Tribuna Ribeirão
Cultura

Tá no ar – Paródia dos telejornais

Por Adriana Del Ré

O humorístico Tá No Ar encerrou sua trajetória no ano passado, na sexta temporada, abrindo caminho para outro produto do gênero no horário. Estreia nesta terça-feira, 21, na Globo, depois do BBB 20, o programa Fora de Hora, que brinca com os telejornais, reunindo no elenco diversos atores ligados ao núcleo de humor da casa, como Paulo Vieira, Marcelo Adnet, Júlia Rabello, Renata Gaspar, Caito Mainier, Marcius Melhem, Welder Rodrigues, Luciana Paes, Renata Gaspar, Luís Lobianco, entre tantos outros. Seguindo uma fórmula já vista em outros programas como Viva o Gordo, de Jô Soares, TV Pirata, Furo MTV e o próprio Tá no Ar, Fora de Hora desconstrói a linguagem desse formato do jornalismo, reproduzindo elementos característicos dos noticiários de TV pelo filtro do humor.

E, como em todo telejornal, tudo começa pela bancada, que, em Fora de Hora, é ocupada pelos âncoras e editores-chefe Renata (Renata Gaspar) e Paulo (Paulo Vieira). Experiente, ela conhece os macetes de trabalhar na emissora e acha normal os repórteres se envolverem em roubadas nas pautas. Já ele, novato no canal, se solidariza com os repórteres que se metem em enrascadas.

De lá, a dupla coordena seu time, do qual fazem parte figuras como Esteban Saldanha (Adnet), o repórter investigativo que faz tudo pela notícia; Fabíola Argento (Veronica Debom), repórter justiceira do consumidor; e Sandra Caminelli (Luciana Paes), que acaba deixando a notícia em segundo plano para resolver perrengues envolvendo os três filhos e o ex-marido.

“É um esquema meio de trupe. Então, esse grupo de atores, de diferentes gerações e programas da Globo, fazem de tudo: entrevistado, repórter, figurante, comentarista na bancada. O protagonista está espalhado por todo programa”, explica a diretora artística do Fora de Hora, Lilian Amarante, em entrevista ao Estado. “A gente teve vontade, desde o começo, de transformar alguns deles em repórteres fixos, que pudessem se tornar personagens mais consistentes na temporada. Há um grupo específico de repórteres que compõem o núcleo duro do programa ”

Lilian é jornalista de formação. Chegou a trabalhar na área por anos até migrar para o entretenimento. Na extinta e clássica MTV, esteve envolvida no segmente do humor, à frente de programas como Comédia MTV e Furo MTV. No Multishow, é diretora das bem-sucedidas quatro temporadas do Lady Night, apresentado por Tatá Werneck. Por falar em Lady Night, Lilian diz que o sucesso do talk-show foi muito além do que se imaginava. “Se bem que conheço a Tatá há muitos anos, e trabalhamos juntas na MTV. O potencial da Tatá e aonde ela poderia chegar, eu já vislumbrava há muito tempo. Aí ela saiu de lá, teve trajetória por novelas, outras participações, mas, quando a gente começou a trabalhar em cima de Lady Night, falei: nossa, ela aprende rápido demais. Até eu mesma me surpreendi com a capacidade dela de articular um pensamento todo, um princípio, um conceito.”

Fake news. Fora de Hora é o primeiro trabalho da diretora na Globo. Para ela, este é um momento ideal para um programa nesses moldes. “O mundo, de certa maneira, vai tomando um caminho que, às vezes, a gente brinca que é o máximo da potência do ‘a vida imitando a arte’. Essa linha que define o que é real e o que não é real. Discutir essa linha é vital. Para mim, como jornalista – aqui sou diretora de um programa de humor, mas meu background é todo jornalístico -, o grande interesse é trabalhar em cima dessa linha”, pondera Lilian. “É um olhar crítico sobre isso, hoje pode-se produzir conteúdo de qualquer lugar, com qualquer fonte, é um momento intricado para mídia no mundo inteiro.”

E como o programa, que parodia justamente os noticiários, vai tratar de temas como fake news? “A gente vai brincar, e vai sempre mexendo nisso, de alguma maneira; não produzindo fake news, mas criando situações que mostram como é possível você perder a noção desse limite entre o que é real ou não. E é óbvio que ali todas essas brincadeiras e loucuras, que são fictícias dentro desse programa, estão num contexto em que vão ser percebidas como tal e não como uma produção de fake news. Então, na hora que a gente está brincando com isso, a gente está questionando, criticando isso”, responde. O leque de assuntos abordados será amplo, como nos noticiários: política, educação, saúde, entre outros.

Sobre as eventuais comparações com outros quadros ou programas do gênero, como Furo MTV, Lilian ressalta que há muito tempo que se brinca com esse formato jornalístico. “O Furo foi um dos programas que eu desenvolvi na MTV, mas vim aqui para fazer outro projeto, que era anterior a esse. Era um projeto que incluía vários palcos, de shows, e um dos palcos era mais jornalístico, só que ele acabou não se realizando. Então, a gente resolveu investir no que seria uma parte desse primeiro programa, que era um flerte com o jornalismo”, conta. “Pensamos num telejornal, mas telejornal, para mim, é um gênero, não é um formato a ser copiado, mesmo um telejornal de humor. É como se eu, ao fazer o programa com a Tatá Werneck, estivesse imitando Jimmy Fallon ou Ellen DeGeneres. Estou fazendo um talk-show de um determinado jeito, e aqui também é isso: vamos misturar jornalismo com humor numa nova receita. O Furo MTV, por exemplo, era um telejornal que não tinha matéria, só dois apresentadores, até porque isso que era possível fazer com os recursos da MTV. Aqui é um elenco de mais de dez pessoas. Então, acho que o resultado é muito diferente.”

Com 13 episódios, o Fora de Hora tem ainda direção de Calvito Leal e Manuh Fontes, e redação final de Maurício Rizzo e Caito Mainier. O programa é um dos produtos do núcleo de humor da Globo, que está sob o comando de Marcius Melhem – o humorista também faz parte do elenco da nova atração. No final do ano passado, surgiu a notícia de que Melhem teria sido acusado de assédio moral por humoristas da emissora. Questionada sobre o assunto, Lilian não quis comentar. “Estamos todos mergulhados no programa.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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