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Socorro, meu filho foi picado por um escorpião!

Respire fundo, mantenha a calma e aja. O tempo é vital nesse tipo de acidente, por isso, conheça as medidas iniciais fundamentais para um final feliz

Com a proximidade do calor e das chuvas, os jornais e sites de notícia ficam repletos de manchetes sobre acidentes com escorpião. A cidade de Ribeirão Preto é uma das mais afetadas no estado de São Paulo. No entanto, a gente nunca imagina que poderá acontecer conosco. Mas, infelizmente, pode. Ninguém está imune a esses bichinhos rasteiros pertencentes à classe dos aracnídeos.

            Semana passada meu esposo foi alertado por um latido diferente da nossa cachorrinha, vindo do quarto da Maria Luisa, nossa filha de cinco anos. Ao chegar lá, se deparou com um escorpião bem próximo à cama dela, que dormia tranquilamente. Desde então, não tive mais paz. Fiz o que já deveria ter feito antes, como vedar todas as possíveis entradas deles em casa, colocando tela de proteção nos ralos do chão e das pias e eliminando qualquer sinal de entulho. Mas, a sensação de impotência continua, principalmente quando lembro que eu não tinha ideia sobre o que fazer, caso o pior tivesse acontecido e ela ou um de nós fosse picado. 

            Passado o susto, resolvi agir. Entrei em contato com a infectologista, Dra. Anna Christina Tojal da Silva, que integra a equipe da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão Preto, para saber o que fazer. 

No caso de um acidente por picada de escorpião em criança, o soro antiescorpiônico será sempre necessário?

Nem sempre. O acidente em crianças abaixo de dez anos, é considerado de maior risco, mas todos os casos devem ser avaliados pelo médico. Ele irá classifica-lo como leve, moderado ou grave (vide tabela). Os casos considerados leves não têm indicação do soro, apenas de analgesia para alívio da dor. 

O soro antiescorpiônico pode ter efeitos adversos?

Sim! O soro antiescorpiônico não é inócuo, ele pode levar a alergia grave e morte, caso não haja o suporte médico necessário. Por isso que antes de ser aplicado, o paciente recebe uma medicação (antialérgicos endovenosos).

Por que o soro não está disponível em todas as unidades de saúde?

A maioria das UBDSs, UPAs e PSs ainda não dispõem de capacidade técnica e operacional para aplicar o soro. Além disso, é necessário suporte de unidade de terapia intensiva, caso ocorra alguma complicação (do próprio acidente ou pela aplicação do soro que, conforme explicado, pode levar a efeitos adversos).  

Onde o soro antiescorpiônico está disponível em Ribeirão Preto?

Atualmente ele está disponível apenas na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (Rua Bernardino de Campos, 1000, Centro). Caso esteja em falta, não é preciso pânico. É possível salvar o paciente, mas, para isso, ele precisa estar em uma unidade de saúde equipada com UTI.    

Os especialistas recomendam que a vítima seja levada para o hospital ou UBS mais próximo de casa. No entanto, nem todos possuem o soro. Não seria uma perda de tempo?

Não, pois nem toda vítima tem indicação de receber o soro. Somente a primeira avaliação médica irá determinar se existe necessidade ou não. Se for o caso, o paciente será devidamente encaminhado

Quem está sob maior risco?

As crianças menores de 10 anos, independentemente de peso e comorbidades (doenças que a criança já possui, como o diabetes, por exemplo). O que vai indicar a gravidade é a quantidade de veneno inoculada. Essa avaliação é subjetiva, observando-se o paciente e, dependendo dos sintomas e sinais apresentados, a dose do soro aplicadaserá maior ou menor. Claro que crianças com doenças crônicas, principalmente as relacionadas a imunidade (como a infecção pelo HIV) sempre possuem maior risco. O mesmo vale para os idosos.

Por que alguns casos de picada por escorpião são fatais?

Os casos que terminam em óbito acontecem principalmente em função da quantidade de veneno inoculada.  Mas, é preciso manter a calma. Mesmo os casos graves podem ser prontamente atendidos evitando-se, portanto, o óbito. A rapidez na avaliação médica e a aplicação do soro, quando necessário, são fundamentais para o melhor desfecho do acidente. 

O que fazer no local da picada?

Deve-se lavar o local com água e sabão e fazer compressa morna se estiver com muita dor. Mas, o principal é ir o mais rapidamente possível para a unidade de saúde mais próxima. 

 

Existe alguma abordagem que impeça que o veneno se espalhe?

Não, isso é mito. Inclusive, é contraindicado o uso de torniquete, fazer perfurações ou sucção para tirar o veneno ou a aplicação de qualquer substância no local da picada. O mais importante é evitar o acidente! O cuidado com o meio ambiente é fundamental. 

 

Informações adicionais

Sinais e sintomas da picada

A dor local é um sintoma que aparece logo após a picada, em 100% dos casos.

Além da dor, podem ocorrer aumento da temperatura, inchaço leve, vermelhidão, arrepio dos pelos e suor no local da picada. Se a picada for na mão ou no pé (principais locais acometidos), esses sinais podem atingir todo o braço ou perna.

Posteriormente a estes sintomas poderão ocorrer, principalmente em crianças abaixo de 10 anos, aumento do suor pelo corpo, vômitos, agitação (por causa da ansiedade, medo e dor), tremores, produção excessiva de saliva (começa a babar), ofegância e respiração aumentada.

Portanto, se esses sintomas ocorrerem, mesmo que não se tenha visto o escorpião, deve-se pensar em acidente escorpiônico e correr com a pessoa acidentada para o serviço de saúde mais próximo.

Primeiros socorros em caso de acidente com escorpião

O que fazer:

– Limpar o local com água e sabão;

– Aplicar compressa morna no local;

– Procurar o serviço de saúde mais próximo para que possa receber o tratamento o mais rápido possível;

– Se for possível (com segurança e desde que não leve muito tempo, pois a prioridade é o atendimento médico urgente), capturar o animal e levá-lo ao serviço de saúde.

O que não fazer:

– Não fazer torniquete ou garrote, não furar, não cortar, não queimar, não espremer o local da picada;

– Não fazer sucção no local da ferida;

– Não aplicar qualquer tipo de substância sobre o local da picada (fezes, álcool, querosene, fumo, ervas, urina, pó de café, terra), nem fazer curativos que fechem o local, pois isso pode favorecer a ocorrência de infecções;

– Não ingerir bebida alcoólica, álcool, querosene, gasolina ou fumo no intuito de tirar a dor, pois além de não agir contra o veneno, ainda poderá causar complicações no quadro clínico;

– Não colocar gelo ou água fria no local da picada, pois acentua a dor.

Fontes:

  1. CVE – Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”. Disponível em: www.cve.saude.sp.gov.br
  2. Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto Secretaria da Saúde, Divisão de Vigilância Ambiental em Saúde.

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