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Feliz ano novo, de novo

A humanidade possui a necessidade de contar o tempo e para tal desenvolveu calendários. Tem o Chinês, o Lunar, o So­lar, o Maia, o Islâmico e o nosso Calendário Cristão ou Grego­riano que registra a transição de 2019 para 2020. Com viagens, festas, mesas fartas, troca de mensagens, queima de fogos (agora sem barulho), as pessoas agradecem o encerramento de um ano velho e projetam as realizações para um novo.

Nos últimos dias as emissoras de televisão dedicaram horas de programação na realização de retrospectivas e os telespecta­dores mais atentos perceberam que, semelhante ao ano anterior, 2019 foi marcado pelas tradicionais tragédias individuais e co­letivas. Aviões continuaram caindo, navios afundando, barracos incendiados ou soterrados, ruas inundadas, maridos matando esposas… As mesmas histórias com personagens diferentes.

A política prometia um novo ambiente, nos estados a posse de governadores, no Congresso uma renovação histórica e na presidência da república um Mito. Bastaram alguns dias para a constatação de que a “nova política” não era tão nova assim e a decepção chegou muito rápido. Enquanto pequena parte da população celebrou a reforma da previdência, a retirada de mais direitos trabalhistas e a tímida geração de empregos, a maioria sentiu na pele a falta de efetividade nas ações para a educação, cultura, saúde, meio ambiente, entre outras. Parece que existia um projeto para vencer as eleições, mas inexiste um projeto claro de nação.

Como estratégia, o presidente optou por atacar a imprensa e a oposição e tenta imputar a pecha de “inimigos da nação” a todos os que fazem uma leitura crítica. As pesquisas de opinião pública apontam baixa popularidade e uma histórica avalia­ção de ruim ou péssimo. Até mesmo a fiel militância virtual começa a perder força, pois não dá para disfarçar ou justificar o injustificável.

O ano de 2020 será de eleições municipais, as primeiras sem coligações proporcionais. Muitos pré-candidatos ao legisla­tivo já estão estruturados e, apesar de tão criticada, a política deve atrair milhares de neófitos. Os atuais legisladores tentam recuperar o tempo perdido, a ciranda partidária já está em movimento e terá seu ápice na janela entre 5 de março ao dia 3 de abril. Os alcaides estão empenhados em um calendário de obras com empréstimos preocupantes e ações midiáticas que procuram criar um cenário de cidade dos sonhos, quando a realidade em vários municípios é de grande pesadelo: Faltam criatividade e habilidade na gestão e na direção.

E o que as eleições têm de relação com o novo ano? Na vi­rada do ano, as pessoas saltam ondas, colocam roupas brancas com lingerie coloridas, fazem orações, promessas e desejam que tudo seja melhorar, mas sabem que, passadas as festas, vão encontrar os antigos problemas. Tem que pagar IPVA e IPTU com reajuste e os preços do gás de cozinha e combustível per­manecem subindo. Continua difícil garantir vaga na Creche e consulta na UBS. Os ônibus lotados, o trânsito caótico, os buracos e a falta de mobilidade urbana continuam castigando. No rol de desejos individuais os mais observados em cartões e mensagens são paz, saúde, prosperidade, segurança, moradia, emprego. A maioria depende de um empenho pessoal aliado a um esforço coletivo. Se as pessoas exercitarem o amor, o perdão e a solidariedade e se os governantes implementarem as políticas públicas necessárias, certamente poderão ser mate­rializados e o ano terá tudo para ser melhor. Quer dizer que o voto na urna tem relação direta com os votos de réveillon

O saudoso jornalista e escritor Carlos Heitor Cony cunhou uma frase interessante: “Ano novo, vida velha. A vida é mais do que calendários, fusos ou órbita gravitacional”. Com essa cons­ciência estreamos a agenda nova, viramos a folhinha e prepa­ramos para mais uma jornada, tendo em mente que o que nos possibilitará um ano realmente novo, será nossos pensamentos, palavras, atos e até mesmo omissões. Assim fica a esperança de um Feliz Ano Novo, de novo.

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