O Ministério da Saúde confirmou, nesta quarta-feira de Cinzas, 26 de fevereiro, o primeiro caso de um brasileiro infectado pelo novo coronavírus (Covid-19). Trata-se de um homem de 61 anos, morador da cidade de São Paulo, que esteve na região da Lombardia, no norte da Itália, entre os dias 9 e 21 de fevereiro.
O homem, o primeiro paciente com coronavírus na América Latina, reuniu-se em uma confraternização com cerca de 30 parentes no domingo de carnaval, dia 23, antes de apresentar os sinais e sintomas compatíveis com a doença (febre, tosse seca, dor de garganta e coriza). Todos os familiares estão sob monitoramento da vigilância sanitária. Segundo o Ministério da Saúde, apesar destes contatos, cada infectado, em média, transmite a doença para outras duas ou três pessoas.
“Não vamos imaginar que teremos 80 novos portadores do vírus porque alguém teve contato com 80 pessoas”, disse o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo. “Significa que o contato precisa ser um mais próximo para que haja infecção”, reforçou. De acordo com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, serão contactados também 16 passageiros que estavam nas duas fileiras da frente ou ao lado do brasileiro infectado.
O paciente retornou da Itália ao Brasil na sexta-feira (21), em voo com escala em Paris, na França. No domingo, ele fez uma reunião familiar com 30 pessoas, e foi quando começou a sentir os primeiros sintomas. Na segunda-feira (24), ele procurou o Hospital Albert Einstein. O governo informou que o paciente brasileiro de novo coronavírus não usou transporte público enquanto esteve no Brasil, o que poderia ampliar as possibilidades de infecção.
No total, as autoridades entrarão em contato com até 60 pessoas que estiveram próximas ao paciente diagnosticado em São Paulo – os 30 familiares, os 16 passageiros e outras pessoas. Apesar de ser considerado um caso que exige “alta vigilância”, a esposa deste homem não apresenta sintomas da doença, disse Mandetta.
Por enquanto, 34 pessoas estão sendo monitoradas mais de perto pelos governos de São Paulo e pelo governo federal. Desse total, 30 são parentes do homem e almoçaram na casa do paciente na capital paulista no domingo (23), entre eles, duas crianças que são netas dele. As outras quatro são pessoas que estiveram próximas dele no voo da Itália para o Brasil, na última sexta-feira (21).
De acordo com a diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde, Helena Sato, a esposa do homem que teve o caso confirmado para coronavírus está vivendo na mesma casa que ele, mas em ambiente separado. Toda a louça que ele utiliza é separada somente para ele. A esposa não apresenta sintomas da doença.
Nenhuma das pessoas que tiveram contato com o contaminado, chamadas de contactantes, apresentaram sintomas. Por isso elas não precisam estar em quarentena, segundo os protocolos que são seguidos mundialmente. Elas são apenas orientadas sobre os sintomas, procedimentos adequados e riscos.
“É um caso que a gente monitora (o da esposa). Só passa a ser suspeita se tem quadro febril”, afirmou o ministro. O paciente brasileiro está em isolamento domiciliar junto com a família. Ele deve voltar para a ‘vida normal’ assim que deixar de apresentar os sintomas”, disse o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira.
Atendido no Hospital Israelita Albert Einstein na segunda-feira (24), o homem foi submetido a exames clínicos que apontaram a suspeita de infecção pelo vírus. Com resultados preliminares realizados pela unidade de saúde e de acordo com o Plano de Contingência Nacional, o hospital enviou a amostra para o laboratório de referência nacional, Instituto Adolfo Lutz, para contraprova.
“Agora é que vamos ver como este vírus vai se comportar em um país tropical, durante o verão”, disse o ministro da Saúde. “Como vai ser o padrão de comportamento deste vírus, que é novo e tanto pode manter o mesmo padrão de comportamento de transmissão que apresentou no hemisfério Norte, onde, nesta época, está fazendo frio”, disse o ministro.
Em nota, o hospital afirma que o paciente encontra-se em bom estado clínico e sem necessidade de internação, permanecendo em isolamento respiratório domicilar pelos próximos 14 dias. “A equipe médica segue monitorando-o ativamente, assim como as pessoas que tiveram contato próximo com ele”, informou o Albert Einstein.
Após a confirmação, o Ministério da Saúde reforçou medidas anteriormente anunciadas pela pasta. Entre as ações estão aquisição de máquinas e insumos para unidades de saúde, aluguel de 1 mil leitos de cuidado intensivo caso haja necessário e orientação em aeroportos. “Com certeza vamos passar por essa situação aguardando, com investimento em pesquisa, ciência e clareza de informação. A população terá todas as informações que sejam necessárias para que cada um se organize e tome as devidas precauções”, disse o ministro.
Autoridades de saúde dos Estados Unidos disseram ontem que começaram experimentos clínicos para testar o medicamento antiviral da Gilead Sciences, o remdesivir, em pacientes hospitalizados com o coronavírus, dizem agências internacionais de notícias. O primeiro participante do experimento é um americano que foi repatriado após ter sido colocado em quarentena no navio de cruzeiro Diamond Princess.
O navio ficou isolado no Japão, e o estudo está sendo conduzido no Centro Médico da Universidade de Nebraska em Omaha, conforme o National Institutes of Health (NIH). Ainda ontem, a farmacêutica Moderna informou que mandou frascos da vacina experimental contra o coronavírus chamada ARNm-1273 para o NIH em Bethesda, no Estado de Maryland.