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Filme ‘Carcereiros’ surge com proposta blockbuster; qualidades não faltam

Por Luiz Carlos Merten

Rodrigo Lombardi já havia contado ao jornal O Estado de S. Paulo como caiu de paraquedas na produção de Carcereiros, a série. Quem deveria fazer o papel de Adriano era Domingos Montagner, mas ele morreu tragado pela correnteza do Rio São Francisco, em setembro de 2016, durante um intervalo das gravações da novela Velho Chico. Chamado para substituir o colega, Lombardi nem teve tempo de preparar-se como gosta. “Terminei uma novela na sexta e na segunda já estava gravando de novo”, conta.

Quando surgiram a segunda temporada e a ideia do filme, um pouco porque os roteiristas Fernando Bonassi e Marçal Aquino, com a cumplicidade de Dennison Ramalho, estavam tentados a assumir o desafio de construir um relato com começo, meio e fim – na série, cada episódio era independente, mas havia uma história rolando, que atravessava os capítulos -, Lombardi já estava mais enturmado. Conhecia o personagem e fez valer suas sugestões. O filme estreia nesta quinta, 28, nos cinemas, depois de integrar a programação da Mostra de São Paulo, com direito a debate dos roteiristas.

Nem Lombardi nem o diretor José Eduardo Belmonte estiveram presentes, mas vieram a São Paulo na semana passada, para rodadas de entrevistas com jornalistas de todas as mídias, para promover o lançamento. Carcereiros – O Filme surge com a proposta de virar blockbuster, mas isso vai depender do público. Qualidades não faltam. O filme é muito bem realizado, interpretado. Possui uma dinâmica muito forte de thriller – e um astro em pleno domínio dos seus meios. Lombardi não gosta de ser chamado de astro, embora seja. Considera-se um operário da interpretação, tendo começa no teatro e ganhado a televisão e o cinema. Conta que o que poderia ter sido negativo – entrar às pressas no projeto da série -, terminou sendo positivo. “Como não tive muito tempo para elaborar uma identidade para o Adriano, isso me permitiu transcender o que não deixa de ser a jornada de um homem comum, resistindo à tentação de transformá-lo num estereótipo de herói.” E ele acrescenta o que lhe parece o grande mérito da série, que o filme retoma: “Não é maniqueísta, e isso é uma coisa que já vem do livro do Drauzio (Varela)”.

De alguma forma, Lombardi está repetindo o que Hector Babenco já disse em 2003, ao realizar outra adaptação do Dr. Drauzio – Carandiru. Babenco dizia que era um filme sobre a ética dos criminosos. Essa ética reaparece em Carcereiros, porque o plot do filme é a chegada à cadeia de um prisioneiro internacional, um terrorista responsável pela morte de crianças num atentado.

Como chefe de uma das facções da cadeia, Rômulo Braga promove seu julgamento. Condenado, o terrorista terá de ser executado, e só isso – a tentativa de impedir a execução – já renderia uma narrativa movimentada, mas tem mais. De repente, a cadeia está sendo invadida por um comando paramilitar, e as milícias, e sua relação com o poder, têm estado mais do que nunca em discussão no País.

O que querem esses profissionais que promovem uma chacina? Para Lombardi, o melhor de Carcereiros – O Filme é acirrar o que já estava desenhado na série. “Adriano vive sob pressão, enfrentando a criminalidade na cadeia, mas, como representante de um Estado omisso, ele é pressionado de ambos os lados. O filme não aborda nenhuma das mulheres dele, mas a filha está ali para cobrar do pai. Quando ela insiste – ‘Por que você não procura outro trabalho’ e ele diz que vai voltar, ela tem uma fala forte: ‘Você não pode prometer isso.’ É um filme que põe o dedo nas feridas do sistema carcerário como um todo. O Adriano não é um herói, numa aventura de mocinhos e bandidos. É um homem acuado, num fogo cruzado.”

Como se interpreta um personagem desses? “Cara, como eu sempre procuro fazer – com honestidade. Nunca houve, de nossa parte, um desejo de transformar o Adriano em herói. Não é um policial de Hollywood, nem um bangue-bangue. Aqui, o buraco é mais embaixo, um mundo sempre prestes a explodir. Quando se desenha o grande conflito – olha o spoiler – tem a ver com o estado do Brasil, com delação premiada, com milícia, tudo o que está todo dia no noticiário da TV e dos jornais.” E Belmonte, o diretor? “Ele sabe o que está fazendo. Tem uma curva (dramática) que é muito forte e serve ao roteiro no que ele tem de ação e vigor de personagens, mas eu tenho a impressão de que mais importante que isso é o fato de ele permitir, ou melhor, criar um diálogo potente entre universos distintos. Crime, polícia, política. Nesse sentido, o filme ultrapassa fronteiras de gêneros para refletir o Brasil.”

Como ator, Lombardi é totalmente devotado a seu ofício. Possui um escritório de intercâmbio cultural para estudantes de línguas – inglês – no exterior. Por conta disso, ele próprio viaja muito Esteve em Londres a convite de uma dessas instituições de ensino e aproveitou para ver peças de teatro. “Comprei os direitos de uma que acho que você vai gostar bastante, mas ainda não posso divulgar por que os detalhes ainda estão sendo acertados.” Acrescenta que o diretor será, de novo, “o Zé” – José Henrique de Paula -, com quem fez grande sucesso de público e crítica, no ano passado, interpretando Eddie Carbone na montagem de Um Panorama Visto da Ponte, de Arthur Miller. Por mais que goste de fazer cinema e TV, o teatro fala mais alto. “No palco, o contato com o público é mais direto.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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