A opositora e segunda-vice-presidente do Senado da Bolívia, Jeanine Áñez, se declarou presidente do país em uma sessão legislativa sem quórum. Ela havia convocado para esta terça-feira, 12 de novembro, sessões extraordinárias no Parlamento para tentar resolver o vazio de poder após a renúncia do presidente Evo Morales, no domingo (10), mas não houve quórum em nenhuma das casas.
Alegando a necessidade de se criar um clima de paz social no país, Áñez voltou a afirmar que convocará eleições o mais rápido possível no país. Na segunda-feira (11), ela havia dito que convocaria eleições para janeiro. “Queremos convocar eleições o mais rápido possível”, discursou Añez, nesta terça-feira. Ela havia se proclamado momentos antes presidente da Câmara Alta, por conta da ausência da titular da instituição e do primeiro vice-presidente, supostamente exilados na Embaixada do México na Bolívia.
A Constituição estabelece que, após a renúncia do presidente, o vice-presidente, o presidente do Senado ou o presidente da Câmara dos Deputados deve assumir a sucessão, mas todos também renunciaram a seus cargos. O partido Movimento para o Socialismo (MAS), presidido por Evo Morales e que detém a maioria no Parlamento, havia pedido mais cedo “altas garantias” para poder assistir às sessões parlamentares convocadas.
“Estamos pré-dispostos a uma saída constitucional, quero que fique muito claro, conforme nossos companheiros manifestaram. Mas pedimos as mais altas garantias para podermos participar”, disse à imprensa a líder do MAS na Câmara dos Deputados, Betty Yañíquez, no primeiro pronunciamento do partido desde a saída de Evo.
O avião das Forças Armadas mexicanas, que levou Evo Morales da Bolívia à Cidade do México, pousou às 14h20 de ontem (horário de Brasília). Ele chegou acompanhado de Álvaro García Linera, seu vice-presidente, que também renunciou ao mandato no último domingo, além de representantes do corpo diplomático mexicano. O chanceler do México, Marcelo Ebrard, recebeu o ex-presidente boliviano na porta da aeronave. Morales acenou para a imprensa, desceu as escadas do avião, ajeitou os cadarços do sapato e se dirigiu aos jornalistas, para fazer o primeiro pronunciamento em solo mexicano.
“Saudações, irmãos, agradeço a toda a delegação que nos acompanhou. Estamos com Álvaro García Linera. Após a vitória em primeiro turno, começou o golpe de Estado. Estamos há exatamente três semanas e, na última etapa, infelizmente, a polícia nacional se somou ao golpe”, disse, denunciando incêndios em tribunais eleitorais, atas, cédulas, sedes sindicais, casas de autoridades do MAS e na casa da irmã.
“Tentaram saquear minha casa, mas os vizinhos me defenderam. Muito obrigado, sou grato à defesa do povo”, afirmou Morales, sereno, vestindo uma camisa de mangas curtas e calças jeans. O ex-presidente da Bolívia afirmou ainda que pediu a toda a população boliviana que colabore para que não haja mais derramamento de sangue. E agradeceu ao presidente do México, que “me salvou a vida”.
Morales ainda afirmou que seguirá na política. “Meu pecado é que ideologicamente somos anti-imperialistas. Não vou mudar ideologicamente. Sempre trabalhei pelos setores mais humildes, diminuímos muito a pobreza e isso vem para fortalecer a luta dos povos. Muito obrigado”, finalizou.