Um altar gigantesco em forma de cruz, com 75 metros de comprimento por 15 de largura, vai receber os mais de 300 celebrantes da cerimônia de beatificação do padre Donizetti Tavares de Lima, neste sábado, 23 de novembro, em Tambaú (SP), na Região Metropolitana de Ribeirão Preto (RMRP). A solenidade oficializa o decreto de beatificação promulgado em abril deste ano pelo papa Francisco, abrindo caminho para a canonização do padre. A Igreja Católica mobiliza dois mil parceiros e voluntários nos preparativos para a festa.
Conforme o padre Anderson Godoi de Oliveira, da comissão pró-beatificação, cerca de 80 mil fiéis são esperados na cidade de 23,2 mil habitantes para a festa. A celebração principal será conduzida pelo cardeal Giovanni Angelo Becciu, presidente da Congregação para as Causa dos Santos, que representará o papa Francisco. Até a última segunda-feira (18), estavam confirmados para concelebrar a cerimônia dois cardeais, 25 bispos e 288 sacerdotes.
O evento será realizado na Chácara do Padre, um terreno amplo em frente à Igreja São José, adquirido pelo padre Donizetti quando ele vivia em Tambaú. O altar está em fase de montagem. Na igreja de São José, será inaugurada a sala dedicada ao beato. A imagem oficial do padre, confeccionada por artistas de Nápoles, na Itália, será apresentada durante a solenidade.
A prefeitura investe em infraestrutura para receber os visitantes. O município, que já recebe 200 mil visitantes por ano, graças ao padre, espera que o turismo religioso aumente após a beatificação. O terminal turístico passou por reforma e as ruas da cidade foram recapeadas. Banners do padre patrocinados por empresas e moradores locais estão sendo fixados em toda a cidade. A Polícia Militar vai convocar policiais de outras cidades para reforçar a segurança durante o evento.
Padre Donizetti morreu em 16 de junho de 1961. O anúncio da beatificação foi divulgado em 8 de abril, depois que o papa Francisco autorizou o decreto que reconhece milagres ao religioso. Nascido em 3 de janeiro de 1882, em Cássia, em Minas Gerais, ele morreu aos 79 anos, em Tambaú, onde implantou vários projetos sociais, como o Asilo São Vicente de Paulo, a Associação de Proteção à Maternidade e Infância, a Congregação Maria, a Irmandade Filhas de Maria e o Círculo Operário Tambauense.
A antiga casa paroquial onde ele viveu foi transformada em museu. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, o padre atraiu milhares de devotos ao interior de São Paulo em busca de milagres. O processo foi aberto em 1992, segundo a Arquidiocese de São Paulo. O milagre reconhecido pela Igreja Católica foi revelado em abril, no Santuário de Nossa Senhora Aparecida. É do menino Bruno Henrique de Oliveira, de 12 anos, que vive em Casa Branca.
Ele nasceu com uma deformidade conhecida como pé torto congênito bilateral e não conseguiria andar. A família invocou a intercessão do religioso. O menino apresentou cura instantânea, completa e duradoura, inexplicável à luz da medicina. A enfermidade faz com que o pé vire para dentro. O tendão de Aquiles fica tenso, o que empurra o calcanhar para cima da perna e impede que o pé permaneça deitado no chão. Ocorre em aproximadamente uma em cada mil crianças.
Desde 1909, como pároco, padre Donizetti atuou em defesa dos mais pobres e dos trabalhadores explorados, além de organizar a assistência aos doentes, idosos, crianças e mães necessitadas. A tudo atribuía à Nossa Senhora Aparecida. Membro da comissão de beatificação, Leonardo Spgia Real disse que Tambaú vive o turismo religioso com cerca de 200 mil visitas por ano e que esse reconhecimento pelo Vaticano era esperado há mais de 50 anos.
Padre Donizetti está em processo de beatificação desde 1992. Em 2008, houve o encerramento da primeira fase, chamada de fase diocesana, e a conclusão desse trabalho foi encaminhada em 2009 para Roma, que passou a analisar o processo. Em outubro de 2017, a Congregação para as Causas dos Santos reconheceu a virtude do padre tornando-o venerável.
A decisão foi anunciada durante audiência da Congregação para as Causas do Santos. Padre Donizetti viveu por 35 anos em Tambaú e na década de 1950 começaram os relatos de milagres que continuam até hoje. A fama de santo veio ainda em vida. Na época, Tambaú tinha 4,5 mil habitantes (hoje são mais de 23 mil). Há relatos que em um único dia outros 200 mil romeiros estiveram na cidade em busca de graças. A situação começou a ficar perigosa e esse foi um dos motivos para que as benções chegassem ao fim.
Na década de 1990, começou uma pesquisa sobre a vida, virtude e fama de santidade do padre. Em 2017, a Congregação para as Causa dos Santos concedeu ao padre o título de venerável. Com isso, ele pode ser oficialmente adorado dentro das igrejas.
Segundo o Vaticano, o padre era devoto de Nossa Senhora Aparecida e, em vida, já seria ligado a “sinais milagrosos”. “Exerceu seu sacerdócio como Jesus, a serviço dos pobres, dos marginalizados e doentes. Viveu de maneira simples e humilde, sempre à disposição do povo”, diz texto divulgado pela Secretaria para a Comunicação da Santa Sé.
Milagres
A Igreja Católica Apostólica Romana analisou, particularmente, outros dois milagres atribuídos a padre Donizetti. Um se refere exatamente ao menino Nelson Santana (1955-1964), diagnosticado com osteossarcoma e morreu aos nove anos na véspera do Natal, e outro à Gaetana Tolomeo, chamada “Nuccia” (1936-1997), afetada por uma progressiva paralisia, transformou a dor em fé.