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Cinema, streaming, cinema

Depois de assistir ao belo O Irlandês, obra magistral de Scorcese e atuação soberba de vários atores veteranos de Hollywood, lem­brei-me que, nos anos 1940, quando nasci, ir ao cinema era a maior e talvez a única diversão da família. Toda cidade queria ter sua sala de exibição e cidades maiores, como a nossa, apresentavam várias à disposição do público. Eram grandes, confortáveis, bem decoradas, para permitirem, no silêncio das duas horas, vivenciar o sonho que se desenrolava na tela.

Durante a semana, pelo menos numa noite íamos todos os de casa frequentar a sessão das 19 horas (havia somente esta e a das 21 horas). No domingo, eu podia ir desacompanhado à matinê do Pedro II para ver os seriados, sempre com disputas entre o mocinho e os bandidos, sendo que ao final de cada episódio os maus triunfavam, para, no do­mingo seguinte, descobrirmos aliviados que o mocinho dava um jeito de escapar e continuava perseguindo seus desafetos. Havia também um programa domingo cedo, no Cine Centenário, o Festival Tom e Jerry, frequentado por adolescentes e adultos.

Em setembro de 1950 inaugurou-se o primeiro canal de televisão do Brasil, a TV Tupi de São Paulo. Levou bastante tempo para que a televisão se estendesse por todo o país. Os aparelhos eram enormes, grandes caixas de madeira e a recepção, via de regra, muito difícil. Era preciso ficar virando a pequena antena em cima do móvel, para acertar a imagem. Um Bombril estrategicamente colocado aumen­tava o poder da recepção. Antenas externas começaram a enfeitar os telhados das casas, mas a imagem não melhorava muito. Mudar de canais exigia que levantássemos da cadeira, pois o controle remoto só viria mais tarde.

A vinda da televisão representou uma alternativa ao cinema. Do conforto de nossa casa tínhamos acesso a um novo tipo de diversão. A família começou a se reunir depois do jantar para acompanhar os programas ainda incipientes. Parecia que o cinema perderia sua im­portância, pois a nova mídia incluía até filmes em sua programação.

As salas de exibição foram se fechando por falta de espectadores, à medida que a televisão por assinatura foi aumentando a oferta de novos canais. Era muito mais confortável ver seu filme preferido na televisão do que enfrentar eventual fila no cinema. Com o surgimento dos vídeos e das videolocadoras você podia escolher as fitas que leva­ria para casa e vê-las quando quisesse. Filas enormes se formavam nas sextas-feiras para pegar vários filmes para o fim de semana. Mas, era preciso pegá-las e devolvê-las no dia marcado, sob pena de multas.

Com o advento do DVD nos Estados Unidos, começaram a surgir empresas que enviavam e recebiam as fitas pelo correio, uma facilida­de maior para o usuário, até que, com o surgimento e popularização da internet, inventou-se o streaming, sistema que permite ao conteúdo se manter na nuvem, sem necessidade de download anterior.

Os que acreditavam na decadência da produção cinematográfica se depararam com uma realidade totalmente nova: uma forma criativa de distribuição das fitas relançou o cinema como grande arma de en­tretenimento. Voltaram as produções grandiosas, as séries se tornaram excelentes diversões e as precursoras do streaming são agora grandes e premiadas produtoras. Mesmo os grandes estúdios estão se rendendo.

O velho e bom cinema, agora turbinado por efeitos especiais e conteúdos digitais, continua reinando como forma ímpar de diversão. No aconchego da casa ou nas modernas salas de projeção, perpetua-se a mágica dos filmes que nos conduzem a um mundo de sonho e de entretenimento.

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