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Polêmica: HC pode ficar sem 130 leitos

ALFREDO RISK-ARQUIVO

A situação é crítica no Hos­pital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da Universidade de São Paulo (USP). A falta de funcionários já levou à sus­pensão de 25% das cirurgias e anda há o risco iminente de fechamento de 14% dos 920 leitos que a instituição man­tém na cidade, nas unidades Campus, na Zona Oeste, e de Emergência, na região central.

O possível fechamento de 130 leitos para internação foi discutido na sexta-feira (14), durante reunião do corpo clí­nico. A falta de enfermeiros e médicos anestesistas já resul­tou na paralisação de nove cen­tros cirúrgicos durante a sema­na, impedindo a realização de um quarto das cirurgias agen­dadas. O Hospital das Clínicas realiza cerca de 1,5 milhão de procedimentos por ano – entre cirurgias, consultas, exames e tratamentos ambulatoriais.

O HC de Ribeirão Preto tem 5.918 servidores, mas o sindicato da categoria alega que faltam 440 profissionais. Segundo o médico especialista em saúde pública José Sebas­tião dos Santos, ex-secretário municipal da Saúde de Ri­beirão Preto, as cirurgias não são realizadas porque não há pessoal de enfermagem para o tratamento pós-operatório e também faltam anestesistas.

Ele ressalta que a institui­ção, referência em saúde na América Latina, produz pouco e impede a formação de recur­sos humanos, destruindo a ca­deia de produção assistencial. Por meio de nota enviada à im­prensa, o Hospital das Clínicas informa que “atualmente, há uma redução de pessoal em função de demissões voluntá­rias e aposentadorias. Estamos em tratativas com o governo do Estado para a reposição das vagas”, diz o comunicado.

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo diz em comunicado que está em di­álogo com o HC para auxiliar na garantia de assistência aos pacientes, mas não respondeu ao Tribuna quando o déficit de mão de obra será resolvido. De acordo com José Sebastião dos Santos, a ala para cirurgias digestivas do HC vai ficar sem operação até esta quinta-feira (20), devido à falta de aneste­sistas e enfermeiros para dar suporte aos médicos cirurgiões.

Ele também informa que a prioridade no momento é para atender os casos de urgência e emergência, mas alerta que, neste ritmo, sem a reposição dos funcionários que pediram demissão ou se aposentaram, os pacientes em situação me­nos graves correm o risco de “migrar” para o setor dos pro­cedimentos urgentes.

O presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da 12ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB­-RP), o advogado João Rafael Mião, diz que encaminhará um ofício à OAB na capital paulista para que esta notifique a Secretaria Estadual da Saúde. Ele ressalta que o problema no HC não afetará apenas os pa­cientes de Ribeirão Preto, mas de todas as cidades da região.

O Departamento Regional de Saúde (DRS XIII) atende Ribeirão Preto e mais 25 cida­des: Altinópolis, Barrinha, Ba­tatais, Brodowski, Cajuru, Cás­sia dos Coqueiros, Cravinhos, Dumont, Guariba, Guatapará, Jaboticabal, Jardinópolis, Luís Antônio, Monte Alto, Pitan­gueiras, Pontal, Pradópolis, Santa Cruz da Esperança, San­ta Rita do Passa Quatro, Santa Rosa de Viterbo, Santo Antô­nio da Alegria, São Simão, Ser­ra Azul, Serrana e Sertãozinho.

Em maio do ano passado, o secretário de Estado da Saúde de São Paulo, José Henrique Germann Ferreira, esteve em Ribeirão Preto e anunciou o repasse de R$ 3 milhões para a contratação de 76 novos pro­fissionais – entre eles médicos, enfermeiros e agentes de saúde – para o Hospital das Clínicas. Na época, em abril, o hospital suspendeu os transplantes de fígado por falta de anestesistas.

O deputado estadual Rafa­el Silva (PSB) também enviou nesta terça-feira, dia 18, ofício ao secretário José Henrique Germann Ferreira questio­nando a falta de servidores e o possível fechamento dos lei­tos nas duas unidades do HC. No documento, destaca que o hospital é “referência nacional e internacional”, e afirma que o déficit de funcionários vem “deixando pacientes em situa­ção de risco”.

O deputado também soli­citou “medidas urgentes para reposição desses cargos”. Em abril do ano passado, quando a instituição suspendeu os trans­plantes de fígado, ele apresen­tou, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), pedido de convocação do secretário estadual da Saúde. Também nesta terça-feira, à tarde, o de­putado federal Ricardo Silva (PSB), filho de Rafael, esteve com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para dis­cutir a situação do HC.

De acordo com o parla­mentar, Mandetta deverá se reunir com a direção do HC para tratar dos problemas. A data será divulgada nos próxi­mos dias. “Temos um hospital que é referência nacional e in­ternacional, com profissionais de renome no mundo. Nossa luta é para que o HC possa se­guir atendendo cada vez mais pessoas, avançar em pesqui­sas, como a do câncer, e não o contrário”, afirma Ricardo Sil­va, que, após o encontro com o ministro, já na Câmara dos Deputados, fez um pronuncia­mento da tribuna, defendendo investimentos no HC.

Emenda parlamentar
O deputado federal Ale­xandre Frota (PSDB-SP) anun­ciou em sua conta no Twitter uma emenda parlamentar, no valor de R$ 1,4 milhão, soli­citada pela direção do HC de Ribeirão Preto, cidade em que obteve 1.895 votos na eleição de outubro de 2018.

Ex-ator de novelas e de fil­mes pornô, Frota diz que este­ve reunido com a direção do hospital no início de fevereiro. A quantia tem o objetivo de au­xiliar nos custos de exames de ortopedia infantil. De acordo com o gabinete de Frota, o ofício informando sobre o repasse já foi encaminhado para o gover­no paulista. Não há data para a liberação dos recursos.

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