O empresário Dorival Balbino que preside a Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp) faz um balanço de sua gestão a frente da entidade que tem 5,5 mil associados. Afirma que como a maior entidade empresarial local, ela não pode se calar diante de ideias, projetos e movimentos que contrariam os interesses da sociedade e de seus associados. “É nossa obrigação atuar de maneira ativa e propositiva por uma cidade melhor”, garante. Prestes a encerrar seu mandato no mês de abril, o empresário diz que é candidato a reeleição e que sob sua gestão a Acirp se engajou na busca de soluções para os problemas da cidade. Entre as ações realizadas, Balbino cita a criação do Núcleo de Acompanhamento das Leis do Plano Diretor, composto por especialistas em direito, urbanismo e economia. Também enumera as audiências públicas que a entidade realizou e centenas de propostas em audiências públicas – participamos de mais de 120 –, indicamos representantes ativos nos conselhos municipais das mais diversas áreas como urbanismo, meio ambiente, turismo, criança e adolescente, idosos e segurança.
Tribuna Ribeirão – A Associação Comercial tem se posicionado firmemente em relação a vários temas políticos da cidade. Como o senhor avalia este engajamento?
Dorival Balbino – Essa atuação faz parte da missão da Acirp, embora, infelizmente, nem sempre tenha sido exercida a contento. O artigo primeiro do nosso Estatuto prevê que a entidade tem como fim, entre outros aspectos, “representar os empresários e zelar pelos interesses do município, do estado e do país”. Os empresários são cidadãos como os outros. Pagam impostos, geram empregos, riqueza e desenvolvimento econômico e, por isso, merecem e querem ser ouvidos.
Nossa cidade tem mais de cem mil CNPJs, metade dos quais são MEIs, também empresários. É quase impossível encontrar uma família que não tenha um empreendedor. Por isso entendemos que se estivermos unidos e atuantes poderemos contribuir para uma cidade melhor.
Ribeirão Preto é o lugar onde constituímos família, criamos nossos filhos e instalamos nossas empresas. Como cidadãos, temos a obrigação de contribuir com a sociedade para vivermos em uma cidade melhor: mais segura, justa e com perspectivas para todos. Como empresários, também devemos procurar construir o melhor ambiente de negócios, porque isso vai gerar mais empregos, oportunidades e riqueza. E para isso, dependemos de articulações com o Poder Público, seja cobrando atitudes, serviços melhores e transparência, seja firmando parcerias que vão beneficiar a cidade e o setor produtivo.
A Acirp, como a maior entidade empresarial local, não pode se calar diante de ideias, projetos e movimentos que contrariam os interesses da sociedade e de nossos associados. É nossa obrigação atuar de maneira ativa e propositiva por uma cidade melhor. E, na medida do possível, temos feito isso em conjunto com outras instituições empresariais e da sociedade civil.
Tribuna Ribeirão – No caso dos ambulantes no quadrilátero central, chegou-se a um consenso entre os interesses dos comerciantes, dos ambulantes e do poder público?
Dorival Balbino – Há momentos em que se deve ceder para chegar a um acordo. Diante de propostas para uma liberação indiscriminada dos camelôs em toda a cidade e do controle do Calçadão por parte de grupos organizados para explorar mão de obra de ambulantes sem nenhum respeito às leis trabalhistas, chegamos a uma solução provisória enquanto não se constrói uma solução definitiva junto ao Poder Público que definiu pontos e produtos que podem ser comercializados e colocou alguma ordem no centro da cidade. Nosso trabalho é continuar cobrando fiscalização para que as leis sejam cumpridas.
Tribuna Ribeirão – Um dos temas recorrentes nos meios empresarial e político é a necessidade de internacionalização do Aeroporto Leite Lopes. Por que esse processo parece ser tão moroso?
Dorival Balbino – Ao longo de muitos anos Ribeirão Preto enfrentou falta de vontade política, incompetência técnica de alguns gestores públicos, crises econômicas e também a mudança de rumos propostos por cada gestão em relação ao aeroporto internacional. Nós sempre defendemos a internacionalização para cargas e temos convicção que se isso tivesse ocorrido décadas atrás, quando foi aprovada, nossa região hoje seria ainda mais próspera, com empresas de logística e indústrias de base ainda mais tecnológicas.
Estive pessoalmente representando a Acirp no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, e em Brasília acompanhando a liberação de recursos, mas o projeto foi suspenso diante da ideia de estabelecer uma Parceria Público Privada (PPP) para que o Leite Lopes receba os investimentos necessários.
Entendemos que a ideia é boa, mas atrasa mais uma vez a internacionalização, que já é um processo político complicado e enfrenta todos os desafios econômicos e técnicos de um projeto caro e de longo prazo e em um momento de baixa atividade econômica.
O Daesp já concedeu alguns aeroportos menores e sabemos que Ribeirão é prioridade, inclusive por ser o principal terminal sob administração estadual. Temos cobrado que seja definido o modelo de concessão para podermos acompanhar o processo e entender o que é melhor para nossa cidade.
Tribuna Ribeirão – Como o senhor analisa o atual momento ecônomico regional?
Dorival Balbino – Ribeirão Preto é o centro de uma região muito diversificada economicamente com o agronegócio muito forte, indústrias e um setor de serviços muito qualificado. Nossa influência no agronegócio alcança boa parte do Brasil. Isso movimenta o comércio e os serviços, que respondem por boa parte dos empregos e da renda da região. Claro que existem muitos desafios que exigem que os empresários estejam preparados. Hoje, novas tecnologias e a concorrência global demandam investimentos, capacitação dos empreendedores e de suas equipes para ganhar eficiência. E temos oferecido isso na Associação Comercial, tanto por meio de cursos e treinamentos como disponibilizando informações sobre tendências e oportunidades de cada área.
A cidade não está descolada no Brasil, que já avançou muito com as reformas estruturais, mas vejo perspectivas positivas para os empreendedores bem preparados e dispostos a investir em Ribeirão.
Tribuna Ribeirão – Este ano haverá eleição municipal. Como a Acirp pretende participar deste processo?
Dorival Balbino – Um de nossos compromissos é reforçar a posição da entidade como referência na discussão de assuntos importantes para a cidade e as eleições municipais são uma oportunidade para reforçar o debate em torno de temas que impactam o setor produtivo.
Temos convicção que hoje um tema crucial para nossa cidade é como os candidatos a prefeito vão enfrentar a questão do déficit atuarial do Instituto de Previdência dos Municipiários (IPM) de cerca de R$ 20 bilhões, ou seja, cerca de R$ 28 mil para cada ribeirão-pretano pagar ao longo dos próximos anos. Esse déficit pode inviabilizar a atuação da Prefeitura, comprometendo sua capacidade de pagar as despesas correntes, de manutenção dos serviços de educação, saúde e zeladoria e mesmo os salários dos servidores. Isso interessa a todos, em especial aos empreendedores e trabalhadores, pois uma cidade em crise piora o ambiente de negócios e tem menor potencial para atração de investimentos e talentos.
Fora esse tema central, consideramos outros importantes, por ordem de prioridade: qualidade da educação; políticas de desenvolvimento para gerar empregos e renda e institucionalização de mecanismos de controle e transparência que dificultem a corrupção. No período eleitoral, em conjunto com outras entidades, devemos abrir espaços para palestras e debates para que os candidatos apresentem seus projetos e compromissos com Ribeirão Preto.
Tribuna Ribeirão – No caso específico de vereadores, que avaliação o senhor faz da atual Câmara?
Dorival Balbino – A Câmara é um bom reflexo da sociedade. Temos vereadores cuja atuação se aproxima mais daquilo que defendemos e outros que estão mais distantes. É importante frisar que a maior parte das leis que deixaram nossa cidade como está hoje, em crise, foram aprovadas em legislaturas anteriores, sendo que muitos desses vereadores das legislaturas passadas hoje são investigados pela Operação Sevandija.
Os vereadores da atual legislatura aprovaram várias medidas importantes que vão melhorar a cidade em médio e longo prazo, como o Plano Diretor. Eles têm, diante de si, ainda a responsabilidade de analisar e deliberar sobre um grande número de leis complementares que já estão em tramitação ou irão dar entrada na Câmara. Na nossa visão, também houve leis que oneraram, de maneira injustificada, alguns setores produtivos, mas também entendo que devemos evoluir. E essa é nossa expectativa para as eleições municipais. Esperamos que todos os cidadãos, em especial os empresários e suas famílias, como eleitores, estudem como seus representantes votaram sobre temas de interesse público e que projetos propuseram ao longo do mandato. Temos muitos representantes realmente comprometidos com o que é melhor para a cidade e é importante que o eleitorado os valorize na hora do voto.
Tribuna Ribeirão – O presidente Jair Bolsonaro está em seu segundo ano de governo. Que avaliação o senhor faz do governo, principalmente na área econômica?
Dorival Balbino – O governo está avançando com as reformas que, importante lembrar, começaram ser construídas no Governo do ex-presidente Michel Temer. Bolsonaro acertou com a reforma da Previdência, aprovando o que foi possível, e também tem proposto boas medidas com relação à liberdade econômica e segue no caminho de equilibrar as contar públicas. De uma forma ou de outra, também tem deixado o caminho livre para outras reformas, como é o caso da Reforma Tributária e da Reforma Administrativa. Falta, sim, mais diálogo com o Congresso, pois não é possível governar por meio de medidas provisórias, um erro que já foi cometido por governos anteriores.
Tribuna Ribeirão – Quais têm sido os principais projetos desenvolvidos por sua gestão à frente da Acirp?
Dorival Balbino – Durante as eleições de 2017, a primeira com oposição nos 113 anos da Associação Comercial nossas propostas foram dar mais representatividade aos associados, mais transparência às ações da entidade e fortalecê-la. Para atingir o objetivo da representatividade, nos aprofundamos nas principais questões que impactam a cidade, atuando junto aos poderes Executivo e Legislativo, apresentando propostas da forma mais transparente possível, sempre por escrito e em audiências públicas. Importante frisar que essas propostas sempre foram formuladas pensando na cidade como um todo, mas defendendo o papel dos empreendedores no desenvolvimento de Ribeirão.
Criamos um Núcleo de Acompanhamento das Leis do Plano Diretor, composto por especialistas em direito, urbanismo e economia. Fizemos centenas de propostas em audiências públicas – participamos de mais de 120 –, indicamos representantes ativos nos conselhos municipais das mais diversas áreas como urbanismo, meio ambiente, turismo, criança e adolescente, idosos e segurança. Questionamos e cobramos do Poder Público quando necessário e também estreitamos o relacionamento em prol de Ribeirão Preto.
Na área de transparência e gestão da entidade, cortamos gastos da presidência que consideramos incompatíveis com o trabalho voluntário dos diretores da entidade, como veículo oficial, cartão corporativo e auxílio-paletó. Também melhoramos a eficiência dos custos de mão de obra, reduzindo a folha de pagamento em 24%, e realizamos investimentos que valorizaram os ativos da entidade, tanto no Centro quanto nas distritais. Prédios subutilizados, como o das distritais Leste e Norte, na Avenida Saudade, foram ampliados e locados, gerando renda para a Acirp. Outros, como o da Distrital Oeste, na Avenida Dom Pedro, foram reformados e adequados. Essas ações reforçam mais um compromisso de campanha, que dá mais autonomia e produtividade para nossas regionais.
Demos um passo importante multiplicando por onze a quantidade de cursos e treinamentos oferecidos em três anos. E os empresários responderam com um aumento de oito vezes na quantidade de profissionais que participaram das formações no período. Esse sucesso nos incentivou a lançar um projeto ambicioso de qualificação profissional.
A grande participação dos empresários nos eventos e discussões dentro da entidade tem mostrado que estamos no caminho certo. A Acirp voltou a ser a casa dos empresários. Também estreitamos a relação e realizamos muitas ações em conjunto com outras entidades empresariais e da sociedade civil.
Tribuna Ribeirão – O senhor pretende se candidatar à reeleição?
Dorival Balbino – Sim. Temos agregado na entidade um grupo de empresários de diversos setores e portes interessados em garantir e avançar nas conquistas dos últimos três anos. Diante disso, foi natural a formação da chapa “Avança Acirp”.
Tribuna Ribeirão – Em relação a política partidária, o senhor já pensou em se candidatar a algum cargo público eletivo?
Dorival Balbino – Não. Minha contribuição tem sido na minha empresa e nas entidades de classe e da sociedade civil onde tenho uma história de atuação voluntária para o fortalecimento da atividade empresarial e também para uma cidade melhor. Muitos não sabem, mas antes de ser presidente da ACIRP, fui presidente do Conselho Consultivo da Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Faepa), Diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo – Regional de Ribeirão Preto, Presidente do Conselho Deliberativo da FIPASE, vice-presidente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto e também atuei várias vezes dentro da própria Associação Comercial, entre outras funções ao longo de minha vida. Também tenho orgulho de ter construído do zero uma empresa que hoje, após 40 anos, gera 360 empregos diretos, pagando todos os seus impostos e obrigações e contribuindo assim para uma cidade melhor.