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Relação Médico-Paciente: a essência da saúde

Relações de qualquer natureza exigem companheirismo, respeito, transparência e, acima de tudo, cumplicidade. Para existir um casamento ou união estável, é necessário que duas pessoas se atraíam, busquem afinidades, passem a se entender e compreender seus limites e possibilidades. Com o tempo, a sedimentação deste convívio gera uma sociedade pautada na confiança e na credibilidade, cada vez mais forte e consisten­te. A relação médico-paciente não é diferente, principalmente quando a doença é grave, com risco de morte.

Ao precisar do cuidado médico, o paciente inicia a busca por um profissional de excelência com habilidades e expertise para lhe cuidar da vida. Isto ocorre normalmente por indica­ção de amigos, familiares ou conhecidos que dividem boas ou más experiências, criando uma expectativa sobre determina­do profissional.

Há também a busca insensata feita pela rápida olhada em uma nominata de convênio e a escolha por qualquer nome ali exposto entre tantos. Isto pode gerar o início de uma relação precária, semelhante a encontros de ocasião que, em determinado momento, passado o efeito da bebi­da ou da alegria da noite, o indivíduo se pergunta o que está fazendo com aquela pessoa.

A preferência por um especialista para conduzir sua saúde é de grande responsabilidade. Não se trata de cuidar de um ouvido, um intestino, uma mama, um osso, ou qualquer outra parte individualizada do corpo humano, mas da pessoa no seu todo. É o começo de um processo de confiança, como o de um casamento, e o paciente passa a se despir, expon­do muito mais que manchas de nascença e zonas de pudor, revelando uma parte escondida e doída que são as cicatrizes da alma. Com estas informações, a experiência e o conheci­mento do médico entram em ação para construir equações que o ajudem a decifrar e solucionar os problemas trazidos pelo paciente.

Assim, ao assumir um caso, o médico assume o com­promisso de respeito e cumplicidade com o paciente e sua família. Precisa, ainda, deixar de lado o ego e ser franco se necessitar de mais exames e tempo de estudo ou, quem sabe, de ajuda ainda mais específica para concluir seu diagnóstico. Isto não deve ser interpretado como fraqueza, pelo contrário, é uma atitude louvável que mostra maturidade e compromis­so com o paciente.

Constatada a doença, o tratamento humanizado é um di­reito e deve estar intrínseco na atitude profissional. Costumo dizer às minhas pacientes com câncer de mama que elas têm uma escada a subir, mas que para cada degrau terão a equipe como corrimão para ajudá-las. Porque ninguém merece que esta caminhada seja solitária.

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