Embora o estudo da religiosidade tenha uma longa história, a religiosidade está experenciando atualmente um renascer como importante variável psicológica. Religiosidade tem sido negativamente relacionada a comportamento antissocial e positivamente relacionada a comportamento pró-social. Entretanto, a saúde psicológica, do mesmo modo que a saúde física, tem se mostrado positivamente associada a religiosidade. Também a relação entre religiosidade e personalidade tem sido foco de muitos estudos recentes. Um exemplo? Tem sido ilustrado que religiosidade, em adição aos 5 grandes fatores de personalidade, a saber, introversão, agradabilidade, conscienciosidade, neuroticismo e abertura para experiência, pode ser considerada uma boa candidata a uma nova dimensão de traços de personalidade.
A maioria destes estudos, todavia, assume que o envolvimento religioso é primariamente, senão exclusivamente, o produto de influências sociais e ambientais como, por exemplo, a aprendizagem observacional, os reforçamentos positivo e negativo, pressões culturais e normativas e interações sociais, entre outras associações do gênero. Não obstante, há um conjunto de evidências atuais que sugere ser falsa tal suposição e que fatores genéticos, e outras variáveis biológicas, também influenciam a vida religiosa. De fato, alguns estudos envolvendo gêmeos e crianças adotadas têm registrado efeitos genéticos estatisticamente significativos sobre vários desfechos religiosos, incluindo ir a missa e assumir crenças conservadoras ou espiritualistas, entre outros.
Pesquisas recentes têm suportado a hipótese de que religiosidade é moderadamente herdável, haja vista que, estudos com gêmeos adultos têm indicado que a herdabilidade varia de 0,35 a 0,55 dependendo da medida usada para avaliar a orientação religiosa. Há estudos revelando que entre gêmeos adultos, criados separadamente, a herdabilidade foi de 0,43 para religiosidade intrínseca e de 0,39 para religiosidade extrínseca. Um coeficiente de herdabilidade de 0,41 foi encontrado na escala de fundamentalismo religioso, numa mostra de gêmeos adultos adotados. Usando a frequência de atendimento a serviços religiosos como um indicador da religiosidade, estudiosos registraram herdabilidade de 0,26 para homem e 0,34 para mulher.
Por outro lado, a idade pode ser um importante fator moderador das influências genéticas sobre religiosidade. Para investigar mais sistematicamente essa variável, alguns geneticistas do comportamento avaliaram a religiosidade tanto atual quanto retrospectiva utilizando o auto-registro em uma mostra de gêmeos adultos, incluindo pares homo e dizigóticos, com idade média de 33 anos. Os registros retrospectivos de religiosidade mostraram pequena diferença na correlação entre gêmeos monozigóticos (r=0,69) e dizigóticos (r=0,59). Os registros da religiosidade atual, todavia, mostraram-se maiores, sendo r=0,62 para gêmeos monozigóticos e r=0,42 para dizigóticos. Por adição, análises biométricas dos dois conjuntos de estimativas de religiosidade revelaram que fatores genéticos foram significativamente mais fracos (12% x44%) enquanto fatores ambientais compartilhados foram significativamente mais fortes (56% x 18%) nos adolescentes que nos adultos. As análises da subescala interna e externa da religiosidade no escore total revelaram significados similares.
Considerando a variedade de estudos realizados até então, podemos sumariar afirmando que fatores genéticos explicam de 19 a 65% da variação, enquanto influências ambientais explicam de 35 a 81% da variação, dependendo do aspecto religioso que esteja sendo investigado. Em conjunto, os achados suportam a hipótese de que a herdabilidade da religiosidade aumenta da adolescência para a maturidade.