Autoridade impoluta dançou
Nos tempos idos da Ribeirão Preto em que todos se conheciam e autoridades exerciam suas funções de maneira fechada, sem concessões de proximidades com quem lidavam, havia uma distância entre tais impolutas pessoas que se utilizavam de um português gongórico e citações latinas para demonstrarem conhecimento e superioridade. Havia um personagem que se vestia com terno, gravata borboleta e outros componentes mais gabaritados da vestimenta. Não se furtava de participar de congressos e eventos de sua categoria especial. Sempre sério e carrancudo na cidade e aberto e sorridente dentre os iguais, fazendo algumas concessões como contar piadas e soltar algumas palavras não convencionais.
Evento no Rio
Essa autoridade foi participar de uma convenção no Rio de Janeiro, proximidades da época carnavalesca onde a “Cidade Maravilhosa” ferve e não possui limites. Depois de horas de debates exaustivos os colegas o convidaram para uma visita a um restaurante onde o forte era um crooner muito elogiado e uma orquestra que unia o ato dos pratos do restaurante com a alegria das musas das escolas de samba que se reuniam naquela casa de shows.
Dança autoridade dança
Em dado momento os colegas do gravatinha saíram dançando com suas esposas e ele que estava só ficou na mesa ouvindo o cantor e a orquestra animada em esfuziantes malabarismos. Uma jovem muito bonita e formosa que se encontrava em uma mesa ao lado com uma família deu sinal para ele com ela dançar. Tímido e com temor de ultrapassar as linhas do aceitável para com sua mulher e filhos relutou, mas acedeu a chamada da gentil senhorita. Ela era rainha da bateria de uma escola de samba e deu um show de contorcionismo e competência. Chamou a atenção de toda a casa. Ele somente rodopiava meio sem jeito e era acompanhado pelos colegas de outros estados. Em dado momento o cantor para a orquestra e os tambores rufam para anunciar algo importante. O crooner não contendo a alegria, anuncia: “É com muita satisfação que anuncio a presença da ilustre autoridade da minha cidade de Ribeirão Preto que está com ‘sua esposa’ gozando da nossa convivência”. Algumas mesas de ribeirão-pretanos se destacaram e os aplausos tomaram conta de toda a casa de shows A ilustre autoridade ficou pálida, estática no meio do salão, sem nada entender. A jovem senhorita que foi vivamente aclamada se desmanchava em agradecimentos. De mansinho ele “escorregou” para a mesa mais próxima, que não era a sua e sentou, procurando esconder o rosto. Seus colegas vieram cumprimentá-lo elogiando suas qualidades de dançarino. Nesta hora ele ficou em dúvida se era ou não uma pegadinha. Sorte que não havia internet e as notícias demoravam ou nem chegavam a Ribeirão Preto. Nunca mais foi a convenções e manteve a sua sobriedade, sempre com medo de que a sua escapadela inocente fosse descoberta
*O casal viveu feliz para todo o sempre.