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As contradições do Natal

O Especial de Natal do Portas dos Fundos, A Primeira Tentação de Cristo, movimentou as redes sociais e uma petição com mais de dois milhões de assinaturas pede a sua exclusão pela Netflix Brasil que, por sua vez, renovou o contrato da produção que bateu recordes de acessos através do streaming. A polêmica serviu para muitos lembrarem de Jesus, pois curio­samente, na data estipulada para celebrar seu aniversário, ele passou a ser coadjuvante e Papai Noel o protagonista.

Apresentamos uma reflexão: o que a sociedade realmente deseja? O Bom Velhinho com seus presentes ou o Bom Pastor com suas renúncias? Desde de crianças somos condicionados a crer que diante de um bom comportamento e boas notas escolares, anualmente um cidadão vai sair do Polo Norte para atender nossos desejos consumistas. Algo bem mais fácil do que seguir os dez mandamentos apresentados por Moisés e resumidas por Cristo em amar a Deus com todo o coração, alma e mente e ao próximo como a si mesmo.

O Messias tinha uma agenda objetiva e deixou claro sua missão: “eu vim para que tenham vida, e a tenham com abun­dância”. Sempre alertava para nos preocuparmos com as coi­sas que não passam, mas fez importantes ações no cotidiano do povo. Emanuel experimentou de perto todas as dores que as pessoas comuns sentiam, inclusivea sensação de abandono das milhares de crianças que nascem sem assistência médi­ca e dos imigrantes que não encontram moradia.

Ele esteve ao lado e amparou os miseráveis e excluídos da sociedade. Se seus exemplos fossem minimamente seguidos teríamos assistência social para os que perambulam pelas ruas claman­do por uma moeda e saúde para os milhões que diariamente peregrinam nas portas dos hospitais.

O Príncipe da Paz enfrentou o preconceito e a intolerância, foi desprezado em sua própria terra, conheceu o ódio das auto­ridades, a violência das forças de segurança e a manipulação do sistema jurídico, sendo julgado e condenado ao arrepio da lei, fatos que continuam ocorrendo até os dias de hoje.

A linda história de Jesus tem sido romantizada e seu sacri­fício não recebe o devido valor. Os pinheiros iluminados são mais interessantes que os presépios. É muito difícil abandonar o trenó cheio de presentes e carregar a pesada cruz :“Porque a mensagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” 1. Coríntios 1:18.

Mudar não é fácil, mergulhar nas ações compensatórias do Natal é. Desta forma o patrão explorador dá um panetone ao empregado; o marido agressor dá uma caixa de bombom; o so­negador de impostos dá uma oferta maior na igreja; o trafican­te patrocina um almoço comunitário; a socialite doa algumas roupas inservíveis e o político distribui bolas e bonecas de plástico como se fossem sacrifícios em expiação dos pecados cotidianos. Passado o Natal, todos continuam com suas rotinas.

As tentações que Jesus superou no deserto estão presentes atualmente: os prazeres da carne, a soberba e a busca do cami­nho mais fácil. Alguns deuses estão sendo apresentados como alternativa mais agradável. Sua resposta foi enfática: “Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’” (Mateus 4:10, Deuteronômio 6:13).
Jesus é o rosto divino do homem e rosto humano de Deus. Celebrar o Natal é buscar compreender e verdadeiramente viver seu legado, exercitando o amor, respeito e tolerância.

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