A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nesta quarta-feira, 26 de fevereiro, a Campanha da Fraternidade de 2020. O tema é a preservação da vida. Um dos tópicos do texto-base é o uso de redes sociais para disseminar conteúdos violentos. A Igreja Católica alerta para o risco de cristãos entrarem na “dinâmica perversa” da redes.
Em Ribeirão Preto, o anúncio foi feito pelo arcebispo metropolitano, dom Moacir Silva, ao lado do coordenador da equipe de campanhas, padre André Luiz Massaro. A campanha foi lançada simultaneamente em todo o País, com o tema “Fraternidade e vida: dom e compromisso”, e o lema “Viu, sentiu compaixão, e cuidou dele”. Com base no lema, segmenta e orienta as ações dos católicos em três pilares – ver, sentir e cuidar.
“As redes sociais, infelizmente, têm funcionado, em muitos casos, como uma caixa amplificada que reverbera todos esses tipos de violência, causando grande mal à vida. A banalização da vida alcançou o mundo virtual por meio das fake news, dos perfis falsos e da disseminação de notícias caluniosas e raivosas sem nenhuma preocupação em verificar a veracidade do que se compartilha ou do que se curte. Esse cenário vem crescendo e ceifando vidas”, diz o texto-base.
O documento também aborda temas como aborto, feminicídio, mortes no trânsito, assassinatos de crianças e de indígenas, desemprego, conflitos por terra e água, e preservação ambiental, contra o uso de agrotóxicos e a mineração. “Essas manifestações de morte estão fazendo parte da paisagem cotidiana. Nós estamos acostumados, passamos por cima de todos os sofrimentos. Aí chamamos de indiferença”, diz dom Joel Portella.
“Existe essa segunda atitude, a morte, o sofrimento, a violência, como proposta. Está me incomodando, eu mato. Será que isso resolve o problema? Eutanásia social? Eutanásia da humanidade inteira quando tem algum problema? Essa é a pergunta que a Campanha da Fraternidade faz”, afirma. A CNBB reproduz uma crítica do papa Francisco a governos, ao afirmar que atualmente o Estado se decida mais ao viés econômico do que ao cuidado com as pessoas.
“Se, por qualquer razão, o Estado se omite, ele se equipara àquelas que promovem a morte como nos casos de guerra”, afirma a CNBB. “A incapacidade do Estado de frear a violência contribui para a banalização do mal, na medida em que grupos de extermínio determinam os que devem viver e os que devem morrer. Os poderes paralelos são fortalecidos por um Estado distante e acuado. Com isso, eles impõem a violência e a morte. Como se este fato já não fosse grave em si, ainda mais grave é a concepção daqueles que nutrem uma visão na qual o extermínio do outro soa como alívio”.
A Campanha da Fraternidade existe desde 1962, sendo lançada após o carnaval, na quarta-feira de Cinzas, quando se iniciam os 40 dias da Quaresma até a Páscoa. A Igreja Católica arrecada doações nas dioceses para apoiar projetos sociais em todo o País, entre eles as Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (Apacs). Coordenador executivo de campanhas da CNBB, o padre Patriky Samuel Batista disse que a “mão da Igreja” chega onde práticas usuais não alcançam.
Dom Moacir Silva destaca que a Campanha da Fraternidade 2020 observa a realidade brasileira, e reafirma a importância da valorização da vida e dos cuidados mútuos. “Diante de tantas situações de vida ameaçada, perseguida, não valorizada, a campanha vem para nos chamar a atenção. Vem ser um grito de ‘olhe e cuide da vida, da pessoa’. Esse é o desejo da campanha”, explica.
Dentre as ações vinculadas à Campanha da Fraternidade propostas pela Arquidiocese de Ribeirão Preto, estão encontros de capacitação de lideranças católicas, e a Coleta Nacional da Solidariedade, em 5 de abril. Uma reunião com vereadores de Ribeirão Preto e outros 19 municípios também será realizada na próxima segunda-feira, 2 de março, em que será apresentado o texto-base da campanha aos políticos.
A campanha deste ano remete à figura da freira baiana Irmã Dulce, falecida aos 77 anos em 1992, e canonizada em outubro de 2019 como Santa Dulce dos Pobres. Dulce desenvolveu trabalhos de caridade em Salvador, como o recolhimento de doentes pelas ruas da cidade, sendo apelidada de “o anjo bom da Bahia”. Com base no lema “Viu, sentiu compaixão, e cuidou dele”, a Campanha da Fraternidade 2020 segmenta e orienta as ações dos católicos em três pilares – ver, sentir e cuidar.