Agência Estado
Após assistir ao vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, o advogado do ex-ministro Sérgio Moro, Rodrigo Sánchez Rios, afirmou que o material “confirma integralmente” as declarações dadas pelo ex-juiz tanto no anúncio de sua demissão quanto no depoimento prestado à Polícia Federal em 2 de maio.
Em nota, o advogado afirmou ainda que o vídeo “não possui menção a nenhum tema sensível à segurança nacional” e defendeu que a íntegra da gravação seja tornada pública. O registro foi exibido nesta terça (12), a um restrito grupo de pessoas autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, relator do inquérito sobre suposta tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na PF.
A exibição foi realizada no Instituto Nacional de Criminalística da corporação em Brasília, “em ato único” – conforme determinado por Celso de Mello – com participação de Moro, integrantes da Advocacia-Geral da União e procuradores que acompanham o caso. Segundo Moro, em tal reunião, Bolsonaro teria dito que iria “interferir em todos os ministérios”.
“O presidente afirmou que iria interferir em todos os ministérios e quanto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, trocaria o diretor geral e o próprio ministro da Justiça”, relatou.
O vídeo da reunião foi entregue pelo Planalto ao Supremo na sexta-feira (8) e o decano decidiu colocar temporariamente sigilo sobre o material. Ao autorizar o acesso do material pela PGR, AGU e por Moro, o ministro registrou que decidirá “brevissimamente, em momento oportuno, sobre a divulgação, total ou parcial, dos registros audiovisuais contidos na mídia digital em questão”.
Durante a reunião ministerial de 22 de abril, o presidente teria associado a troca do superintendente da PF à necessidade de proteger seus familiares. Ele cita a “segurança do Rio” para a troca, afirmando que sua família é perseguida. A avaliação de fontes que acompanham a investigação é que o vídeo é devastador para Bolsonaro, pois comprova a acusação de Moro de que o presidente da República tentou interferir na Polícia Federal.
O presidente acrescentou que, se não pudesse fazer a substituição, trocaria o diretor-geral da corporação e o próprio ministro da Justiça – à época, Moro.
Bolsonaro se manifestou na tarde desta terça-feira. Ao deixar o governo, Moro afirmou que o presidente havia decidido exonerar o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, o que supostamente configurava interferência na corporação. O presidente nega. “Esse vídeo agora é a última cartada midiática usando da falácia e mentira para tentar achar que eu tentei interferir na Polícia Federal. Pelo amor de Deus!”, afirmou.
“Não existe no vídeo a palavra Polícia Federal nem superintendente”, disse Bolsonaro a jornalistas ao sair do Palácio do Planalto. “Não estou e nunca estive preocupado com a Polícia Federal, a Polícia Federal nunca investigou ninguém da minha família, zero, isso não existe no vídeo, vocês estão sendo mal informados.”
Aos jornalistas, o presidente disse que entregou o vídeo ao Supremo Tribunal Federal (STF) por acreditar na verdade. “Eu entreguei [a gravação] para exatamente evitar falar que eu sumi com vídeo porque ele era comprometedor”, disse. “Eu acredito na verdade, a verdade está lá”, destacou Bolsonaro.