No fim de dezembro de 2019, a cidade chinesa de Wuhan registrou uma nova pneumonia causada pela covid-19, que se espalhou por todas as províncias chinesas e também ao redor do mundo. Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS), convocando seus membros para uma reunião emergencial, declarou estar havendo um surto global da covid-19, o qual demandava políticas públicas imediatas de âmbito internacional. Neste contexto, de acordo com a teoria do Sistema Imunológico Comportamental (BIS, na sigla inglesa), as pessoas provavelmente desenvolvem emoções negativas (aversão, ansiedade e depressão) sobre o fato, bem como, avaliação cognitiva negativa para sua autoproteção. Ameaçadas por doenças em potencial, as pessoas tendem, de modo geral, a desenvolver comportamento de fuga verificado em seu evitar contato com terceiros sintomáticos, obedecendo estritamente as normas sociais de conformidade. De acordo com esta teoria, e outras similares, emergências de saúde pública disparam mais emoções negativas, afetando as avaliações cognitivas.
Com o propósito de explorar os impactos da covid-19 sobre a saúde mental das pessoas, Li et al. Int. J. Environ. Res. Public Health 2020: 17, 2032, analisaram postagens de Weibos (palavra chinesa para microblogs) de 17.865 usuários, dado especial atenção à frequência das palavras, bem como, escores de indicadores emocionais (ansiedade, depressão, indignação e felicidade) e escores de indicadores cognitivos (julgamento de risco social e satisfação com a vida) dos dados coletados. As análises visaram verificar as diferenças no mesmo grupo de postantes antes e após a declaração efetuada pela OMS. Os resultados mostraram que as emoções negativas e a sensibilidade aos riscos sociais aumentaram, enquanto as emoções positivas e satisfação com a vida diminuíram. Ademais, as pessoas estiveram mais preocupadas com sua família e saúde do que com lazer e amigos.
Por sua vez, Lai et al. JAMA Network Open 2020: 3(3), 976, mensuraram o grau de sintomas de depressão, ansiedade, insônia e estresse em 1257 profissionais de saúde, de 34 hospitais chineses, entre 29 de janeiro a 03 de fevereiro de 2020. Para isso, foram aplicadas versões chinesas do Questionário de Saúde do Paciente, uma Escala de Desordem de Ansiedade Generalizada, um Índice de Severidade da Insônia e uma Escala de Impacto de Eventos. Do total de participantes, 764 foram enfermeiras, 493 foram médicos, dentre os quais 760 trabalhavam nos hospitais de Wuhan e 522 foram profissionais de saúde na linha de frente. Os dados mostraram que uma grande proporção de participantes registrou sintomas de depressão (50,4%), ansiedade (44,6%), insônia (34%) e estresse (71,5%). Merece destaque que, enfermeiras, mulheres, trabalhadores da linha de frente e aqueles trabalhando em Wuhan registraram graus mais severos de todas as mensurações de sintomas associados à saúde mental do que quaisquer outros trabalhadores em geral.
Adicionalmente, em Wang et al. Psychology, Health & Medicine, 2020:1746817, relata-se a aplicação de uma Escala de Autoavaliação de Ansiedade e uma Escala de Autoavaliação da Depressão em 605 participantes. Os dados mostraram que o risco de ansiedade para as mulheres foi de 3,01 vezes comparado àquele para homens. Comparado com as pessoas abaixo de 40 anos, o risco de ansiedade para as acima de 40 anos foi de 0,40 vezes mais elevado. Comparado a pessoas com mestrado e acima, aqueles com grau de bacharelado tiveram risco de depressão 0,39 vezes mais elevado. Comparado com profissionais, trabalhadores industriais e outros funcionários tiveram risco de depressão 0,31 vezes e 0,38 vezes mais elevados que a população em geral.
Finalmente, em Qiu et al. General Psychiatry 2020: 33:e100213, um questionário online, denominado Índice do Estresse Peritraumático da covid-19, foi aplicado, capturando a frequência de ansiedade, a depressão, fobias específicas, mudança cognitiva, comportamento compulsivo e de fuga, sintomas físicos e perda do funcionamento social na última semana, numa escala variando de 0 a 10. Um total de 53.730 questionários válidos foram obtidos de 36 províncias chinesas. Destes, quase 35% experenciaram estresse psicológico e as mulheres mostraram escores mais elevados que suas contrapartes masculinas. Também, pessoas entre 18 e 30 anos, e acima de 60 anos, apresentaram escores mais elevados no questionário.
Em conjunto, esses estudos demonstram que intervenções preventivas devem ser dadas a grupos mais vulneráveis, como jovens e idosos, além de uma atenção especial também dever ser dada aos profissionais de saúde diretamente engajados no diagnóstico, tratamento e cuidados de pacientes com covid-19.