Em agosto do ano passado a fotógrafa Déborah Cavalcante, 34 anos, começou, por meio das redes sociais, a postar curiosidades, agendas culturais, serviços, personagens e a mostrar o cotidiano do Centro de Ribeirão Preto. Denominado “O Centro É Legal”, o projeto cresceu e continua crescendo seja com seguidores, são em torno de 17 mil entre Facebook e Instagram, ou em conteúdos produzidos.
Déborah e a família moram e trabalham no Centro. Ela diz que o projeto surgiu de uma paixão pelo bairro, que nasceu na mudança da sua família para Ribeirão Preto, quando tinha 11 anos. “Nós nos mudamos para o Centro. Meu avô tinha um comércio aqui, meus pais tinham um restaurante bem próximo ao Centro, na Vila Seixas, então eu já tinha essa noção do caminhar, da espacialidade da cidade que já me pertencia. Eu sempre fui uma criança muito curiosa”, conta.
Mais tarde foi gerenciar uma das lojas da família. “Pude viver o Centro com o olhar, apesar de bem jovem, de empresária, percebendo tantas belezas e potenciais não valorizados e acho que talvez a sementinha plantada começou a brotar ali”, revela. Depois trabalhou como fotógrafa em mídias sociais e diz que sempre que conseguia, usava o Centro como cenário.
Quando conheceu o esposo e a família dele, começou a ouvir histórias que fizeram sentido em relação ao bairro. “Me encanta escutar as histórias que minha sogra e seus irmãos contam sobre o Centro, onde eles cresceram. As histórias, foram conectando os edifícios, comércios tradicionais à histórias das pessoas, da comunidade em geral, não só das pessoas importantes da época e foi justamente essas histórias que me fizeram e fazem entender muito do nosso comportamento e perceber ainda mais a importância da preservação da história da cidade. A história de pessoas comuns, suas lutas, suas glórias. Esse olho no olho me encanta. Reuni tudo isso com outros assuntos e coloquei no projeto”, explica.
Com o projeto, Déborah tem sido contratada por escolas para fazer passeios no Centro Histórico e pelo menos uma vez por mês, faz passeios com adultos, com uma média de 30 participantes por vez. “Algumas pessoas vindo de cidades vizinhas e até de Minas Gerais, o que me deixa muito feliz”.
Repercussão
Déborah conta que começou o projeto na ‘surdina’, sem convidar nem os próprios amigos. “Fui conversando e fotografando os comércios, escrevendo sobre eles, tratando de deixar a agenda cultural do Centro sempre atualizadíssima, valorizando e falando sobre os artistas de rua e os movimentos artísticos espontâneos que quebram a rotina no dia a dia de quem passa por aqui”.
Ela explica que como gerencia mídias sociais de vários estabelecimentos, teve um parâmetro de engajamento no conteúdo e resultados do projeto. “Saber que há tanto interesse me motiva a continuar e me ajuda também a monetizar o projeto através de comércios apoiadores e patrocínios para as ações que projetei para o ano que vem”.
Para 2020 ela pretende dar sequência com um portal. “Pretendo colocar em prática alguns passeios diferentes como o ‘Passeio da Rota do Graffiti’ e o ‘Passeio Gastronômico’, que já elaborei e estou à procura de parceiros”.
Fora isso, o Projeto “O Centro é Legal” foi um dos integrantes do Movimento Ruas Vivas. Déborah ficou responsável por toda a produção do projeto piloto. “Esse trabalho em parceria com todos esses artistas que abraçaram a ideia, levaram quase 8 mil pessoas para avenida (9 de Julho) naquele primeiro domingo que ficará guardado nos nossos corações, por tamanha intensidade e boas energias”.
Para dar vida às redes sociais, Déborah diz que fica atenta às agendas de eventos de todos os polos culturais no Centro. “Faço contato direto com os artistas para ficar por dentro também das intervenções surpresas nas ruas, pois gosto de estar presente e mostrar a beleza e privilégio que temos aqui, diariamente”, revela.
“Tenho como objetivo principal ter a agenda cultural sempre atualizada e isso tem sido um grande sucesso. As pessoas comentam e agradecem que agora não perdem as coisas legais que acontecem no centro, por que estão sempre bem informadas”, finaliza.
Histórias de vida
Déborah Cavalcante avalia que o projeto “O Centro É Legal” mostra o quanto as pessoas estão perdendo quando não convivem em comunidade. “Quando não olhamos para o outro. Quando não conhecemos nossos vizinhos, quando não perdemos um minutinho para conversar com uma pessoa na rua”.
Recentemente ela mostrou a história de Carlos Miranda, paratleta de halterofilismo que recentemente ficou em 3º lugar no Campeonato Brasileiro da modalidade.
“Carlos vende balas, há anos na esquina da Visconde de Inhaúma com a São Sebastião, com um sorriso enorme. Muita gente passa por ele, compra bala dele, e não sabe que o Carlos vende balas para buscar o sonho de atleta”. A postagem foi compartilhada por dezenas de pessoas e rendeu a conexão dele com o nutricionista esportivo Renato Barbim que começou atendê-lo. Ela espera que os compartilhamentos possam proporcionar um patrocínio.
Déborah finaliza dizendo que cada dia é uma novidade, uma descoberta. “Eu vejo beleza em todas essas conexões e tenho sentido que as pessoas também estavam sentindo falta disso”.