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Um Dia do Trabalho diferente no Brasil

FOTOS: JF PIMENTA

O primeiro dia do mês de maio é considerado feriado em vários países do mundo em ho­menagem aos trabalhadores. A data surgiu em 1886, quan­do milhares de trabalhadores americanos fizeram uma para­lisação para reivindicar melho­res condições de trabalho.

O movimento se espalhou pelo mundo e, no ano seguin­te, trabalhadores de países europeus também decidiram parar em protesto por melho­res condições de trabalho. Em 1889, operários que estavam reunidos em Paris (França) decidiram que a data se torna­ria uma homenagem aos tra­balhadores que haviam feito greve três anos antes.

No Brasil, o feriado come­çou por conta da influência de imigrantes europeus, que a par­tir de 1917 resolveram parar o trabalho para reivindicar direi­tos. Em 1924, o então presidente da República Artur Bernardes decretou feriado oficial.

Comércio não funciona há mais de um mês

Além de ser um dia de descanso, o 1º de maio é uma data com ações voltadas para os trabalhadores. Até por isso, a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi anunciada no dia 1º de maio de 1943, pelo então presidente Getúlio Vargas. Vale lembrar que por muito tempo, o rea­juste anual do salário mínimo também acontecia no Dia do Trabalhador.

Além do Brasil, cerca de oi­tenta países consideram o Dia Internacional do Trabalhador um dia de folga, entre eles Por­tugal, Rússia, Espanha, França e Japão. Os Estados Unidos, onde ocorreu a mobilização que deu origem à data, não re­conhece este dia como feriado.

Apesar de ser uma data marcada por comemorações e reivindicações de melhoria para os trabalhadores, o Dia do Trabalho deste ano não parece muito animador. Atravessando uma pandemia por causa do coronavírus, a economia bra­sileira vive uma crise cuja di­mensão ainda parece distante de ser prevista.

Graças a essa incerteza grande parte dos trabalhado­res passará o feriado em casa, em quarentena e apreensivos por não saber se ainda terão empregos quando a pande­mia acabar. Já os empresários, comerciantes, profissionais liberais que estão sem poder trabalhar há mais de um mês ou com atividade reduzida ao mínimo, também não sabem o que será do futuro.

Recente pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas empresas (Sebrae) revela que pelo me­nos 600 mil micro e pequenas empresas fecharam as portas e nove milhões de funcionários foram demitidos em razão dos efeitos econômicos da pande­mia do novo coronavírus.

Dorival Balbino: um ano de muitas dificuldades para empresários e trabalhadores

A pesquisa revela ainda que 30% dos empresários tiveram que buscar empréstimos para manter seus negócios, mas o resultado não parece promis­sor: 29,5% destes empreende­dores ainda aguardam uma resposta das instituições finan­ceiras e 59,2% simplesmente tiveram seus pedidos negados.

O levantamento mostra ainda que 29% dos empresários desconhecem as linhas de cré­dito que estão sendo disponi­bilizadas para evitar demissões e 57% apenas ouviram falar a respeito. Para tentar minimizar os efeitos da crise o governo lançou programas econômicos, como o auxílio emergencial de R$ 600 para microempreende­dores individuais, autônomos e empregados informais.

Outra medida que preten­de dar um pouco de fôlego para os setores produtivos é a que permite a suspensão de contratos e redução de jor­nada de trabalho. Entretanto, a falta de informação ainda parece prevalecer e poucos entrevistados afirmam conhe­cer os programas de fomento criados pelo governo.

Em Ribeirão Preto, onde os dados mais atualizados do Ministério do Trabalho sobre o número de empresas existentes na cidade são de 2018, quanti­ficar em números a dimensão da crise em cada setor parece complicado por falta de infor­mações atualizadas.

Segundo os números do Mi­nistério do Trabalho existiam na cidade em 2018 um total de 21.871 empresas registradas. Apesar disso, a Associação Co­mercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp) tem certeza que 2020 será um ano de enormes dificuldades, comparável so­mente ao impacto sofrido na crise econômica de 2008.

A entidade admite ainda que, diferentemente daquela época, a retomada da economia pós-pandemia do coronavírus não será rápida. “Nossa econo­mia vinha em momento mais frágil do que em 2008 e, a de­pender da duração das medidas restritivas, o impacto pode ser maior se comparado às duas últimas crises vividas pelo país”, afirma o presidente da entidade Dorival Balbino.

Segundo ele, num primeiro momento, o comércio e o setor de serviços são os mais afeta­dos, sobretudo, os segmentos classificados como não essen­ciais e aqueles com maior di­ficuldade em criar alternativas ao atendimento presencial. No entanto, Balbino explica que o montante de desempregados e a perda de renda gerada por esta crise tendem a afetar pra­ticamente todos os setores da economia em médio prazo.

Para exemplificar como a economia regional poderá ser atingida a Acirp faz uma equação que utiliza como pa­râmetro os setores do comér­cio e da alimentação que em­pregam juntos na cidade mais de 67 mil pessoas.

De acordo com a entidade entre 2014 e 2016, cerca de 10 mil empregos destes setores foram destruídos na cidade em razão da crise que o país vi­venciou naquele período. Isso significa que se a pandemia do coronavírus provocar a demis­são de 15% dos trabalhadores, apenas nestes dois setores, em poucos meses haverá uma per­da de empregos equivalente ao total registrado em dois anos durante aquela crise.

Data festiva sem festa para o trabalhador que procura manter o emprego

Onda de demissões
Para o presidente do Sindica­to do Comércio Varejista de Ri­beirão Preto (Sincovarp), Paulo Cesar Garcia Lopes, existe uma onda de demissões em curso, apesar de muitos lojistas terem optado por dar férias aos fun­cionários ou interromperem o contrato de trabalho, conforme a Medida Provisória 936.

“A tendência é que o número de demissões aumente muito. É impossível para a maioria dos comerciantes, que são micro e pequenos empresários, manter o fluxo de caixa de suas lojas. Poucos têm alguma reserva e, quem tem, aguenta por pouco tempo”, afirma o sindicalista.

Sobre os setores mais atingi­dos ele garante que todos os de varejo e serviços considerados não essenciais neste momento, estão sendo muito afetados. “O que podemos prever é que mui­tos lojistas não conseguirão se le­vantar novamente e que teremos de ter muita garra e persistência para lutar por nossa sobrevivên­cia, tanto a de pessoas quanto à socioeconômica”, afirma.

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