A notícia caiu como bomba e se espalhou feito rastilho de pólvora nesta quarta-feira, 18 de dezembro. Vamberto Luiz de Castro, de 64 anos, funcionário público aposentado, residente em Belo Horizonte (MG) e que conseguiu vencer um câncer graças a um tratamento no Centro de Terapia Celular (CTC) do Hemocentro de Ribeirão Preto, morreu no último dia 11 vítima de um acidente doméstico. Ele teve traumatismo craniano e não resistiu aos ferimentos.
A morte de Luiz de Castro não tem relação com o linfoma avançado do tipo não-Hodgkin que trouxe o aposentado a Ribeirão Preto. A missa de sétimo dia foi realizada na última terça-feira (17) e o sepultamento ocorreu no Cemitério Parque Renascer, em Contagem, na Grande Belo Horizonte, no dia 11. Os familiares não quiseram se manifestar.
Desenganado pelos médicos e sem outras alternativas de tratamento contra o câncer, Luiz de Castro venceu a doença após ser submetido a uma terapia celular experimental em setembro, no CTC do Hemocentro, ligado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – vinculada à Universidade de São Paulo (USP). Ele recebeu alta em outubro.
Em estado grave (terminal) e sem resposta a tratamentos convencionais para a doença, foi o primeiro brasileiro a ser tratado com uma terapia celular inédita na América Latina. Em menos de 20 dias após o início do tratamento, o paciente apresentou remissão total do câncer, com exames mostrando que as células cancerígenas desapareceram. Os exames comprovavam a remissão do tumor.
A terapia, personalizada, é feita a partir das células de defesa do próprio paciente. O método já é usado com sucesso nos Estados Unidos e na Europa e está revolucionando o tratamento deste tipo de câncer no exterior. A técnica usada em Castro foi totalmente desenvolvida no Brasil e pode, no futuro, ser oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Há ainda, porém, um longo caminho a ser percorrido até ser aprovada oficialmente.
A terapia celular utilizada pelo CTC é chamada de CAR-T. No tratamento, as células T (um tipo do sistema imunológico) são alteradas em laboratório para que reconheçam e ataquem as cancerígenas ou tumorais. A sigla em inglês CAR (chimeric antigen receptor) significa “receptor quimérico de antígeno”.
As células T são coletadas do sangue do próprio paciente e geneticamente modificadas, com a inclusão de uma proteína específica – o receptor “quimérico”. A introdução desse receptor é que as torna agora capazes de combater as cancerígenas.
O tratamento poderá ser produzido em larga escala na medida em que ocorram adaptações nos laboratórios de produção, o que exigirá investimentos. “Felizmente, os investimentos necessários para ampliação da capacidade produtiva são de pequena monta, da ordem de R$ 10 milhões”, afirma o hematologista Dimas Tadeu Covas, coordenador do CTC e do Instituto Nacional de Células Tronco e Terapia Celular. Nos Estados Unidos e Europa, apenas a produção das células chega a custar mais de US$ 475 mil e as despesas médicas somadas fazem o custo do tratamento chegar a US$ 1,2 milhão.
Foto: Divulgação/HC
Vamberto Luiz de Castro, de 64 anos, funcionário público aposentado, após o tratamento contra o câncer e a poucos dias de receber alta: fatalidade