Tribuna Ribeirão
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Carbono Anos 20

Uma nova ciência está em formação. A ciência das mudanças climáticas. A partir de boa leitura, percebe-se a abrangência e a com­plexidade do assunto, assim como os novos percursos pelo universo do conhecimento que este tema demanda.

Há 40 anos atrás era anunciado por um grupo de cientistas que o planeta Terra estava se aquecendo numa velocidade de 50 até 100 vezes mais rápido do que o natural. Como estamos em um período pós-glacial, o aquecimento da Terra já era esperado, mas jamais numa velocidade tão grande! A causa do efeito estufa artificial, ou seja, provocado pelas atividades humanas, é o aumento da concen­tração de gases que aquecem a atmosfera. As principais fontes de emissão de gases de efeito estufa (GEE) são a queima de combustí­veis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural) e a conversão de ecossistemas naturais em ecossistemas antropizados.

O mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), publicado no segundo semestre do ano passado, dei­xa claro que o uso que fazemos da terra (solo) é criticamente importante tanto como fonte de emissões quanto como parte das soluções para as mudanças do clima. O desmatamento de florestas, a degradação de man­gues e turfeiras, a agropecuária convencional, a dieta rica em proteína bovina e a construção de cidades com intenso metabolismo energético são as principais fontes de emissões quando o tema é “uso da terra”.

Estima-se que 1/4 das emissões de GEE seja proveniente do manejo inadequado que fazemos do solo, já que o modo predominante de uso dos recursos naturais não se alicerça em conhecimentos vindos da Eco­logia, mas sim da Engenharia. Pode-se afirmar que o amadorismo reina no manejo da natureza quando o cenário é mudança climática.

Para que tenhamos uma compreensão exata desse tema, vale elucidar como se dá a ciclagem do Carbono (C) no meio ambiente.

O ciclo biogeoquímico do C é predominantemente gasoso, hídrico e biótico; significa dizer que esse elemento químico circula muito pouco no solo e no subsolo. Comunidades de plantas e de animais ter­restres e aquáticos guardam importantes quantidades de C na forma orgânica, sobretudo biomassa. Do prisma da Química, o que é a vida se não complexas cadeias de carbono fortemente ligadas por energia em meio aquoso? Quando queimamos florestas, por exemplo, grandes volumes de C deixam a biosfera e incrementam a quantidade desse gás na atmosfera. De modo semelhante, a partir do momento em que passamos a queimar combustíveis fósseis para obtenção de energia, o C que estava imobilizado no subsolo foi lançado para a atmosfera. Em 1850 a concentração de CO2 na atmosfera era 280 ppm (partes por milhão); em 2017 ultrapassamos a casa dos 400 ppm.

O Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) divulgou dados para 2018 que mostra que os moradores de 8 estados brasileiros emitem mais GEE per capita do que a média de um norte-americano que é de 18 toneladas/habitante/ano. O estado do Mato Grosso é o maior emissor: 85 ton/hab/ano. Isso é explicado pela mudança no uso da terra, no caso, pelas altas taxas de desmata­mento, degradação e queima da floresta amazônica. Mas não se pode atribuir tamanha irresponsabilidade ao mato-grossense comum.

Conforme dados do SEEG 7, o Brasil é o 6º maior emissor do mundo. A mudança de uso da terra responde por 44% das emissões nacionais, seguido de 25% da agropecuária, 21% do gasto de energia, 5% do setor industrial e outros 5% advindos dos resíduos.

Para quem já teve depressão sabe que a solução do proble­ma está no próprio problema. O acolhimento das fragilidades, o acompanhamento profissional e o desenvolvimento paciencioso do autoconhecimento favorecem o desabrochar de novas perspectivas. Comparo a dimensão individual à coletiva, à planetária, quando o assunto é mudanças climáticas. Precisamos acolher nestes Anos 20 que se iniciam, de modo sincero, inteligente e amoroso, o que a ciência climática vem divulgando com clareza e insistência.

Neste sentido recomendo a visita de três sítios eletrônicos da maior importância para nos capacitar e vislumbrar alternativas eficientes para uma economia de baixo Carbono: WRI (World Re­sources Institute) que possui a seção “Brasil”; Observatório do Clima (OC); e UN CC:e-Learn. Este último uma plataforma na Unesco voltada para formação em Mudanças Climáticas.
Transpor a ignorância é meu voto para o ano que se inicia.

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