“Se por uma maldição, em um cenário apocalíptico, todos os aquíferos brasileiros secassem, ou seja, as águas subterrâneas deixassem de existir, o país mudaria radicalmente, a ponto de tornar-se irreconhecível” (Hirata, 2019).
A pandemia do covid-19 chegou sem pedir licença, colocando mais de um terço da população mundial em quarentena, promovendo uma corrida contra o tempo com a ciência e a medicina na linha de frente. Nossas vidas mudaram e, talvez, de forma irreversível daqui pra frente. Mas, o momento distópico atual lança luz sobre a importância de um contínuo e vultoso investimento na ciência.
O coronavírus mudou a forma como as pessoas pensam a higiene pessoal e coletiva. A ordem geral é: lavem as mãos! E, via de regra, as pessoas lavam as mãos graças ao principal tema deste artigo: a água. O valor da água não se estima. Tanto para o consumo humano quanto para a manutenção de toda forma de vida no planeta terra.
Quando o assunto é água, nossa cidade é totalmente privilegiada. Ribeirão Preto é um dos poucos municípios do Brasil em que o abastecimento público e privado é realizado pelas águas de um dos maiores aquíferos do mundo, o SAG – Sistema Aquífero Guarani. Arrisco-me em afirmar, completamente sustentada pelo meu trabalho de mestrado, que a maioria dos leitores e habitantes de Ribeirão Preto, não sabe o que é, não conhece a história, e não pode compreender o tamanho da importância deste recurso.
Pois bem, em linhas gerais, e de forma bastante resumida: um aquífero é uma unidade geológica saturada que possui a capacidade de armazenar uma grande quantidade de água. Já o Aquífero Guarani corresponde ao quarto maior reservatório de água doce do mundo, estendendo-se por cerca de 1,2 milhões de km², e com uma área de ocorrência que divide-se entre quatro países da América do Sul: Paraguai, Uruguai, Argentina e – em seu maior volume e extensão – o Brasil.
Nossa cidade, além da singularidade de possuir uma sociedade compeltamente abastecida por estas águas fósseis, também encontra-se localizada em uma área de recarga do aquífero, tornando suas questões ainda mais particulares e delicadas. As águas do SAG correm sérios riscos e podem ser comprometidas por atividades industriais, agrícolas, uso urbano, e parcelamento e ocupação do solo sem estudo prévio, sendo de extrema importância estudos que promovam políticas públicas voltadas para a sua preservação.
Sou geógrafa pela Unicamp e atualmente faço parte de um projeto de pós-graduação que completa duas décadas este ano. O Geo-Escola foi idealizado pelo meu orientador, o Professor Doutor Celso Dal Ré Carneiro. Trata-se de um projeto que visa construir uma ponte entre Universidade e Sociedade criando métodos que auxiliem o ensino de Ciências da Terra na educação.
Desenvolvemos o módulo Ribeirão Preto e o trabalho levantará um diagnóstico sobre a sapiência ambiental dos moradores da cidade para, posteriormente, propor projetos que auxiliem na educação ambiental. O módulo pretende contribuir para a formação de uma sociedade mais consciente e indivíduos críticos e sensíveis às questões ambientais, destacando a importância da herança geológica. Algumas entrevistas já foram realizadas e os resultados geraram um artigo científico que encontra-se em submissão. As previsões porém, não são tão boas.
A ideia era compreender se existe no cidadão ribeirão-pretano um sentimento de pertencimento ocasionado pelas águas subterrâneas do SAG. Um questionário foi aplicado de forma online e a pergunta “você conhece/já ouviu falar sobre o Sistema Aquífero Guarani” foi a única pergunta dissertativa e pretendia avaliar, portanto, se os entrevistados possuem um conhecimento técnico e/ou científico. Os resultados poderão ser conferidos ao final de toda pesquisa. A proteção, a conservação e o uso sustentável deste recurso essencial dependem da construção de um sentido de pertencimento na comunidade, bem como de responsabilidade na preservação desse patrimônio.