Esta semana nos brindou com mais uma coleção de sandices e barbaridades do governo de extrema-direita do capitão presidente. Desta vez, veio da Secretaria da Cultura, sob a batuta do ministro do Turismo dos laranjais de Minas, uma verdadeira enxurrada de revelações que nem Abraham Weintraub e sua parceira Damares Alves Goiabeira tinham chegado a tanto.
Os novos protagonistas da vergonha nacional foram os recém-nomeados maestro Dante Mantovani para a presidência da FUNARTE (Fundação Nacional de Artes) e um tal de Rafael Alves da Silva para a presidência da Biblioteca Nacional. A Justiça já interviu na Fundação Palmares, afastando o seu presidente, o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo, pelas suas intenções de acabar com o movimento negro.
Mantovani e Rafael são subordinados ao secretário da Cultura, o dramaturgo Roberto Alvim, orientado diretamente da Virgínia pelo filósofo Olavo de Carvalho na sua cruzada contra o “marxismo cultural”. É o mesmo que chamou de “sórdida” a nossa grande atriz Fernanda Montenegro. Mantovani chega ao governo com todas as credenciais do bolsonarismo mais tosco, capaz de escrever coisas do tipo: “fakenews é um conceito globalista para impor a vontade da imprensa” e a Unesco é “uma máquina de propaganda a favor da pedofilia”.
Já o novo presidente da Biblioteca Nacional já foi capaz de fazer afirmações como “Livros didáticos estão cheios de músicas de Caetano Veloso, Gabriel O Pensador, Legião Urbana. Depois não sabem por que está todo mundo analfabeto”.
Mas o maestro Mantovani não fica para trás. Para ele, “o rock de Elvis Presley e dos Beatles fariam parte de um plano para vencer os Estados Unidos e o capitalismo burguês a partir da destruição da moral da juventude e das famílias”. E mais: “o rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto. E a indústria do aborto alimenta uma coisa mais pesada, que é o satanismo”.
Haja teoria da conspiração bem ao gosto dos religiosos fundamentalistas. Já se percebe que esta Secretaria da Cultura já virou mesmo uma mixórdia, uma verdadeira “gaiola das loucas”, como bem lembrou Ricardo Kotscho para o “Jornalistas pela Democracia”. Mantovani e Rafael ostentam altos diplomas acadêmicos, mas defendem a teoria do terraplanismo.
Como bem lembrou o meu amigo, o Professor Fernando Gelfuso, na sua entrevista recente no CONEXÕES RIBEIRÃO: “Fernão de Magalhães deve estar se revirando no túmulo”.
Lembrando que neste ano se comemora os 500 anos de sua célebre viagem de circunavegação.
O novo presidente da FUNARTE evidencia sabedoria refinada também em física e astronomia. E não deixa por menos: “Prove que a Terra é uma bola de água giratória. Aposto que vai adiar essa prova ad eternum e vai recorrer à fonte inquestionável do estudo fotográfico da Nasa, que tem sim ótimos desenhistas, alguns inclusive que já revelaram as fraudes praticadas por lá”.
E foi espetacular a tirada de Chico Pinheiro no Bom Dia Brasil da última quarta. Ele recorreu ao ministro astronauta da Ciência e Tecnologia para dar a última palavra na questão para que nossos futuros concurseiros do ENEM não passem tantos apuros. É gente deste naipe que dirige a Cultura em Brasília. Educação e Cultura são as arenas escolhidas pela extrema-direita para travar a guerra do Armagedon. Apocalíptico! Isso tudo pode parecer uma brincadeira de mau gosto. Mas não é. É sério.
E por isso me reporto a mais uma lembrança de Ricardo Kotscho, a chamada de capa do jornal alemão CV-Zeitung de 02/02/1933, voltado à comunidade judaica, logo após a posse de Hitler na Alemanha: “Acalmem-se! Sim, ele é louco, mas não será tão ruim assim. Afinal, somos uma democracia e temos uma constituição. A Constituição o deterá”. Não foi bem assim. Toda vigilância é necessária. Está aí a História, a disciplina que lecionei por mais de 30 anos em escolas onde ensinei e eduquei. Kyrie Eleison.