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Mensageiros de Natal

Há muitos anos, quando Jesus nem havia nascido, a Mesopotâmia já celebrava a passagem de um ano para outro. Ritual semelhante também era realizado pelos persas e babilônios. Mais tarde, a Grécia, instituindo entre os romanos o festival do Solstício do Inverno, fecha­va escolas, suspendia atividades de trabalho e realizava festas nas ruas, oferecendo grandes jantares aos amigos, ornamentando suas verdes árvores com muitas velas. Entretanto, com a cristianização do Império Romano, o 25 de dezembro passou a ser a celebração do nascimento de Cristo. E nesta tradição, três reis magos, que viajavam há dias seguindo a estrela guia, bus­cando pelo lugar em que nascera o sagrado menino, traziam-lhe ouro, mirra e incenso, como presentes a lhe oferecer.

Já os registros históricos, ao afirmarem que o primeiro Natal, como hoje o conhecemos, foi celebrado em 336 d.C., instituiu a troca de presentes, ensinada pelos reis magos, como símbolo de homenagem e atenção aos que amamos. É certo que, devido aos objetivos capita­listas, muitos optam em ver, na data, apenas a lucratividade que esta, assim como outras, traz consigo. Mas, aspecto comercial à parte, não se pode negar que o Natal é uma tradição que existe, também, para refletirmos que o nosso próximo precisa, e merece, nossa atenção. E, nes­te contexto, a figura do Papai Noel, originária da história de São Nicolau, com sua bondade e costume de presentear as pessoas, chega aos nossos dias preservada pelos que aqui chamamos mensageiros de Natal.

Disfarçados de amarelo e azul, para não serem facilmente reconhecidos, e substituindo o saco vermelho por bolsas de lona, repletas de cartas, os mensageiros percorrem todas as ruas do país, todos os dias do ano. E, por ocasião do Natal, quando recolhem as famosas cartinhas, direcionadas ao Pólo Norte ou à Dinamarca, convidam toda população a exercer o seu dia de Papai Noel. Os pedidos não são impossíveis: um livro, o material escolar, um carrinho ou uma boneca. Mas muitos são os que chegam a comover: uma cadeira de rodas, uma cesta básica, um pai e uma mãe desconhecidos, uma caixa de remédio. Talvez, à semelhança do Concílio dos Deuses, de “Os Lusíadas”, de Camões, as desventuras humanas continuem sendo refletidas pelos que, conscientes e cidadãos, adotam tais pedidos de Natal. Mas, é certo que, ao assim agirem, bem como, ao recolherem, organizarem e disponibilizarem as cartas, e seus pedidos, à população de prováveis “Noéis”, os carteiros nem percebam o quanto estão atuantes em tal tradição. Fomentando o sonho e a imaginação das crianças, fomentam, também, a possibili­dade de ajudar o próximo, anonimamente. Para toda grande ação é necessária a existência de um mensageiro. Carteiros, mediadores que são da troca comunicacional, ao assim atuarem, revelam que, nem toda a tecnologia pode, por melhor que seja, superar a magia do sonho e da esperança que o recolher destas cartas congregam. A estes mensageiros de Natal, muito obri­gada por semearem esperança e ternura num tempo em que, em muitos outros países, só se semeia o desespero e a aspereza da guerra. Sua mediação, entre sonho e realidade, certamente é um dos melhores presentes do nosso tempo.

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