meses do torneio. Quase fiquei fora do Mundial. Mas meu corpo foi respondendo a todos os passos do tratamento e consegui lutar. Foi a confirmação de que era possível. O momento mais incrível da minha carreira”, admitiu.

Ciclo dos Jogos de Tóquio

“Depois da Rio 2016,  coloquei duas prioridades nos meus treinamentos. O Mundial de Portugal, que foi atingido. E chegar ao topo do pódio em Tóquio. Este último não mudou. É um sonho que segue muito vivo na minha cabeça.”

Em meio à pandemia de covid-19, que causou o adiamento da Paralimpíada para 2021, a classificação dos atletas ainda depende de algumas competições, também adiadas e que ainda foram remarcadas. Entre elas, o evento-teste, previsto para março; e duas etapas do Grand Prix – Inglaterra, em abril, e Azerbaijão, em maio. “Sou a melhor do ranking na minha categoria há bastante tempo. Estou muito perto de conseguir uma vaga. As sete primeiras do ranking estarão garantidas. Agora tem muito mais tempo, mas sigo confiante”, concluiu.

Edição: Cláudia Soares Rodrigues

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