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Se todos os homens do mundo

Os filmes “Se Todos os Homens do Mundo” e o “Balão Verme­lho” foram lançados na mesma época, em 1956. Ambos premiados. Nas sessões de cinema, o espetáculo era iniciado com o “Balão Ver­melho” e encerrado com “Se Todos os Homens do Mundo”.

O “Balão Vermelho” narra a amizade de um menino parisiense com um balão vermelho. E a amizade do balão com aquele menino. Até a sua morte. O filme é rápido.

O primeiro foi dirigido por Cristian-Jaques e o segundo por Pascal Lambrise. Os filmes fazem parte não somente da história da arte, como também da história do homem.

“Se Todos os Homens do Mundo” narra uma viagem de pescado­res profissionais pelo Mar do Norte. Navegam num barco denomi­nado Lutécia. Entre dez pescadores franceses há um árabe mulçu­mano. Na hora do almoço um francês leva um presunto feito em sua casa que é recebido festivamente.

O árabe dispensa o presunto porque sua religião proíbe comer carne de porco. Por isso é ele desprezado pelos outros pescadores que não conseguem entender tal grau da proibição religiosa. Aos poucos todos pescadores ficam muito doentes. Menos o árabe.

O comandante do Lutécia usa o rádio amador para pedir socorro para o mundo. Um africano recebe a mensagem e transmite para o universo. Surge uma corrente de pessoas, homens e mulheres, resi­dentes nos mais variados países que iniciam um trabalho no sentido de salvar os pescadores. Sempre através do rádio amador indepen­dentemente de sua nacionalidade e da política adotada em seu país.

Alguns deles são residentes em países politicamente conflitantes. Mesmo existindo o conflito político, um homem pode salvar a vida de outro nascido do lado contrário? São naturalmente inimigos? Nasceram inimigos? Do lado contrário de uma fronteira abstrata­mente definida?

É possível afirmar que a resposta deve ser afirmativa? Todos aqueles que nascem do lado de cá necessariamente é amigo ou ini­migo! É a fronteira artificial que outorga a essência da humanidade? O filme pretende provar que todos os homens fazem parte da huma­nidade que é um vínculo acima de qualquer outra ordem, inclusive mais essencial do que qualquer fronteira politicamente considerada.
Surge o socorro. O remédio é transportado por um avião que leva um pacote contendo o remédio salvador. A neblina cobre o Lutécia. Os pilotos rodam que rodam a região até encontrar o barco.

Os pescadores arrastam-se desesperadamente pela beirada do Lutécia. Do avião lançam o pacote do remédio amarrado num para­quedas que cai próximo do Lutécia. Mas, no mar, quem poderá bus­car o pacote, se todos estão à beira da morte? O muçulmano, para espanto de todos, pula no meio das ondas e traz o remédio, salvando a vida da tripulação, composta por aqueles homens que dias atrás o humilhavam porque, em nome de sua religião, não comia presunto podre, ainda quando não fosse podre.

A essência da humanidade está na alimentação do barco? Não. A essência do homem é o homem que tem brutal dificuldade para vi­ver num mundo errado. Mas, a sua integridade leva o homem reto a sofrer em busca de consertar o meio inautêntico. Nunca o contrário. O homem somente será autêntico, mesmo num meio inautêntico, se reconhecer existir na sua essência os sinais de toda a humanidade.

E a história do menino parisiensee do balão vermelho? Fica para outra oportunidade onde será preciso identificar um meio tão autêntico que impeça a execução de homens por homens desprovi­dos de qualquer vestígio de humanidade, área na qual os vestígios da fraternidade foram perdidos como moedas de dez centavos.

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