Em janeiro passado celebramos os setenta e cinco anos da libertação dos prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, ocasião propícia para refletirmos sobre as diversas barbaridades a que são submetidos os seres humanos pelos próprios semelhantes, aos quais foi dada a responsabilidade de proteger e defender. Quantas crueldades encerradas dentro daquele ambiente sustentadas pelo silêncio, medo, omissão, interesses e loucura de pessoas movidas por desejos destemperados e desequilibrados alimentados por ódio e ressentimento.
Os campos de extermínio, ou campos de concentração funcionaram durante a segunda guerra como um depósito de pessoas condenadas sem culpa aparente, somente pelo fato de serem judeus. Milhões de pessoas perderam a vida por decisão de um ditador malévolo e seus sanguinários companheiros que se divertiam com o sofrimento de pessoas que nunca lhes fizeram qualquer mal. Até hoje as paredes de Auschwitz parecem chorar; o céu sempre cinzento não deixa de lembrar quantos gritos sofridos de mães, pais, crianças e idosos condenados só pelo fato de serem judeus, como Jesus. E o pior, é que ainda hoje esses sentimentos doentios ainda encontram abrigo em pessoas que parecem não sentir as dores e sofrimentos de seus semelhantes.
“Nunca mais holocaustos”, pedia o Papa; nunca mais holocaustos de refugiados que buscam viver com dignidade e vencer a fome; nunca mais holocaustos proporcionados por ódio, inimizades ou ressentimentos; nunca mais ditaduras movidas por ideologias que enganam os pobres e os massacra; nunca mais mortes antes do tempo. Nunca mais a guerra!
Um sentimento desastroso que justificava matar judeus, ciganos e portadores de deficiência dentre os massacrados nos campos de concentração era a perigos qualificação de que esses eram os “inferiores” e que deviam dar lugar a uma raça pura e sem defeito; esse argumento, que não combina com o cristianismo, é muito semelhante ao de Herodes que, se sentindo ameaçado, mandou matar as crianças indefesas, em Belém, pensando matar Jesus. E o que mais me causa espanto é quando escuto algumas pessoas justificando esse tipo de pensamento, e achando que alguns são superiores aos demais.
O Evangelho ensina justamente o contrário, pois Jesus afirma que “quem quiser ser grande, seja o servidor, o menor, o que serve aos outros”. Estranho que alguns irmãos nossos se julguem melhor, acima dos outros, não aceitam pensamentos divergentes, chegam a se separar e fechar em grupos religiosos para não se misturarem com o “povão”… Isso me cheira certo nazismo. Pode ser julgamento meu, mas enquanto não derrubarmos os muros de isolamento, enquanto não abrirmos portas de diálogo e entendimento, não seremos a Igreja que nasce do lado aberto de Jesus; enquanto não vencermos o novo farisaísmo travestido em práticas religiosas desprovidas de misericórdia, enquanto não acolhermos os pobres que nos procuram, enquanto não vencermos o mal pela prática do bem não seremos presença viva do Servo de Iahweh que carrega sobre si os pecados da humanidade e nos chama a fazer o mesmo.
Tive a oportunidade de conhecer dois campos de concentração: o de Dachau próximo a Munique na Alemanha e o de Auschwitz na Polônia, no ano de 1986, ainda antes da queda do Muro de Berlim, antes da unificação da Alemanha Ocidental com a Oriental. O odor da morte de milhões de inocentes exterminados nesses dois campos penetrou até o íntimo de minha alma.
Uma sensação indescritível. Por isso devemos nos esmerar por deixar-nos envolver por aromas de paz, harmonia e amor. Holocaustos, nunca mais!