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O homem que amava as mulheres ganha homenagem

Por Luiz Carlos Merten

Emílio Dantas move-se com desenvoltura no set de Todas as Mulheres do Mundo. O cenário reproduz a casa de Paulo. “Ali ainda está a barra de exercícios de Maria Alice. Ela é bailarina”, conta Emílio/Paulo. O cinéfilo que lê o texto nem precisa pesquisar no Google. Se ligou o título e os nomes chegou facilmente ao clássico de Domingos Oliveira, de 1967. A minissérie que está sendo gravada nos estúdios da Globo começou a nascer quando Domingos ainda estava vivo. Depois de sua morte, em março, tornou-se mais urgente – necessária. Uma homenagem. Jorge Furtado é o autor. “Domingos foi e ainda é meu mestre. Escrevia com leveza sobre coisas profundas, investigava a alma e os sentimentos humanos. E fez isso numa obra extensa, que atravessa décadas e deixou marcos no cinema, no teatro e na televisão.”

Todas as Mulheres – a série – terá 12 capítulos. Bebe na fonte da obra de Domingos, em peças e filmes, cujos direitos foram adquiridos – e os títulos selecionados – com ele ainda em vida. O homem que amava as mulheres, e dizendo assim remete a François Truffaut, a quem ele podia ser comparado. Ou a Woody Allen, o Woody Allen brasileiro. Não – era Domingos. “O Paulo apaixona-se com facilidade, mas não é um galinha. O que ele não consegue resistir é ao seu encantamento pelas mulheres. Está apaixonado, mas, de forma quase instantânea, é capaz de se apaixonar por outra. Um gesto, um sorriso, um perfume conseguem desestruturá-lo.”

Jorge, que também tem uma carreira sólida no cinema e na TV, poderia muito bem ser o autor completo, escrevendo os episódios e dirigindo. Mas ele achou que seria uma boa ideia chamar uma mulher para colaborar com ele no roteiro (Janaína Fischer) e outra para a direção. “Me pareceu que, nesse momento de afirmação que estamos vivendo, uma mulher refletisse sobre um homem que simplesmente não consegue resistir às mulheres.”

Entrou em cena a jovem Patrícia Pedrosa. Com todo respeito, ela ainda tem cara de menina, mas possui currículo e é focada. “Fiz minha lição de casa e li tudo, vi tudo – bem, quase tudo, porque Domingos produziu muito. Mas produziu com qualidade, sem se perder, deixando uma marca autoral. Acho que é isso que todos nós queremos, ao trabalhar com mídias massivas como cinema e TV ” Os 12 episódios acompanham o encontro de Paulo e Maria Alice, a separação, as outras mulheres, os amigos. E Paulo tem um cachorro, o Oliveira, que vai conquistar o público.

Patrícia mostra as fotos – Oliveira ainda não chegou ao set, e neste dia, neste momento, só estão Emílio Dantas e os integrantes da equipe técnica. Emílio está diferente, com o cabelo levemente cacheado. “A Patrícia é f…, ela nos queria, ao Matheus (Nachtergaele) e a mim, mas diferentes.” O repórter concorda, já viu as fotos de Matheus. Está mais grave, mais sério. Cabral, é o personagem, é outro romântico. Viveu um grande amor e agora está solitário. O repórter arrisca – tem algo do Castor, o rei da fossa de Edu, Coração de Ouro, de 1968?

Não, Cabral não é o Castor, mas talvez seja Paulo num outro estágio da vida. Lília Cabral faz a mãe e em conversa com o repórter, no lançamento de Maria do Caritó – em cartaz nos cinemas – não se furtou a comentar. “O Emílio é um doce, e a Patrícia (a diretora) é muito talentosa.” Maria Ribeiro, que faz uma das mulheres na vida de Paulo, redobra o elogio ao encontrar o repórter na exibição de seu documentário Outubro – aliás, belíssimo – na Mostra. “Adorei fazer, pena que foi uma participação episódica. Você viu o Shippados? Nãããooo? Você ia adorar porque a Patrícia entendeu perfeitamente a proposta da Fernanda Young e do Alexandre Machado de criar uma relação moderna, baseada em aplicativos e redes sociais.”

Martha Nowill, que faz a amiga e confidente, agrega: “Vai ser o máximo”. Patrícia, aos 35 anos, já ligou seu nome a sucessos como Mister Brau, outra criação de Jorge Furtado, e Cine Holliúdy – A Série. De cara, ela quis radicalizar a homenagem a Domingos Oliveira. “Queria muito que fosse em preto e branco, como o filme, mas não dá, né? Então, o que fizemos foi reduzir a paleta, fazendo alguma coisa, assim, meio preto e branco em cores.”

O colorido no set é suave, muitos tons terrosos, nada muito vivo A direção de arte é exemplar na criação da casa de Paulo – parece tudo tão real. “E é”, observa Emílio Dantas. “A Patrícia, ao descobrir que eu gostava de desenhar, fez questão de ampliar desenhos meus e colocar nas paredes, porque o Paulo é designer.” Patrícia diz, de seu ator: “Você trabalha com ele e logo percebe que esse homem (Emílio) nunca fará mal a uma mulher”. E Jorge: “O Emílio já chegou avalizado pela mulher dele, na vida. Todo mundo ama Fabíula Nascimento, e se ela ama o cara, poxa, tá recomendado”.

Uma palinha sobre a admiração de um autor (Jorge) pelo outro (Domingos). “Tem uma criação dele sobre um homem que está morrendo e pede para falar a sós com o genro. E lhe pede que vá entregar um dinheiro à amante. O genro vai e se apaixona pela amante do sogro. ‘Domingos, isso dava uma comédia genial’, lhe disse. E ele: ‘Não, é um drama’. Domingos tinha essa compreensão infinita pela fragilidade humana.” Ah, sim, Maria Alice é interpretada por Sophie Charlotte, que virou musa de Domingos em BR 716.

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