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Bide: ritmista, compositor e sambista

Alcebíades Maia Barcelos, vulgo Bide, nasceu em Niterói, e em 1908 sua família transferiu-se para o Rio de Janeiro, indo residir no bairro do Estácio de Sá. Ali, na juventude, iria se empregar como sapateiro em uma fábrica. Na década de 1920, acompanhado pelo irmão, Rubem Barcelos, começou a frequentar as rodas de samba do Estácio, onde também apareciam sambistas que seriam responsáveis por um ritmo despido do estilo mais próximo do maxixe, muito comum na época. Entre esses sambistas, dos quais iria se aproximar estavam Baiaco, Brancura e Ismael Silva.

Em 1926 conheceu Ismael Silva. No Estácio, tornou-se conheci­do do flautista Benedito Lacerda, também morador daquele bairro e com quem passou a tocar sambas, ao cavaquinho. Desse seu inte­resse pelo mundo do samba, nasceu em 1927, a sua composição “A malandragem”. No mesmo ano, conheceu em uma gafieira do Largo do Rio Comprido o cantor Francisco Alves, que adquiriu seu samba “A malandragem” e gravou no ano seguinte na Odeon, constando a autoria do samba como sendo uma parceria dos dois.

Em 1928, foi um dos fundadores da primeira escola de samba, a Deixa Falar, ao lado de Ismael Silva, Baiaco, Brancura, Mano Aurélio, Heitor dos Prazeres, Mano Rubens, Nilton Bastos e Mano Edgar. Foi, antes de tudo, um pioneiro na instrumentação das baterias de escolas de samba. A ele se deve a introdução do surdo e do tamborim no acompanhamento dos sambas cantados pelos componentes da “Deixa Falar”. Chegou a fabricar instrumentos de percussão aproveitando latas de manteiga. Após a gravação de seu primeiro samba (antes mes­mo que Ismael Silva tivesse sido gravado), decidiu abandonar o ofício de sapateiro para investir na carreira de compositor.

Duas músicas suas seriam cantadas pela Deixa Falar no Carnaval de 1932, “O meu segredo” e “Rir para não chorar”. No ano seguin­te, Mário Reis gravou na Victor seu samba “Fui louco”, parceria com Noel Rosa e Luiz Barbosa, o samba “Vou te dar”, parceria com Getúlio Marinho. Ainda em 1933, por seu intermédio, Ataulfo Alves consegue gravar o primeiro samba de sua autoria na Victor. Tam­bém em 1933, conheceu seu maior sucesso, o samba “Agora é cinza”, gravado por Mário Reis na Victor.

“Agora é cinza”, parceria com Armando Marçal, com quem fez muitos dos seus sambas, alcançou sucesso imediato no carnaval de 1934, sendo a vencedora do concurso de músicas carnavalescas da prefeitura do Distrito Federal, composição que teve mais de cem gravações. A parceria com Marçal se firmou como uma das mais frutíferas na história do samba. Na maioria das vezes, ficava com a melodia e Marçal com a letra. Ainda em 1934, compôs com Alber­to Ribeiro, “Você me deu o bolo” e, com Armando Marçal, “Cruel ciúme”, sambas gravados por Sílvio Caldas, na Odeon.

No ano seguinte, o mesmo Sílvio Caldas voltou a gravar duas de suas parcerias com Alberto Ribeiro, a marcha “São Tomé” e o samba “Implorando meu perdão”. No mesmo ano, fez com Valfrido Silva, a marcha “Entre outras coisas”, gravada por Carmem Miranda e, com Roberto Martins, a marcha “Chave de ouro”, gravada por Araci de Almeida. Em 1936, Carmen Miranda gravou, de sua parceria com Valfrido Silva, o samba “Quem canta, seus males espanta!”.

Em 1970, em consulta feita pelo produtor Marcus Pereira e 14 dos maiores críticos do Brasil, o samba “Agora é cinza” foi escolhido como o samba mais bonito dentre todos os demais, o que mereceu um LP edita­do pelo selo Marcus Pereira. Em 1971, Mário Reis regravou o samba “Fui louco”, parceria com Noel Rosa. Em 1973 mudou-se do Estácio, onde sempre vivera, para o conjunto residencial dos músicos do bairro carioca de Inhaúma, passando aí os últimos anos de vida. Em 2004, seus sambas “Agora é cinza”, “Meu sofrimento” e “Nosso romance”, os três com Marçal foram incluídos na caixa de três CDs “Um cantor moderno” lançada pela BMG com a obra do cantor Mário Reis.

Salve Bide, grande ritmista, compositor e sambista brasileiro!

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