Apontando os sentimentos de culpa, raiva, medo e impotência, a apresentadora relembra que, quando pequena, tomava uma bebida com uma baixa dosagem de álcool para abrir o apetite, que a deixava com mais sono que o normal – algo que era “normal” para crianças em famílias da região sul do País, segundo ela.
Até que certo dia, enquanto dormia, sofreu o primeiro abuso. “Me lembro de um cheiro de álcool de alguém, uma barba que machucou o meu rosto e algo que foi colocado na minha boca. Acordei dizendo que alguém tinha feito xixi na minha boca e meus irmãos disseram que eu tinha sonhado”, recorda.
Sem revelar nome, Xuxa conta também que era tocada por “um parente distante”. “Colocavam o dedo, doía, não sabia distinguir o que sentia. Por isso não chorava e nem reclamava com ninguém sobre o acontecido”, relata.
“Essa mesma pessoa vinha ao Rio quando eu já tinha entre nove e dez anos, e, quando a família dormia, colocava seus dedos por debaixo dos lençóis e me tocava. Nesse tempo, esse parente distante já era um adolescente e sempre que podia me tocava. Por que eu não gritava, não chorava? Não sei”, completa.
Xuxa afirma que também foi abusada por um professor de sua escola, um ex-namorado de sua avó – que pedia para a pequena “sentar no colo dele” – e um amigo de seu pai, que a encurralou em uma parede aos 13 anos e colocou as mãos por baixo de sua camiseta.
“Ele tentou beijar minha boca. Me lembro que chovia e eu saí correndo pela rua até chegar na praia. Chorava muito, peguei um punhado de areia e passava no meu corpo para limpar toda sujeira que estava impregnada há anos”, conta.
Com medo de contar para os parentes mais próximos e desestruturar a família, Xuxa revela que se calou por 50 anos, até o dia que resolveu falar sobre o caso no Fantástico, da Globo. Por fim, ela aponta que essas situações, ocorridas dos quatro aos 13 anos, a fizeram ter “manias de limpeza”, que se perpetuam até hoje.
“Tomo de três a quatro banhos por dia, tenho vontade de estar com crianças pois elas não me fariam nenhum mal.”