As anotações deixadas pelo avô materno do autor. Reflexões sobre as dificuldades enfrentadas pelos pioneiros da cirurgia. O quadro humanístico da medicina. O que podiam fazer os médicos de antigamente. Que possibilidades de tratamento estavam disponíveis aos pacientes. O primeiro caso? Em Kentucky, EUA. O problema? A necessidade de realizar um procedimento cirúrgico. As dificuldades? O desconhecimento do que viria a ser a anestesia e os micróbios causadores de inúmeras infecções fatais. O início da trama? O médico da região, McDowell, indo visitar, a cavalo, a enferma Jane Crawford, residente em Danville, muitos quilômetros distantes de onde se encontrava. Seu trabalho, quando ali chegasse? Retirar um tumor do útero/ovário para a época.
Trechos? “Nunca se conseguirá praticar a ablação dos tumores internos, estejam eles localizados no útero, no estômago, no fígado, no baço ou nos intestinos. Neste campo, Deus marcou limites ao cirurgião. Ultrapassá-los é praticar um assassínio…”. Talvez, o que mais comprometia a ousadia dos cirurgiões da época fosse os limites marcados por Deus ou o assassínio que seria ultrapassá-los. Seja como fosse, o médico do caso optou pelo assassínio. Talvez compadecido pelo grande sofrimento da enferma, que tinha cinco filhos, e pela enorme vontade de viver ao lado deles, acompanhando seu crescimento. O resultado? A paciente sobreviver ao procedimento, realizado sem anestesia, e sofrendo uma infecção pós-operatória, para viver 33 anos a mais daquilo que teria vivido caso o médico não tivesse tido a coragem de buscar o novo e de superar limites.
Sem julgar os médicos daquele tempo com pensamentos de hoje, a obra faz o leitor colocar-se no lugar daqueles com a mentalidade, o conhecimento e os limites da época em que viveram. Tempos depois? Eis que surge a anestesia, para alívio do leitor desesperado com o contexto.
Na obra, a descoberta da anestesia da dor, mediante a inalação de gases químicos. E, pouco antes disto, o conhecimento de substâncias para parar a dor.
Por volta de 1800, merecem destaque o éter (solvente volátil para o ópio) e o clorofórmio, causador de menos efeitos colaterais que o outro inalante. Em conjunto? Uma época de obstáculos, de processo de pesquisa para descoberta de substâncias com poderes anestésicos valendo-se de médicos que, todas as noites, fazendo com que todos da casa inalassem diferentes substâncias, esperavam observar efeitos anestésicos alcançados. A obra? O século dos cirurgiões, de Jurgen Thorwald. Um livro de valorização da saúde e da ciência em saúde.
Um trecho? “Antônio Hillary, comerciante e aproveitador de guerra em Constantinopla, que me conseguira permissão para entrar no lazareto e me conduzia espichou os cantos da boca para o queixo. – Vistas de longe, até as covas têm, às vezes, bela aparência, – disse ele. – E aquilo é uma cova de primeira grandeza. Eu não vou a terra. Com a febre, o tifo e a cólera, o senhor pode avir-se sozinho… – Mas eu só quero ver as salas cirúrgicas! – insisti. – Morrem todos na mesma sujeira. – tornou-me o homem. – Se imagina seriamente que o éter e o clorofórmio podem virar um lazareto em local de recreio, digo-lhe que está enganado, moço! Pode deitar a droga à vontade, no nariz dos feridos, fechar a boca a esses coitados, enquanto lhes cortam braços e pernas. Mas depois, eles morrem fatalmente de febre e gangrena; e vão juntar-se ao montão de cadáveres. E morrem tanto mais depressa, com certeza tanto maior, quanto mais os seus colegas os examinam e esquartejam. O senhor ainda não viu o que é morrer!… Nesse momento, eu ainda não podia compreender que, na última frase, Hillary formulara uma verdade fundamental, nitidamente característica de mais de três decênios de evolução cirúrgica”.