Por Vera Magalhães e Bruno Ribeiro, com colaboração de Julia Lindner
Um plano gradual de reabertura da economia de São Paulo deve ser anunciado pelo governo do Estado, com implementação a partir de 11 de maio. Até lá, esclarece o governador João Doria (PSDB), não muda nada em relação ao que pode ou não funcionar no Estado.
Quando a quarentena foi prorrogada, na semana passada, o comitê de gestão da crise da covid-19 passou a se debruçar sobre um plano para estabelecer quais setores e quais regiões do Estado de São Paulo poderão voltar a funcionar gradativamente. Isso vai depender da utilização de leitos hospitalares, sobretudo de UTI, sua comparação com a demanda da região e o grau de urgência e segurança para reabrir cada setor. “Tudo será feito gradualmente e sempre respeitando a ciência”, ponderou Doria, diante de certa comoção causada por manchetes que dão conta da reabertura gradual da economia paulista. Aliados do governador admitem que, caso o número de casos cresça muito nas próximas semanas, mesmo essa abertura gradual pode ser postergada.
O material, proposto pela equipe econômica do governo, ainda está sendo avaliado pela área médica, que já indicou que fará alterações. Agora a ideia é transmitir ao Estado como será o relaxamento da quarentena, que será divulgado mesmo com o receio de parte do governo de que a simples notícia de reabertura possa incentivar as pessoas a saírem de casa. Assim, será dito que a entrada em vigor das medidas vai depender também do comportamento da população.
Os setores econômicos que puderem voltar, em algumas regiões, teriam de concordar com regras de segurança sanitária cuja eficiência ainda está sendo verificada pelos integrantes do Centro de Contingência do Coronavírus, comitê que reúne 15 autoridades da área de saúde. A proposta pretende acalmar os ânimos de prefeitos, deputados e empresários que vêm pressionando o governo para uma retomada das atividades econômicas.
Doria já vinha recebendo pressões de aliados nesse sentido e, na sexta-feira passada, vetou uma proposta que manteria a quarentena, que venceria no dia 22, apenas nas cidades das cinco regiões metropolitanas do Estado. O veto surpreendeu políticos do DEM, partido do vice-governador, Rodrigo Garcia, que tinham essa abertura como certa.
Essa pressão fez com que os secretários da Saúde, José Henrique Germann, e do Desenvolvimento Regional, Marcos Vinholi, se reunissem ainda na sexta com cerca de 200 prefeitos do interior para pedir paciência. Tiveram de explicar que o vírus ainda chegaria às cidades onde ainda não há registro de casos, se valendo de projeções feitas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), que mostrou o interior três semanas atrasado em relação à Grande São Paulo no avanço do surto.
“Os prefeitos, no começo, foram até mais rígidos, fazendo barreiras sanitárias. Tivemos de ter muito diálogo”, diz Vinholi, do PSDB, mesmo partido de Doria. Agora, ele diz receber ligações de “cem prefeitos por dia” com questionamentos sobre o isolamento. “O anúncio dessas medidas terá um impacto positivo”, afirma o secretário. Até ontem, os dados apontavam isolamento social de 59%, quando o ideal, segundo o Estado, seria de 70%.
Balanço
O governo do Estado de São Paulo relatou 1.037 mortes pelo novo coronavírus em balanço publicado nesta segunda-feira. São 22 casos a mais do que o divulgado no domingo. O total de testes positivos para a doença chegou a 14.580. No Estado, nesta segunda, há 6.032 pessoas internadas em enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) com os sintomas da doença, entre casos confirmados e suspeitos.
De acordo com o governo, nos últimos 20 dias, o total de infectados foi multiplicado por cinco. Em 1.º de abril, São Paulo registrava 2.891 casos confirmados para doença, ante os atuais quase 14,6 mil. Já o número de mortos aumentou seis vezes no mesmo período. No primeiro dia deste mês, eram 164 mortes confirmadas. “Entre as vítimas, estão 614 homens e 423 mulheres. Os óbitos continuam concentrados em pacientes com 60 anos ou mais, totalizando 78,2% das mortes”, informou, por nota, a Secretaria da Saúde.
Segundo os dados, 272 vítimas tinham entre 70 e 79 anos e 231 tinham entre 60 e 69. “Fora desse grupo de idosos, há também alta mortalidade entre pessoas de 50 a 59 anos (120 do total)”, diz a nota oficial.
Outros Estados
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), anunciou que manterá as medidas de isolamento social, com o estado de emergência. Mas flexibilizou algumas medidas de restrição que estavam sendo adotadas. “Sempre defendi dois princípios: a vida e a democracia. Não vou fazer roleta russa com a cabeça do trabalhador para agradar quem quer que seja. Vida não tem preço. Só com o menor número de vítimas do coronavírus e atendendo aos doentes, nós recuperaremos a economia.”
Já o governo de Santa Catarina anunciou ontem a liberação de cultos e missas, além da abertura de shoppings, centros comerciais, parques, praias e em academias. As aulas continuam suspensas,
Nesta segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que espera chegar ao fim da quarentena em razão do novo coronavírus já nesta semana. O presidente voltou a citar as medidas de isolamento social adotados por governadores e prefeitos como ações “excessivas” em alguns Estados e que ‘não atingiram seu objetivo”
Recado escrito nas ruas
“A cidade não está vazia, está cheia de amor ao próximo.” A mensagem ocupa uma faixa do asfalto na frente do Cemitério da Consolação e ao menos outros 15 pontos de São Paulo, como parte de uma intervenção idealizada pelo produtor gráfico Victor Hugo Ghiraldini e mais seis amigos.
A ação usa também as frases “Cada rua vazia é uma multidão contra o vírus” e “Pelo bem de todos e felicidade geral da nação” acompanhadas da hashtag #FiqueEmCasa, para “se conectar com as pessoas”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.