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A rede de proteção

O momento atual que vive o Brasil vai aos poucos definhando as esperanças e colocando, no caminho das crianças e adolescentes, pedras muito maiores do que a capacidade que eles têm para removê-las ou carregá-las. E esse excesso de carga sobre seus ombros está levando nossa juventude a procurar diversas formas para sair deste mun­do de sofrimentos. Toda sociedade, em algum momento de sua história, tem uma aptidão definida para o suicídio. Infelizmente estamos passando por este momento com a nossa juventude.

Enquanto nos países europeus e nórdicos o suicídio juvenil vem diminuindo, na América Latina houve um aumento de 6% (dados de 2016), e no Brasil vem acelerando nos últimos anos. A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que não se dê publicidade para estes tristes fatos, mas não im­pede que providencias sejam tomadas para suavizar esse mo­mento. No entanto, o costume vezo que impera entre nossas autoridades, que só coloca a tranca depois da casa arrombada, fazem com que os programas de apoio para as crianças e adolescentes só apareçam depois da tragédia.

A rede de proteção da criança começa com um pré-na­tal de alta qualidade para todas as mães, e continua após o nascimento com o cumprimento dos preceitos consti­tucionais, que determina a cooperação irrestrita entre o poder público, família e sociedade na educação de nossas crianças, num trabalho imbricado entre educação formal e informal, descartando a ideia dominante que a escola trabalha com os conteúdos, e a educação que forma os cidadãos sob a responsabilidade das famílias – uma divisão que não cabe mais nos dias atuais.

é o mesmo – a infelicidade. Essa infelicidade deixa o horizonte sombrio e fecha as portas dos sonhos, e sem sonhos as esperanças são sepultadas. Na classe média e nas elites, a pressão sobre as crianças ocorre com o excesso de atividades escolares e extracurriculares, com mais responsabilidades que muitos adultos, e esse sofrimento precoce elimina os sonhos, e sem sonhos a vida passa a não ter sentido.

Já as classes pobres a pressão sobre as crianças é exercida pela falta: não existe saneamento básico, as mo­radias são insalubres e a fome muitas vezes é a compa­nheira dileta de noites mal dormidas. Neste ambiente, a única esperança é a escola pública, mas tudo é feito para que não dê certo.
De um lado o excesso, do outro a falta, e ambos produzin­do os mesmos efeitos devastadores que tiram as esperanças e sonhos dos jovens – pular deste mundo de sofrimento passou a ser “a solução”. No passado, as crianças e jovens eram trata­dos como seres desprovidos de direitos, mas a esperança e o sonho de chegar logo aos 18 anos, e conseguir a carta de alfor­ria, nos mantinha com fé no amanhã, embora na maioria das vezes a decepção só aumentasse.

Nos dias atuais a meninada perdeu a esperança no ama­nhã, pois a barreira dos 18 anos recrudesceu, e eles estão aprendendo mais cedo que a crueldade do ser humano não tem limite, e por conta disso vivem a dicotomia entre a luz e as trevas, e transitam por um caminho sem volta. Pular deste mundo em ebulição muitas vezes é um fato natural.

Melhorar o ser humano para que seja cada vez mais humano é a única saída, e só vamos conseguir um ser humano mais humano ativando a rede total de proteção para as crianças. Não adianta colocar nas mãos de Deus as responsabilidades que são nossas.

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