Colocado em regime de home office pelo zelo e determinação de meus filhos, pois estou dentro do grupo de alto risco para o coronavírus, comecei a me adaptar a uma nova rotina. Continuo a ler logo cedo a edição digital do Tribuna Ribeirão e os jornais paulistanos, tomo meu café da manhã com mais calma (o que permite curtir os canarinhos da terra que buscam a quirera de milho para eles colocada), caminho pelas ruas do condomínio onde moro, procurando os túneis verdes que as árvores fazem com as suas copas (inverto os caminhos continuamente para exercitar o cérebro), abro o ouvido para a cantoria dos pássaros e aproveito o ar matinal cheio de aromas das árvores e das flores.
Além disso, verifico os relatórios da empresa, pois, apesar de longe, quero colaborar com o esforço da nossa equipe neste momento grave de nossa vida pessoal e empresarial. Acompanho o noticiário para saber das novidades da pandemia e tenho bastante tempo para meditar sobre o que está acontecendo e poderá acontecer com todos nós.
Tenho convicção absoluta que o vírus que nos atinge deve ser combatido por duas posturas distintas e complementares: uma individual, que cabe a cada um de nós, é seguir as recomendações reiteradamente feitas pelas autoridades médicas de lavar as mãos constantemente, não levá-las ao rosto, boca e nariz, abandonar os cumprimentos manuais e os beijinhos sociais e evitar aglomerações.
Manter distância de pelo menos um metro em relação ao outro, espirrar e tossir no braço dobrado e evitar ir a qualquer local que seja desnecessário. No trabalho, seguir estas e as demais instruções e convencer os companheiros a fazê-lo, manter as mãos longe das superfícies lisas e lavar, lavar sempre as mãos. Se cada um de nós assim o fizer estaremos colaborando para o controle da transmissão desordenada do vírus. A epidemia virá, mas será menos forte e possível de ser contida.
No plano coletivo, acho que precisamos parar com os embates políticos e ideológicos, dar uma trégua geral. Das últimas eleições saiu um país dividido ao meio, com facções que se degladiam nas redes sociais, um presidente temerário em suas declarações e seguidores que abandonam o bom senso e lançam lenha na fogueira, como se isso fosse adiantar alguma coisa. União faz a força é velho ditado de nossos avós e pais. Nunca como agora, o velho axioma precisa ser praticado. Conversando com um amigo italiano, ilhado em uma cidadezinha da Lombardia, ele dizia que o ataque do vírus não era contra a Itália, mas contra a Humanidade como um todo. Os números que se sucedem no noticiário demonstram isto.
Quando estamos nos degladiando e aparece um inimigo maior, a solução é esquecer momentaneamente a nossa briga e nos unirmos para derrotar a ameaça maior. A II Guerra Mundial é prova disto, quando os países se aliaram aos russos comunistas (regime que tinha como propósito erradicar a democracia da face da Terra) para conseguir vitória contra o nazismo e o imperialismo japonês. Por isso, acho desproposital abrir as redes sociais e ver pessoas xingando autoridades, jornalistas, políticos, adversários, enquanto nosso planeta está se exaurindo com a pandemia. Chegam a pregar até a morte dos adversários, torcendo para que o vírus os leve.
Isto precisa acabar. Ou nos unimos ou morreremos todos. Vamos declarar uma trégua, sair das redes sociais, postar somente mensagens positivas, embora realistas, sem fake news. Nenhum de nós pode se dar ao luxo de ignorar o perigo. Nosso país tem uma desigualdade social muito expressiva, os mais pobres serão os mais atingidos e se não reunirmos as nossas forças, não somente eles, mas todos nós sofreremos muito. Toda vez que alguém posta um xingamento, uma posição radical pró ou contra o atual governo ou a quem quer que seja, estaremos nos desviando do perigo que nos cerca. Vamos ter juízo e estabelecer uma trégua entre nós.