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Suicídio: precisamos falar sobre isso

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o suicídio é a segunda causa de morte que mais atinge os jovens de 15 a 29 anos no mundo, perdendo apenas para os acidentes de trânsito. No Brasil, a cada 45 minutos uma pessoa comete o ato.

Segundo a socióloga Dayse Assunção Miranda, os últimos levantamentos feitos pelo Ministério da Saúde indicam que o número de suicídio entre adolescentes de 10 a 14 anos praticamente dobrou em todas as capitais do país, com destaque para Teresina (PI). “Os motivos não são claros, pois não temos estudos populacionais específicos. No entanto, sabemos que os casos estão relacionados a questões familiares, crise de identidade (incluindo disforia de gênero), preconceito racial, integrar grupos de risco, como o LGBT, violência física e verbal, baixa autoestima, além dos transtornos psiquiátricos”.

A professora e autora Fernanda Marquetti lembra o pensador francês Émile Durkheim, considerado o pai da sociologia, ao defender o peso das instituições e dos costumes no bem-estar dos seres humanos. “Para Durkheim toda vez que as taxas de suicídio se alteram numa sociedade há uma transformação social em curso, então precisamos pensar em medidas coletivas para reverter este quadro que está em ascensão no Brasil”, recomenda.

Estudiosa no assunto, Fernanda reúne algumas reflexões sobre as possíveis causas nos livros: Suicídio. Escutas do Silêncio e O Suicídio como Espetáculo na Metrópole: “O suicídio é multifatorial e resultado de um longo processo de tomada de decisão. Ele também é um trans­gressor social porque subverte as relações do cotidiano. Por isso, o discurso de quem lida com o suicídio não pode ser hegemônico como se ele fosse fruto apenas de algo instalado no sujeito, resultado de uma depressão ou bipolaridade, por exemplo”.

Dayse, que também acumula a função de Diretora do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES), explica que a maioria das pessoas não está preparada para iden­tificar os sinais emitidos por um potencial suicida. “Aqueles que estão pensando em cometer o ato possuem o que chamamos dos‘3 Ds’: desesperança, depressão e desilusão”, diz. Em seu discurso, costumam incluir frases como “minha vida não vale nada”, “estou cansado”, “seria melhor desistir de tudo”. Quem escuta, na maioria das vezes acalenta com frases positivas, mas não acolhe a pessoa com a urgência necessária.

Além disso, para o médico psiquiatra Celso Lopes de Souza, o primeiro erro com relação ao tema do suicídio é não falar sobre ele: “O suicídio é uma realidade que não deve ser negada e sim tratada como um problema de saúde pública. Já está mais do que comprovado que falar sobre o assunto não agrava a situação, muito pelo contrário, pode ajudar a tratar as pessoas que tenham essa intenção”, diz.

Outro aspecto importante abordado por ele é saber diferenciar o pensamento de morte com a ideação de suicídio: “O pensamento de morte é mais comum, a pessoa pensa ‘eu poderia morrer’, ou ‘eu queria morrer’. Já a ideação do suicídio é mais grave, em que o indivíduo pensa ‘eu quero me matar’”. Ele ainda explica que as pessoas que têm ideação suicida sentem que a dor é impossível, insuportável e interminável, o que leva ao desejo de querer tirar a própria vida. “Elas claramente não conseguem perceber sozinhas que são distorções de percepção da realidade, por isso precisam de ajuda”, complementa.

Souza e Dayse concordam que falar sobre os sintomas que podem surgir antes e durante uma intenção de suicídio é fundamental para que a pessoa busque ajuda.“O suicida sempre dá sinais do que está pensando em fazer, mas nem sempre os amigos e familiares são capazes de identificar o que há por trás de suas ações e discursos. Muitas vezes, essa pessoa já está vivenciando um sofrimento psíquico e emocional há muito tempo, sem ninguém perceber. Com isso, vai ficando cada vez mais retraída e com uma dificuldade cada vez maior de pedir ajuda”, alerta ela.

O psiquiatra lembra que é possível prevenir os distúrbios psiquiátricos que podem levar ao suicídio por meio da aprendizagem socioemocional, em que crianças e adolescentes aprendem sobre empatia, resiliência, autoconhecimento e autocontrole. “Há farta evidência científica de que a aprendizagem socioemocional é um fator de proteção para o surgimento de transtornos psiquiátricos”, explica Souza, que também é fundador do Programa Semente, que propõe uma formação socioemocional de alunos e educadores em diversas escolas brasileiras.

As campanhas de prevenção também são fundamentais. A mais robusta delas, o Setembro Amarelo, é uma oportunidade de conscientizar as pessoas e promover a discussão sobre o tema do suicídio, buscando romper resistências e tabus.

Se você está preocupado com alguém, pergunte à pessoa como ela está se sentindo. Não precisa ser nada elaborado, foque no momento presente e ofereça a sua atenção. É preciso paciência, pois dificilmente alguém se abrirá sobre o assunto em uma conversa. Construa uma relação de segurança e esteja disponível para ouvir, sem julgar. Conforme a conversa evoluir, mostre que na vida tudo é passageiro e existem soluções. Já a morte, nunca será uma delas.

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