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Morre Luiz Vieira, autor do ‘2º hino de RP’

DIVULGAÇÃO/MARCELLO CASTELO BRANCO

Morreu nesta quinta-feira, 16 de janeiro, o cantador, com­positor e radialista Luiz Vieira, aos 91 anos. Ele estava internado na Casa de Saúde José, na Zona Sul do Rio de Janeiro, para onde foi levado após passar mal, em casa, na noite de quarta-feira (15). Além de sucessos como “Prelúdio para ninar gente gran­de (Menino passarinho)”, “Paz do meu amor” e “A voz do povo”, ele também compôs “Cantiga pra Ribeirão Preto”, considerado o “hino não oficial” da cidade, lançado em 2011.

Segundo o colunista social Sérgio Rocha, amigo pessoal de Luiz Vieira, quando estava em Ribeirão Preto o compositor só ficava hospedado no Prince Ho­tel, na rua Augusto Severo, atrás da praça Francisco Schmidt, na Vila Tibério, para observar a revoada das andorinhas no fim da tarde. Ali, um dia, começou a rascunhar “Cantiga para Ri­beirão Preto”, gravada por ele e depois por Sérgio Reis.

Sérgio Rocha trouxe Luiz Vieira várias vezes para Ribeirão Preto para a tradicional Festa do Troféu Clubes da Cidade, pro­movida pelo colunista. O compo­sitor se apaixonou pepal cidade e pelos amigos que angariou por aqui, como o próprio jornalista, o delegado Décio Agostinho Gon­zález, o compositor Euler Rocha, o radialista e comunicador Íris Mendes Ribeiro, o advogado Paulo Caldo, o deputado Marce­lino Romano Machado, o jorna­lista Jarbas Cunha, entre outros.

Na foto, o advogado doutor Paulo Caldo e esposa, Luiz Vieira (centro), Sérgio Rocha e a esposa do compositor durante evento no Clube Vale do Sol – ARQUIVO PESSOAL/SÉRGIO ROCHA

Era cidadão ribeirão-preta­no – recebeu o título de cidada­nia da Câmara de Vereadores. O projeto foi proposto inicialmen­te pelo vereador Wilson Santia­go, em 1978, mas acabou sendo retirado em janeiro de 1983. Em 1986, o vereador Sidney Zucolo­to, pai do atual vereador Renato Zucoloto, reapresentou a pro­positura, aprovada em março daquele ano. Em 11 de abril de 1991, Luiz Vieira recebeu o títu­lo de cidadania em solenidade realizada no Teatro Municipal.

Durante o evento, Luiz Viei­ra leu um poema em que men­ciona todas as pessoas citadas acima, com versos diferentes para cada uma delas – inclusive ao prefeito da época, o jornalista e radialista Welson Gasparini –, e, é claro, com vários elogios à ci­dade de Ribeirão Preto. Em um dos trechos, diz que “este título honroso que me faz tão orgu­lhoso, que esta Casa me confere, me encanta, me desvanece, é algo que não se esquece até que a morte me espere”.

E prossegue: “Pelas esquinas da vida, verá a luz pressentida do meu riso debochado, a dizer-lhe com certeza, vou contigo na be­leza de ter meu peito bordado, pelo amor e pelo afeto, com o coração repleto a viver o ‘Rigol­leto’ de Verdi, gênio e paixão, afinal sou cidadão da nossa Ri­beirão Preto”.

Eurídice Pereira, casada há 30 anos com Vieira, conta que ele já vinha apresentando a saú­de fragilizada. Depois de passar a noite internado, ele teve uma parada cardíaca e morreu às 7h30 desta quinta-feira. Luiz Rattes Vieira Filho nasceu em Caruaru, em Pernambuco (PE), mas se mudou para o Rio de Ja­neiro ainda criança, aos 10 anos. Foi criado pelo avô em Alcânta­ra, no município de São Gonça­lo, e na década de 1940 começou a se apresentar como crooner em bares da Lapa.

Tornou-se “príncipe do baião” durante sua passagem pela Rádio Tamoio, quando se apresentou ao lado de Luiz Gonzaga no programa “Salve o baião”. Como compositor Vieira tem mais de 500 músicas grava­das por diversos artistas, entre os quais Caetano Veloso, Taiguara, Pery Ribeiro, Nara Leão, Moacyr Franco, Hebe Camargo, Augusto Calheiros, Gilberto Alves, Ag­naldo Rayol, Elba Ramalho, Luiz Gonzaga, Cascatinha e Inhana, Sérgio Reis, Rita Lee, Marcelo Costa e Maria Bethânia.

Em outubro de 2018, foi re­alizado um show em São Paulo como tributo aos 90 anos do artista. A homenagem contou com a presença de nomes como Daniel, Renato Teixeira, Zeca Baleiro, Sérgio Reis, Claudette Soares, Edy Star, Maria Alcina, As Galvão, Verônica Ferriani e Ayrton Montarroyos. Em maio do ano passado, a apresentação virou disco. Ficou conhecido nos anos 1950 pelo seu trabalho como radialista nas rádios Tupi e Record. Como compositor, “Menino de Braçanã” (1953) foi seu primeiro sucesso. A canção ficou famosa nas vozes de Ro­berto Paiva e Ivon Curi.

Lançou cerca de 30 discos, alguns compactos simples em 78 rotações, que antecedeu o long play (LP, vinil). Seu nome foi uma homenagem ao avô. No Rio de Janeiro, exerceu diversas atividades antes de ingressar na vida artística. Foi chofer de ca­minhão, motorista de táxi, guia de cego, engraxate e lapidário. Quando criança cantou em cir­cos e parques de diversão. Aos oito anos, produziu sua primeira composição.

No início da sua carreira can­tava músicas românticas, valsas e samba-canções. No programa de Renato Murce, no Rio de Ja­neiro, imitou Vicente Celestino. Foi crooner de orquestra num cabaré do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Conseguiu ser contra­tado pela rádio Tupi, por inter­médio de Paulo de Grammont. Em 1950, acabou sendo contra­tado pelas rádios Tupi e Record, de São Paulo, que pertenciam às Emissoras Associadas.

Em 1954, era cantor da rádio e televisão Record de São Paulo, permanecendo até 1961. Traba­lhava na rádio Nacional (CBN). “Encontro com Luiz Vieira”, o programa da TV Excelsior, canal 9, de São Paulo, estreou no ano de 1962. Neste mesmo ano ga­nhou as paradas de sucesso com a canção “Prelúdio pra ninar gente grande”, mais conhecida como “Menino passarinho”.

Em 1963 gravou outro gran­de sucesso, “Paz do meu amor (Prelúdio nº 2)”. Chegou a fazer diversas viagens aéreas por se­mana, para fazer cinco progra­mas de televisão. Não gostava de ser chamado de cantor, mas, sim, de cantador. Luiz Vieira era estudioso das músicas de cordel. Ele será sepultado nesta sexta­-feira (17), no Rio de Janeiro.

A letra de ‘Cantiga para Ribeirão Preto’

Ê, ê, ê Ribeirão
Sou de Ribeirão, sim senhor
Ê, ê, ê Ribeirão
Dos campos verdinhos em flor
Ê, ê, ê Ribeirão
Capital do interior
Ê, ê, ê Ribeirão

Meu estudo na faculdade, minha juventude a cantar
No papo travesso e vadio, das rodas de chope do bar
Semeios de grãos que anua, salpica da luz do luar
Coloca um aviso na rua que a noite é convite pra amar
Lá em Ribeirão

Ê, ê, ê Ribeirão
Sou de Ribeirão, sim senhor
Ê, ê, ê Ribeirão
Meu Ribeirão Preto do amor
Ê, ê, ê Ribeirão
Capital do interior
Ê, ê, ê Ribeirão

Meu curso de amor, minha prova
Princípios do meu caminhar
Carinhos de saudade nova
Preparo pro vestibular

Minha Ribeirão poesia
Minha capital do saber
Minha reza, Salve Rainha
Ninguém poderá te esquecer
Minha Ribeirão

Ê, ê, ê Ribeirão
Sou de Ribeirão, sim senhor
Ê, ê, ê Ribeirão
Dos campos verdinhos em flor
Ê, ê, ê Ribeirão
Capital do interior
Ê, ê, ê Ribeirão

Nas praças pardais trovadores
Nos campos cafezais em flor
O gado e seus reprodutores
Com medalhas de vencedor

Poetas, amigos se encontram
Nos campos do amor pra valer
Lirismos da terra que cantam
A graça da gente viver
Lá em Ribeirão, Ribeirão

Ê, ê, ê Ribeirão
Sou de Ribeirão, sim senhor
Ê, ê, ê Ribeirão
Minha Ribeirão do amor
Ê, ê, ê Ribeirão
Capital do interior
Ê, ê, ê Ribeirão

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