A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) confirmou, na manhã desta quinta-feira, 16 de janeiro, a morte da menina de oito anos vítima de dengue hemorrágica. Maria Gabriela Quintino morava com a mãe em São Simão, na Região Metropolitana, e desde o início desta semana, quando começou a passar mal, estava na casa do pai, Leandro Quintino, no Jardim Procópio, na Zona Norte de Ribeirão Preto.
A família diz que houve negligência no atendimento porque a criança passou por uma unidade de saúde em São Simão, na segunda-feira (13), e duas vezes pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da avenida Treze de Maio, no Jardim Paulista, em Ribeirão Preto. Em nenhum dos postos os médicos detectaram que o quadro da menina era grave.
Em São Simão, segundo os familiares de Maria Gabriela, o diagnóstico foi de gripe e não de dengue, por isso os médicos receitaram medicamentos para dor, febre, ânsia e vômito, além de um analgésico e soro nasal. Segundo o pai da menina, a filha já estava com muita dor abdominal e reclamava a todo instante para a avó, que a acompanhou na consulta. A Secretaria Municipal de Saúde daquela cidade confirmou que a paciente não foi diagnosticada com a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
Já a Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão Preto, por meio de nota, informou que, até o momento, não há indício de negligência no atendimento. Em entrevista coletiva realizada na sede da pasta, na manhã desta quinta-feira, o secretário Sandro Scarpelini disse que os exames feitos pela equipe na UPA, na terça (14) e na quarta-feira (15), dia do óbito, confirmaram a dengue, mas, até a criança piorar e ser levada pela segunda vez à unidade, o estado de saúde dela era considerado bom e o tratamento domiciliar foi indicado pela equipe.
Scarpelini informa ainda que a Secretaria Municipal da Saúde investiga se menina foi infectada pelo Aedes aegypti em Ribeirão Preto ou São Simão, mas tudo indica que a doença não acometeu a criança na metrópole, pois já sentia dores antes de ser levada para a UPA. “Ainda está em aberto para a investigação se ela contraiu a doença aqui em Ribeirão Preto ou em São Simão. Tecnicamente, para nós, é importante, mas, do ponto de vista humano, não faz diferença. Infelizmente, a evolução da doença foi fulminante, e apesar do atendimento, não foi possível mantê-la viva”, lamentou Sandro Scarpelini.
“Infelizmente, é uma notícia muito triste, por conta do evento que tivemos ontem à tarde (quarta-feira), nós perdemos uma criança acometida por dengue grave. Todos os trâmites foram adotados, mas ela não resistiu”, disse na coletiva. O pai e a madrasta de Maria Gabriela, Jaqueline Cruz Quintino, discordam da secretaria ribeirão-pretana e dizem que a menina já sentia fortes dores abdominais no primeiro atendimento.
Segundo a SMS, na terça-feira a paciente foi levada à UPA com sintomas da doença já há cerca de três dias. A criança foi atendida pela equipe e seus exames tiveram resultado NS1 positivo para a doença. Ela recebeu todos os cuidados necessários e teve seu retorno agendado para as onze horas de quarta-feira, na mesma unidade de saúde. A paciente retornou no horário marcado, quando foram colhidos novos exames, que apresentaram poucas alterações e o médico assistente a liberou para observação em casa.
Cerca de quatro horas após a liberação, a paciente apresentou piora no quadro e foi levada de imediato à UPA, onde chegou em estado crítico, com parada cardíaca. Imediatamente, foram iniciadas as medidas para ressuscitação e a criança transferida rapidamente para Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas, onde por volta das 18 horas foi constatado o óbito, após nova parada cardiorrespiratória.
Sandro Scarpelini informou que a doença evoluiu para o quadro hemorrágico e de forma fulminante quando a menina era atendida pela segunda vez na UPA, mas a madrasta de Maria Gabriela discorda e diz que o sangramento teve início na ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que levava a menina para o HC-UE.
Em São Simão, onde Maria Gabriela foi diagnosticada com sintomas de gripe, a equipe médica receitou medicamentos para dor e febre (dipirona) – a menina estava com quadro febril de 40 graus –, um analgésico (paracetamol), um remédio para ânsia e vômito (bromoprida) e soro nasal. As secretarias municipais da Saúde das duas cidades seguem acompanhando o caso.
RP tem 123,1 mil casos em 11 anos
Ribeirão Preto acumula 123.173 casos de dengue e pelo menos cinco grandes epidemias em pouco mais de onze anos, desde 2009. Pior: o número de vítimas do Aedes aegypti, o mosquito transmissor, pode ser quatro vezes superior e passar de 492 mil, segundo a Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde. Um estudo divulgado durante as últimas epidemias indica que, para cada caso confirmado da doença, outros três não são notificados.
Neste caso, o número de infectados pode chegar a 492.692 pessoas em onze anos. Ribeirão Preto constatou 1.700 casos em 2009, mais 29.637 em 2010 (epidemia), outros 23.384 em 2011 (mais um surto), 317 em 2012, mais 13.179 em 2013 (epidemia), 398 em 2014, outros 4.689 em 2015, mais 35.043 em 2016 (o maior surto da história), 246 casos em 2017 (a menor incidência), 271 em 2018 e mais 14.189 no ano passado.
A Secretaria Municipal da Saúde alerta a população para eliminar materiais inservíveis que acumulem água parada, ambientes ideais para proliferação do Aedes aegypti, como potes, garrafas, tampas e pneus, entre outros. Foram lotadas as caçambas de onze caminhões com lixo e entulho, criadouros potenciais do mosquito.
A Secretaria Municipal da Saúde está trabalhando além do fluxo normal para combater a proliferação do Aedes aegypti. As ações desenvolvidas durante todo o ano passado pelas equipes de agentes de combate às endemias espalhadas pela cidade consistem em visitas diárias em residências, comércio, indústria, com trabalho de nebulização, identificação de focos (água parada e objetos potenciais) positivos para proliferação do mosquito transmissor da doença, orientações à população e ações educativas em escolas.
Na entrevista coletiva desta quinta-feira (16), porém, o secretário municipal da Saúde, Sandro Scarpelini, revelou que o serviço de nebulização foi suspenso há seis meses por problemas na produção e distribuição do veneno, que não é de responsabilidade do município. Durante os arrastões de limpeza também promovidos todos os sábados do segundo semestre de 2019, já foram recolhidas mais de 126 toneladas de criadouros do mosquito. Entre eles, mais de cinco mil pneus.
Durante as visitas porta a porta, foram encontrados e eliminados mais de 2.200 focos do mosquito. Durante os arrastões de limpeza, foram visitados aproximadamente 80 mil imóveis. No ano passado inteiro, as equipes visitaram mais de 700 mil imóveis. Somente no último sábado, no Jardim Paiva, durante o trabalho rotineiro de visita casa a casa, foram encontrados 290 focos positivos do mosquito.
RP já tem 120 casos neste ano
Desde o dia 1º e até terça-feira, 14 de janeiro, Ribeirão Preto já soma 120 casos confirmados de dengue e a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) aguarda o resultado de exames de outros 580, segundo o titular da pasta, Sandro Scarpelini, que concedeu entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira (16). A média é de quase dez ocorrências diárias.
No ano passado, Ribeirão Preto registrou 14.189 casos de dengue, 13.918 a mais que os 271 de 2018, alta de 5.135%, cerca de 52 vezes superior – a quarta maior marca desde 2009. Os dados são Boletim Epidemiológico da Secretaria Municipal da Saúde. A cidade também registrou três mortes por dengue hemorrágica. A proliferação do Aedes aegypti já coloca a cidade em um cenário típico de epidemia.
A população deve ficar atenta porque, segundo Scarpelini, em 80% dos casos o criadouro do vetor está dentro de casa – o mosquito também é transmissor do zika vírus e das febres chikungunya e amarela (na área urbana). No ano passado, dentre as anunciadas vítimas do Aedes aegypti, 4.405 são da Zona Oeste, 3.848 da Zona Norte, mais 3.044 da Leste, 1.646 da Central, 1.241 da Sul e cinco sem identificação de distrito. Foram investigados 23.081 casos.
Ribeirão Preto registrou 254 casos de dengue em janeiro, 851 em fevereiro, 1.856 em março, 4.220 em abril, 4.840 em maio, 1.503 em junho, 319 em julho, 80 em agosto, 51 em setembro e outubro, 84 em novembro e 80 em dezembro.
Em 2018, foram 45 ocorrências no primeiro mês, 37 no segundo, 28 no terceiro, 42 no quarto, 35 em maio, 17 em junho, onze em julho, cinco em agosto, um em setembro, seis em outubro, cinco em novembro e 38 em dezembro. No mesmo ano, das 271 pessoas contaminadas pelo vetor, 90 eram da Zona Leste, mais 73 na Oeste, 51 na Norte, 37 na Sul e 19 na Central, além de um caso sem identificação do distrito.
Em 2017, foram registrados 246 casos, o volume mais baixo dos últimos doze anos. Em 2014 foram 398 registros. Nos demais oito anos os casos confirmados foram superiores a mil, em alguns deles passando de dez mil registros, como em 2016 (de 35.043 casos), 2010 (de 29.637), 2011 (de 23.384) e 2013 (de 13.179). O terceiro menor registro de casos ocorreu em 2012, com 317.
Chikungunya
Já para a chikungunya, cinco casos foram confirmados em janeiro de 2019. Em 2018, Ribeirão Preto atendeu oito pessoas com a febre transmitida pelo Aedes aeghypti – uma em março, uma em abril, uma em maio, outra em junho, uma em agosto, uma em setembro e duas em outubro. No entanto, fechou 2017 com aumento de 344,4%. Os dados mostram que o total saltou de nove para 40, com 31 pacientes a mais em relação a 2016. No ano passado não houve casos de zika vírus, microcefalia e febre amarela.