Manoel Fernandes do Nascimento não teve ainda reconhecida a sua importância na história de Ribeirão Preto. Nunca é citado entre aqueles considerados “fundadores”. Sobre ele, sabíamos até pouco tempo, que havia sido assassinado por tentar abrir uma rua no fundo do quintal de um dos mandões da época. E era praticamente só isso. Osmani Emboaba da Costa, o grande historiador que definiu a data de fundação da cidade, quando se comemorava o seu centenário em 1956, já havia dado à luz vários documentos com a sua assinatura, mas acredito que não avançou na interpretação de sua importância para aqueles tempos.
Além dos “fundadores” oficiais que fizeram as famosas doações de terrenos para a construção da capela que deu origem à cidade, outra figura de grande destaque em todo este processo de “fundação” da comunidade foi o nosso Manoel. Os documentos mostram que ele era o grande organizador da comunidade na luta pela construção da capela e de uma povoação. Primeiro na fazenda das Palmeiras, o nosso bairro atual com o mesmo nome. Depois na fazenda Barra do Retiro, que inclui a região central de Ribeirão Preto. Sua assinatura como testemunha aparece nos documentos de doações de terra na fazenda das Palmeiras nas tentativas fracassadas de constituição ali de um patrimônio eclesiástico desde 1853.
Manoel Fernandes do Nascimento foi o primeiro fabriqueiro nomeado para a capela de São Sebastião do Ribeirão Preto pelo bispo de São Paulo em 1859. O termo fábrica era utilizado para designar os rendimentos da propriedade da Igreja, inclusive do seu patrimônio de terras com a cobrança do foro daqueles que quisessem se fixar em seus domínios. O fabriqueiro seria, portanto, o administrador e zelador da fábrica, por provisão eclesiástica. Está justamente aí a origem do laudêmio que até hoje se paga à Igreja nas transações de compra e venda de imóveis na região central da cidade.
Manoel Fernandes pode ser considerado o primeiro urbanista de Ribeirão Preto. Cumprindo seu trabalho como fabriqueiro, foi ele quem abriu as primeiras ruas e travessas do arraial e demarcou seu largo central, que é hoje a nossa Praça XV. Mineiro como a maioria dos primeiros habitantes, pagou com a vida pelo sonho e atrevimento de querer edificar uma cidade. Foi com certeza a maior vítima de todo um conjunto de tensões e conflitos que emergiu naqueles tempos tão difíceis, mas tão esperançosos. De esperanças levadas à frente por toda a sua numerosa descendência que se espalha atualmente por Ribeirão Preto, São Simão, Serrana e Serra Azul.
Vamos conhecer melhor a vida deste Manoel. Ele era filho de outro Manoel, natural da Ilha da Madeira, e de Albina, natural de Nossa Senhora da Soledade de Itajubá (hoje, Delfim Moreira), onde se casaram em 25/02/1797. Manoel aparece no recenseamento feito em Minas Gerais em 1832, no distrito da Matriz Nova do Itajubá (atual Itajubá), então com 15 anos de idade, com sua mãe já viúva, mas comandando uma propriedade com vinte escravos. Na sua família aparece um agregado, muito provavelmente um parente de seu pai, chamado Ignacio, com 18 anos. Pode ser um primo ou um tio. O documento não deixa claro.
Este Ignacio tem grande chance de ser Ignacio Bruno da Costa, um dos que doaram terreno para a construção da capela de São Sebastião do Ribeirão Preto, também originário de Itajubá, que chegou à região do nordeste paulista na mesma época que Manoel Fernandes. Podem ter vindo juntos. Manoel se casou, pela primeira vez, com Marcolina Placidina da Costa em 29/08/1834 no Itajubá Velho, e pela segunda vez, com a irmã dela, Paulina Placidina da Costa não se sabe onde. Outra possibilidade é que essas irmãs tenham alguma relação de parentesco com Ignacio Bruno da Costa, já que tinham o mesmo sobrenome, mas é apenas uma hipótese. Continuamos no próximo sábado.