Tribuna Ribeirão
Geral

Larga Brasa

Com o girar da bolsinha e o andar da carruagem
Havia um grupo de garotas que, no olhar da vizinhança, tinha sorte na vida. Nunca ninguém trabalhou e nem se atrevia a “pegar no batente”. Em contrapartida, todas as moças eram muito bonitas, bem formatadas e estavam sempre bem ves­tidas, independentemente das estações do ano. Fizesse chu­va ou sol elas estavam sempre nos “points” da cidade, com os “tops” da “hight society” em alegres reuniões regadas a champagne francês e a outros “comeretes”. No dizer das do­nas “Conchetas” nasceram com o traseiro para a lua. E as­sim se passavam os dias e a cada ano melhores condições financeiras. Casa nova, carro novo. Viagens à França, Itália e a outras capitais do turismo ou em constantes dos roteiros tra­dicionais. A família também recebia os resultados dos “carnês premiados”. Se perguntasse a qualquer uma delas a resposta era a mesma. Ganhamos no carnê do Baú do Silvio Santos.

Um dia a casa cai
Certa feita, quando a Receita Federal fazia um “pente fino” uma delas foi chamada para se explicar. O fiscal federal que­ria saber como ela, que nunca havia trabalhado e não pos­suía fonte de renda, havia acumulado tanta riqueza e feito seus parentes também muito ricos. As outras que estavam nas mesmas condições também foram convocadas a dar ex­plicações. As respostas eram as mais estapafúrdias: ganha­mos no carnê do Baú, bilhete premiado, etc. Os funcionários públicos foram conferir e não encontraram nem uma fração da Loteria Federal que qualquer uma delas tivesse a sorte pequena ou grande do sorteio.

No particular
Uma delas, a mais falante, foi chamada para uma conversa mais pessoal com um hábil pesquisador. Ele chegou e pergun­tou: “Quem cabritos vende e cabritas não tem, de algum lugar vem…”. Ela riu da frase e emendou: Doutor, eu sou da indústria do “lavou está novo… enxugou está virgem”. O funcionário pu­blico federal fez que não entendeu. Ela completou: -“Seu fiscal eu rodo bolsinha, sou acompanhante de rico, não possuo Nota Paulista e nem a da Receita. É tudo no “black”, sem recibo”. Às vezes alguns têm a coragem de passar o cartão de crédito, mas os perigos decorrentes são muitos e eles desistem. O incrédulo homem perguntava se todo aquele patrimônio ela havia conse­guido daquela maneira. Ela afirmou que sim. Ele mais em dúvi­da ainda queria saber qual o valor do programa de acompanha­mento, etc. No final ele fez um relato que passou pelas mãos de muitos “barnabés” que deixaram cair os queixos. Ela ainda explicava. “Doutor, é a mais antiga das profissões. Não sei por quais razões não pagamos IR e nem INSS”.

Providências
Depois de muitos estudos, compilando todo o acervo dos tri­butos os “traças de livros” não encontraram em quais itens elas poderiam ser enquadradas. Não havia nada similar. Mes­mo assim aplicaram multas, determinaram recolhimentos so­bre os valores pressupostos e bloquearam bens (muitos). Elas arrumaram bons advogados que percorreram os caminhos da lei e furos da legislação e conseguiram “quebrar” todas as pendências. Segundo alguns vizinhos elas precisaram redo­brar o “árduo” trabalho para completar a quitação de seus dé­bitos com a Receita. E continuaram livres, leves e soltas sem trabalhar e cantando uma canção da Bahia “Mulher deitada e em pé tem sempre é que trabalhar…”

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