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Apple TV+ vem mais enxuto

Por Mariane Morisawa, especial para o Estado

Mais HBO, menos Netflix. Essa parece ser a estratégia da Apple, que demorou, mas na briga do streaming com o lançamento do Apple TV+ em mais de 100 países, inclusive o Brasil. Ao preço de R$ 9,90, o serviço começa com quatro dramas, três infantis e uma série documental de natureza – um número econômico se comparado às centenas de opções disponíveis no gigante do streaming, a Netflix, que ainda se apoia majoritariamente em catálogo, ou seja, séries e filmes antigos. “Estamos focando apenas em conteúdo original de alta qualidade”, afirmou ao jornal The Los Angeles Times Jamie Erlicht, que veio da Sony para tocar o Apple TV+ com Zack Van Amburg.

A Netflix, claro, não é a única concorrente. Além do Amazon Prime Video, atrelada a uma série de serviços da gigante do comércio eletrônico, o Apple TV+ vai disputar espaço no tapa com outros pesos-pesados da indústria do entretenimento. O Disney+ entra no ar nos Estados Unidos, Canadá, Holanda, Austrália e Nova Zelândia no dia 12 deste mês, com um catálogo fortíssimo composto dos filmes da Pixar, Marvel, Lucasfilm, Disney e alguns da Fox, Os Simpsons, séries da National Geographic e de um monte de originais, incluindo The Mandalorian, de Jon Favreau, passado no universo Star Wars. Ano que vem chegam ao mercado americano a HBO Max, que junta os catálogos da HBO e da Warner e promete originais de apelo, como House of the Dragon, que se passa antes dos acontecimentos de Game of Thrones, e Peacock – plataforma da NBC-Universal. Conseguirá a Apple, uma gigante da tecnologia, mas sem experiência em entretenimento, concorrer de fato com os titãs do cinema e da televisão?

A empresa não está economizando, com previsão de investimentos entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões e contratação de nomes como Steven Spielberg, Oprah Winfrey e J.J. Abrams. Ainda está longe dos US$ 15 bilhões anuais da Netflix, mas é um valor considerável para quem tem estimados 30 projetos em desenvolvimento. Um dos carros-chefes é The Morning Show, produzida e estrelada por Jennifer Aniston, em seu primeiro papel na televisão desde Friends, e Reese Witherspoon, que teve duas temporadas encomendadas de cara, ao custo presumido de US$ 240 milhões – um fortuna para um drama sem cenas de luta ou reconstituição de época.

The Morning Show é baseado no livro de não-ficção Top of the Morning, de Brian Stelter, sobre as intrigas de bastidores nos programas matinais da televisão americana. Na série, Jennifer Aniston é Alex Levy, pega de surpresa pela demissão de seu companheiro de bancada de muitos anos, Mitch Kessler (Steve Carell), por assédio sexual – uma história que lembra o caso de Matt Lauer, apresentador do programa The Today Show, na rede NBC, por 20 anos. “A série existia antes de acontecer o Me Too”, explicou Aniston em entrevista coletiva à imprensa, em Los Angeles. “Depois do Me Too, a conversa mudou drasticamente. Sentamos e conversamos muito sobre o tom e queríamos que fosse cru, honesto, vulnerável e complexo, nada preto ou branco.”

A saída de Mitch é uma oportunidade para o chefe, Cory Ellison (Billy Crudup), tentar se livrar de Alex, que ele considera “velha e sem graça”. E do nada aparece Bradley Jackson (Reese Witherspoon), uma repórter cheia de paixão e sem papas na língua de uma emissora local. No ambiente altamente competitivo de um programa matinal, a relação entre Alex e Bradley é o centro de The Morning Show, que confia muito na força e carisma das duas atrizes principais.

Witherspoon disse que não ficou com medo de explorar um conflito entre duas mulheres. “Existem muitos tipos diferentes de relações entre mulheres, nunca explorados”, disse. “Alex enfrentou um sistema em que mal havia espaço para ela, então se sente sortuda de ser a única mulher ali. E minha personagem chega falando que uma mulher só não é suficiente. As duas cresceram em momentos diferentes e têm ideias diferentes do que é o feminismo.”

Estar presente na estreia de um serviço novo de streaming é empolgante, disse Witherspoon. “A realidade emergindo das redes sociais e das informações que vêm do streaming é que o público está interessado em pessoas de diferentes idades e origens e etnias. Sou muito grata aos serviços de streaming, porque eles mudaram totalmente a minha carreira.”

Os outros dramas que estreiam no lançamento do Apple TV+ são bem diferentes de The Morning Show. See, estrelado por Jason Momoa, criada por Steve Knight (Peaky Blinders), é um drama num futuro distópico em que os poucos sobreviventes de um vírus são todos cegos. Baba Voss, líder da tribo Alkenny, precisa proteger os filhos gêmeos, que podem enxergar e são perseguidos pela rainha Kane (Sylvia Hoeks). A série tem seus altos e baixos, mas cria um universo curioso e faz bom uso da deficiência de seus personagens, inclusive nas cenas de luta. Dickinson, com Hailee Steinfeld, é um drama moderninho de época sobre a poeta Emily Dickinson. A série criada por Alena Smith segue os passos da Maria Antonieta de Sofia Coppola, usando rap e música eletrônica num cenário do século 19, mas não empolga. Em breve, chega também Servant, produzida por M. Night Shyamalan, sobre uma babá contratada por um casal em Nova York, numa trama cheia de mistérios e reviravoltas.

A qualidade das séries é em geral boa, mas nenhuma parece ter o potencial de público de um Game of Thrones ou de qualidade como Os Sopranos, tomando a HBO como espelho. Ainda é cedo para saber se, no atual ambiente saturado da televisão, com mais de 500 séries no ar, “bom” vai ser suficiente para alcançar os 100 milhões de assinantes em três anos ou 130 milhões até 2025, como preveem algumas consultorias para o Apple TV+.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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