A Rede Municipal de Educação é uma rede que não funciona como tal, pois há uma segregação explicita entre escolas que se encontram em bairros de classe média e aquelas localizadas nas periferias pobres, e isso cria um ambiente discriminatório nocivo para o aprendizado.
A quase totalidade das escolas da educação infantil e do ensino fundamental não conhecem as famílias e nem as comunidades do entorno, das suas dificuldades de moradia e sobrevivência, e isso cria neste momento de pandemia um adicional de dificuldade que precisa ser superado. E diante destes problemas cruciais, escolher as prioridades é fundamental.
Fala-se muito no cumprimento dos duzentos dias, e das 800 horas, como determina a legislação, no entanto há uma escamoteação que foi comprovada por estudos do Banco Mundial, que diz que na América Latina, e no Brasil não passam de 650 horas, de trabalho efetivo com os educandos. Mas os documentos produzidos pelas secretarias de educação mostram que cumprem a lei, e ainda há horas adicionais, e isso tudo registrado em documentos oficiais, no entanto a realidade desmascara esta farsa.
As escolas são tratadas pela Secretaria de forma linear, sem a preocupação com as diversidades sociais que há entre as comunidades. Uma rede educacional eficiente conhece individualmente cada escola, suas famílias e comunidades, e as condições sociais que vivem, e faz um planejamento adequado para que as escolas tenham as mesmas condições estruturais, e aquelas que se encontram em comunidades pobres recebam mais recursos humanos e financeiros, e se coloquem no mesmo patamar de aprendizagem das demais.
A mesmice do cotidiano escolar, não pode ser reproduzida nesta pandemia, vivemos um ambiente de guerra, e as leis não podem ser as mesmas do tempo de “paz”. O ensino presencial anda claudicando há muito tempo, sem que a Secretaria da Educação e os gestores apresentem qualquer plano que coloque a educação básica no século 21.
O momento que estamos vivendo é único, e não sabemos em que situação sairemos desta pandemia, e é por isso que devemos aproveitar este momento para fazer uma mudança radical no modelo atual de gestão escolar. A LDBEN (Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional) estabelece no artigo 12 inciso VI; Que a escola deve articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola. Este artigo precisa ser cumprido!
A participação das famílias e das comunidades do entorno é ínfima na quase totalidade das escolas, e isso cria um distanciamento, que eu vejo como proposital, criando uma situação confortável para a Secretaria de Educação, e para os gestores escolares, e com isso o debate deixa de acontecer, e a visão da educação fica capenga, pois só tem um lado. Não havia a participação efetiva das famílias no cotidiano das escolas, e essa pandemia escancarou a situação, e de repente as famílias são convocadas para participar diretamente nas atividades escolares dos seus filhos, e com isso o conflito ficou inevitável.
O momento agora não é procurar culpados, e sim de união e reflexão. E neste contexto cabe aos coordenadores e professores, por conta da formação pedagógica, um trabalho de esclarecimento procurando ouvir as mães, os pais e familiares, e tentar compreender a situação de cada um, e explicar pedagogicamente os prejuízos que o ensino EAD pode trazer para os educandos, pois as trocas de acusações é o que menos precisamos neste momento.
A insistência de se cumprir um calendário num momento atípico não vai acrescentar nada, novos caminhos construídos coletivamente é imprescindível. O calendário escolar deve ficar em segundo plano – as vidas são prioridades!