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Seguidos ou seguidores?

O Brasil é laboratório para instigantes experiências antro­pológicas. Num mesmo território, às vezes no mesmo espaço físico, exibe a convivência entre estágios muito diversos na escala civilizacional. É o país em que 265 milhões de mobiles – entre celulares, smartphones, tablets, notebooks e com­putadores pessoais – servem a 209 milhões de habitantes. A conclusão inafastável é a de que alguns indivíduos têm mais do que um aparelho de conexão permanente com o mundo.

Nesse ambiente, as redes sociais constituem o canal para receber expectativas, angústias e inseguranças da sociedade. Não há mais diferença de estamento social. Vê-se catador de resíduos sólidos – a salvação do planeta, embora originada de um estágio miserável da dignidade humana – até mendigos a manusear com desenvoltura seus celulares. Daí o sucesso daqueles munidos de talento para se comunicar.

Abel Reis, presidente do Grupo Dentsu Aegis Brasil, escre­veu um livro, “Sociedade.com” (Editora Arquipélago), em que esse aspecto é desenvolvido. Para ele, “a dinâmica das plata­formas sociais divide seguidores e influenciadores. As redes criaram personalidades capazes de engajar pessoas – o que mostra que a função do formador de opinião é insubstituível. Nas redes, todo mundo pode ser um Publisher, mas isso não quer dizer que todo mundo tenha alcance. Há dois grupos: alguns seguem e outros são seguidos”.

Os que são seguidos conseguem uma fidelidade cativa de adeptos. Tanto que, num país em que não se lê, em que as editoras e livrarias estão cerrando as portas, os poucos livros na relação dos mais vendidos são de youtubers. Estes são os que hoje “fazem a cabeça” da juventude.

Lastimável que os governos encarem a situação como um ônus e não como investimento. A pressa na obtenção de resultados, que constituem alavanca para eleições ou para a nefasta reeleição, impede a acolhida à criatividade, ao empre­endedorismo, ao protagonismo, à autonomia do diretor e do professor vocacionado.

Prossegue-se na mesma linha superada de aulas pre­lecionais desprovidas de sedução, incapazes de motivar o educando à curiosidade. Se o professor se convertesse num provocador, num desafiador, os resultados seriam outros. Não estaríamos na rabeira do mundo e no fracasso de nossas redes públicas e privadas.

Para Abel Reis, o nosso tempo exige “generalistas, pesso­as capazes de estabelecer diálogos com diferentes áreas do conhecimento. E isso exige sensibilidade, empatia e conexão a aspectos da cultura, da psicologia e da sociologia. Pessoas com essas características tenderão a se sair melhor nos novos ambientes profissionais do que as enclausuradas no conheci­mento especialista”.

Ninguém está alertando os jovens de que emprego é algo em extinção. Para sobreviver, há de se explorar aquilo que a automação não puder fazer. É cada vez menor o espaço reser­vado ao ser humano. O que fazer com a legião dos desempre­gados e desqualificados para as exigências de uma sociedade inteiramente digital?

Quem tiver juízo deve mergulhar nessa reflexão e exigir de todos – Estado, empresariado, Universidade, mídia, sociedade civil – uma atuação mais consciente, sob pena de contribuir para a aceleração do caos e de uma pavorosa imprevisibilidade.

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