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Série austríaca mistura realidade e ficção revela um Freud jovem e desconhecido

Por Mariane Morisawa, especial para O Estado

Em 1886, Sigmund Freud ainda não era o pai da psicanálise. Como todo jovem profissional, aos 30 anos ele estava lutando para ser reconhecido – e suas pesquisas com hipnose eram consideradas ridículas. É esse o personagem de Freud, série austríaca em oito episódios criada por Marvin Kren, Benjamin Hessler e Stefan Brunner que acabou de estrear na Netflix. “Mostramos Sigmund Freud no meio do processo de se inventar”, disse Brunner em entrevista ao Estado durante o Festival de Berlim, onde foi exibida a série, uma mistura de drama, suspense e policial.

A verdade é que não se sabe muito sobre o Freud dessa época. “Ele destruiu muitas das cartas, porque queria dificultar a vida de seus biógrafos”, disse Hessler. Brunner acha que essa decisão do psicanalista dá uma ideia de quem era o homem. “Era alguém totalmente convencido de que vai se tornar uma pessoa digna de ter biografias escritas sobre ela. Parece que ele andava por Viena e, ao passar por uma casa onde tinha vivido, dizia que um dia haveria uma placa de bronze informando que Sigmund Freud tinha morado ali.”

Essa falta de informações deu liberdade para os roteiristas. O Sigmund Freud interpretado por Robert Finster é ambicioso e desesperado pelo sucesso. “Mas não só, ele quer mudar o mundo. E ele conseguiu, porque ainda estamos vivendo a era freudiana. Eu também o descreveria como extremamente bonito”, disse Brunner. “Ele é sexy”, completou Hessler. É alguém totalmente convencido de suas teorias e de si mesmo, que quer ser bem-sucedido. É verdade que Freud lidou com a descrença de seus pares mais velhos no início de seu trabalho, especialmente com sua pesquisa com hipnose, que ele próprio abandonou. Mas a série coloca o pai da psicanálise no meio de uma grande conspiração criminosa e política, chegando ao ponto de investigar o que está acontecendo “A situação de vida, sua família complicada e seu momento na carreira são completamente reais”, disse Brunner. “Mas há coisas que acontecem na série que o espectador vai ficar em dúvida. Mas eu garanto que seria completamente possível”, completou o roteirista.

Em vez de explicar o século 19 para o público do século 21, os criadores de Freud tentaram mergulhar a audiência naquela época, recriando os eventos em que as pessoas faziam “tableau vivant”, em que recriavam famosas pinturas, ou se submetiam à hipnose. “É uma época muito interessante porque é a fronteira para a modernidade”, disse Hessler. “Havia muitas possibilidades no ar, as pessoas acreditavam mais em abracadabra.”

Para os atores, era importante entender a cabeça de quem vivia naqueles tempos. “Além de muitas biografias de Freud até os 30 anos, eu li romances e peças de gente como Stefan Zweig e Arthur Schnitzler”, contou Robert Finster. Schnitzler, inclusive, é um dos personagens da série, interpretado por Noah Saavedra. O ator também disse ter conversado com pessoas mais velhas e assistido a filmes antigos com os atores austríacos Hans Moser e Peter Alexander para incorporar algo da forma de falar. Já Ella Rumpf, que faz Fleur Salomé, aliada de Freud, leu muito sobre médiuns como sua personagem. “Havia um fascínio de artistas e políticos da época por esses fenômenos espirituais”, disse a atriz. Os dois também passaram por experiências de hipnose. “Fiz uma em que meu braço ficou anestesiado e outra em que meus dedos começaram a levitar. Eu sabia o que estava acontecendo e sabia que não era algo que eu estava fazendo. Eu recomendo a experiência”, disse Finster.

O visual da série em si não tem nada do que se costuma ver nas produções de época. “Na minha cabeça, ia ser muito mais parecido com Downton Abbey”, contou Brunner, rindo. “Fiquei espantado quando comecei a ver as cenas dirigidas por Marvin. Não tem aquela rigidez de Downton Abbey ou de outras séries que se passam em tempos antigos. Parece algo que está acontecendo hoje ”

Stefan Brunner e Benjamin Hessler ainda não estavam acreditando que sua série feita na Áustria e falada em alemão ia ser exibida para mais de 190 países. “Imagine isso. Se alguém me dissesse dez anos atrás que esse seria o futuro, eu não teria acreditado”, disse Brunner. Quanto ao futuro da série, ele é incerto. “Seria um desafio fazer uma segunda temporada porque meio que teríamos de transformá-lo num personagem totalmente ficcional. Não sei se seria interessante, então vamos ver”, afirmou Brunner.

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