Assim como hoje lançamos nossos olhos para o espaço sideral, procurando respostas para nossas origens e buscando novos mundos que tenham as mesmas condições de vida que as nossas, lançando robôs que pousam suavemente em astros distantes e desconhecidos, o homem da Idade Média fazia perder seu olhar no grande mar oceano, reino de criaturas desconhecidas e monstruosas, perguntando o que haveria depois daquela massa de água misteriosa.
Como a busca de conhecer o desconhecido sempre levou a humanidade ao progresso, o homem medievo começou a vencer o misterioso oceano. É bem verdade que interesses econômicos influenciaram em sua decisão. A Rota da Seda, que ligava a Europa à Ásia, começou a ser bloqueada com a crescente influência do Islã, obstando o comércio de especiarias. A queda do Império Romano do Ocidente permitiu o florescimento de refinada civilização islâmica que crescia em oposição a um cristianismo atacado por todos lados por tribos bárbaras.
Coube a Portugal, pequena língua de terra encravada entre a poderosa Espanha e o oceano, a iniciativa de buscar uma rota marítima para as Índias, o que fez depois de sacrificadas tentativas, contornando suas naus o Cabo da Boa Esperança e abrindo o caminho para o comércio das valiosas especiarias.
A Espanha contra-atacou buscando o mesmo caminho, porém navegando pelo Oceano Atlântico em direção oeste, na presunção de que chegaria às Índias através de outro caminho.
Quis o destino, porém, que uma barreira inimaginável se apresentasse frente aos navios de Colombo e estava descoberto o Novo Mundo. Portugueses e espanhóis, sócios indesejados na aventura monumental que se concretizava, resolveram então dividir as novas terras descobertas e a descobrir entre as duas nações, através de ato de autoridade inquestionável, o Papa.
Como os portugueses dominavam o caminho descoberto por Vasco da Gama, que atingia as Índias contornando a África, os espanhóis continuaram em sua tentativa de lá chegarem navegando para oeste. Já existia o consenso de que terra descoberta era muito grande. Restava descobrir um caminho que ligasse o Atlântico ao outro mar que sabiam existir. Em 1519, coube ao português Fernão de Magalhães, a serviço do rei de Espanha e a frente de 265 homens distribuídos em cinco naus, lançar-se à procura desta passagem.
Desde o início, a viagem foi morosa devido ao vento fraco, mas, em 13 de setembro do mesmo ano aportaram no Rio de Janeiro, onde renovaram as provisões e repararam os navios. Logo seguiram viagem para o sul, enfrentado dificuldades, ameaças de motim, falta de comida saudável, sempre à procura da passagem que os impelisse ao outro mar e às Índias. Treze meses depois da parada no Rio de Janeiro, a frota, avariada, encontra o que poderia ser um canal de ligação dos dois mares.
Por vinte e sete dias, os navegantes tentam vencer o difícil estreito – que receberia seu nome – cercado por fogueiras feitas pelos nativos, daí Magalhães batizar a região de Terra do Fogo. Finalmente, no dia 17 de novembro de 1520, descortina-se um mar calmo, logo chamado de Mar Pacífico, denominação usada até hoje. A esquadra prossegue a viagem a oeste, rumo às Índias.
Várias ilhas, que lhes fornecem frutas e água, são visitadas, até atingirem as Filipinas. Numa de suas ilhas, Fernão de Magalhães é morto pelo selvagens. A viagem prossegue sob a liderança de Juan Sebastian Elcano e, finalmente, em maio de 1522, retornam ao porto de partida, poucos homens amontoados na única nau que restara. Estava feita a primeira viagem de circum-navegação da Terra, abrindo caminho para a globalização da humanidade, que só iria se concretizar realmente quatro séculos depois.