Tribuna Ribeirão
Economia

Preço da carne não voltará ao patamar de 2019

MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL

O Ministério da Agricultu­ra, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está divulgando que a cotação da arroba (15 quilos) do boi gordo diminuiu de va­lor no final de dezembro, que­da média de 15%. Conforme levantamento periódico do Mapa, a arroba do boi gordo es­tava cotada a R$ 180 no último dia 30. No início do mês passa­do, chegou a R$ 216. Conforme o ministério, o preço da carne vai reduzir para o consumidor final, no entanto, não chegará a patamares de 2019.

O cenário “indica uma aco­modação dos preços no atacado, com reflexos positivos a curto prazo no varejo”, descreve nota que acrescenta que a alcatra teve “4,5% de queda no preço nos úl­timos sete dias.”

Segundo projeções do Mapa, a arroba vai ficar entre R$ 180 e R$ 200 nos próximos meses, de­pendendo da praça. A queda do valor interrompe a alta de 28,5% que salgou o preço da carne nos últimos seis meses. A perspecti­va, porém, é de que o alimento não volte ao patamar inferior.

“Estamos fazendo a leitura de que isso veio para ficar, um outro patamar do preço da car­ne”, avalia o diretor do Depar­tamento de Comercialização e Abastecimento do Mapa, Sílvio Farnese. “Eu tenho certeza que o preço não volta ao que era”, con­corda Alisson Wallace Araújo, dono de dois açougues e uma distribuidora de carne.

Estabilização dos preços
Há mais de uma razão para a provável estabilização dos pre­ços em valores mais altos do que há um ano. O mercado interna­cional tende a comprar mais car­ne brasileira, os produtores estão tendo mais gastos ao adquirir bezerros e a eventual recupera­ção econômica favorece o con­sumo de carne no Brasil.

No último ano, beneficiado pela perda de rebanhos na Chi­na e pela alta do dólar, o Brasil ganhou mercado e vários frigo­ríficos foram habilitados para vender mais carne no exterior. Só em novembro, mais cinco frigoríficos foram autorizados pelos chineses a exportar carne. Em outros países também hou­ve avanços. Mais oito frigoríficos foram aceitos pela Arábia Saudi­ta no mesmo mês.

A carne brasileira é com­petitiva no mercado interna­cional porque é mais barata que a carne de outros países produtores, como a Austrá­lia e os Estados Unidos, cujo o gasto de criação dos bois é mais oneroso por causa do regime de confinamento e ali­mentação. O gado brasileiro é criado solto em pasto.

O Brasil produz cerca de 9 milhões de toneladas de carne por ano, 70% é consumida in­ternamente. Mas a venda para o exterior é atrativa para os produtores e pressiona valo­res. “A abertura de um mer­cado que comece a receber um produto brasileiro ajuda o criador na formação de pre­ço”, descreve Farnese.

A alta recente dos preços do boi está viabilizando a renova­ção do gado quando o preço dos bezerros está valorizado. A compra dos bezerros é necessá­ria para repor o gado abatido nos últimos anos, inclusive de vacas novilhas.

Além disso, em época de chuva, com pasto mais volu­moso, os pecuaristas vendem menos bois e mantém os ani­mais em engorda, o que tam­bém repercute na oferta e no preço do alimento. “Os cria­dores não se dispõem a vender porque têm alimento barato para o gado”, assinala o diretor do Departamento de Comer­cialização e Abastecimento do Mapa, Sílvio Farnese.

O comerciante Alisson Wallace Araújo acredita que com a recuperação da econo­mia e a diminuição do desem­prego, haverá mais demanda por carne ao longo do ano. “É uma crescente”, diz Araújo. Ele, no entanto, não acredita em alta nos próximos meses. Em sua opinião, o consumo de carne diminui em janeiro por causa das férias e gastos sazonais das famílias (como impostos e material escolar) e depois do carnaval por cau­sa da quaresma (período em que os católicos diminuem o consumo de carne).

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